Como em muitos outros setores de atividade nacional, Portugal parece estar a deixar-se ficar para trás, relativamente aos mais recentes e inovadores temas educativos e culturais, que atravessam a atualidade internacional.
A questão é que, nada parece estar a ser feito, como sucede noutros países, no que concerne a olharmos com mais atenção e com um novo cuidado para as partes traseiras.
À partida, tal questão pode parecer sumamente bizarra a quem nos lê, contudo, o certo é que por esse mundo afora, tem havido várias manifestações educativas e culturais demonstrativas, de que provavelmente não o será assim tanto.
As perspectivas inovadoras surgem sempre de qualquer lugar, porém, nos últimos tempos, é sobretudo centradas no lado de trás, que as mais originais e arrojadas se parecem estar a focar.
Trazer as partes traseiras para onde se as veja, aparenta ser uma necessidade cultural e educativa premente, havendo quem lá por fora, já se tenha dado conta disso e, consequentemente, lançado mãos à obra e agir em conformidade.
Desde a literatura infantil, até às mais prestigiadas e ancestrais instituições culturais, são muitas as iniciativas para dar a ver claramente as partes traseiras, essas para as quais normalmente não se olha, ou, olhando-se, se o faz disfarçadamente e de um modo subtil ou levemente envergonhado.
A nossa relação civilizacional com as partes traseiras constitui uma espécie de tabu, que dura há demasiados séculos e urge desmitificar, sendo esse um real desígnio para o século XXI.
Em boa verdade, por que razões hão de as partes posteriores ter o palco principal para si e serem vistas como nobres e decentes, enquanto as traseiras ficam na sombra e são considerados algo de pouco conveniente para se olhar, se conversar e se trocar umas ideias?
Graças ao atual esforço de algumas vanguardas educativas e culturais internacionais, as retaguardas parecem agora estar a sair do esquecimento a que estavam votadas e passaram a ser tema recorrente de livros, estudos, ensaios e debates.
Nesse contexto, há que aplaudir uma exposição recentemente inaugurada em Madrid, no maior e mais conceituado dos museus de Espanha, o Museu do Prado. A mostra intitula-se “Reversos” e, como o próprio nome nos indica, dá-nos a ver partes traseiras. No caso, os reversos de obras de arte, mais concretamente de pinturas.
Quem nos lê, pode questionar-se sobre qual o real interesse, que pode ter ver o lado de trás dos quadros, no entanto, o interesse está lá, bem patente, é só olhar.
Pense-se por exemplo num quadro de 1731 da autoria de Martin van Meytens. A obra intitula-se “Monja ajoelhada” e está presente na já referida exposição de Madrid. O que vemos na parte frente da pintura, e o que vemos na parte de trás, são coisas substancialmente diferentes, mas ambas terão grande interesse para os apreciadores de obras de arte.
Quem quiser ir espreitar de que quadro falamos, é só clicar:
Se alguém foi espreitar o quadro, e a propósito da exposição “Reversos”, pensar que os nossos vizinhos espanhóis são uns perversos, fique desde já a saber, que nos Estados Unidos da América, em Nova Iorque, houve há pouco tempo, uma outra mostra também completamente dedicada ao mesmo assunto.
A mostra chamava-se “Rear Views” e anunciava-se como “A show About Butts”. Como os nossos leitores compreenderão, vamos escusarmo-nos a fazer uma tradução, pois se o fizéssemos, perder-se-ia toda a graça e poesia da língua original.
Em Nova Iorque estavam expostas muitas partes traseiras, havia obras de arte de mais de sessenta artistas de épocas distintas. Entre estes, constavam gente tão importante para a História da Arte como Francis Bacon, Andy Warhol, Degas, Klimt e muitos outros.
As partes traseiras retratadas podem ou não despertar a nossa sensibilidade estética, ou até provocar outro tipo de despertares, o que é certo, é que a exposição de Nova Iorque foi um enorme sucesso de crítica e público, o que demonstra claramente, que mesmo entre os puritanos americanos, há um claro interesse por tais temáticas.
O New YorK Times dedicou-lhe um belo artigo, que abaixo fica, para todos os que sentirem curiosidade sobre este assunto:
Mas não pensem que estas novas tendências, se referem tão-somente a adultos, também para os mais pequenos há imensas novidades. Cumpre-nos destacar uma, vinda de Espanha, um autêntico fenómeno editorial na área da literatura infantil, “El libro de los traseiros”.
A obra analisa detalhadamente os ditos, sob muitos e diversos ângulos, e o que mais importa, é que a criançada adora.
Mais uma vez, que ninguém pense que é só a pequenada espanhola que se interessa pelo tema, em França, Inglaterra e Itália, as respetivas traduções de “El libro de los traseros”, também tem estado a bombar.
Poderíamos continuar a dar exemplos de outras iniciativas educativas e culturais centradas nas partes traseiras por esse mundo fora, mas dito isto, o que está ser feito neste capítulo em Portugal? Que tenhamos descoberto, nada.
O mais que há, são coisas já muito antigas como um macaco com o rabo cortado e alguns rabos de palha. Assim sendo, que este nosso humilde contributo seja um incentivo para que todos agarrem neste assunto e façam com que Portugal não se deixe ficar para trás e tenha iniciativas importantes relativamente às partes traseiras. A educação e a cultura exigem-no.
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