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Professores, vão mas é dormir. O vosso mal é sono.

Como se sabe, a melhor cura para a insónia é dormir muito e, aparentemente, a falta de sono é um dos problemas que mais afeta os professores. Para o sabermos, bastaria ouvirmos o que quotidianamente dizem, todavia, se quisermos ser cientificamente rigorosos e não confiar apenas nas nossas impressões, mais não necessitaremos do que fazer uma breve pesquisa na internet e logo encontraremos muitos estudos que amplamente comprovam tal facto.

Se porventura alguém tiver curiosidade em saber mais sobre este tema, há uma tese académica muito completa sobre o assunto intitulada “Insónia, depressão e qualidade de vida em professores”. É uma boa leitura de mesa-de-cabeceira. Aqui fica o link:

https://repositorio.ipv.pt/handle/10400.19/1757


Pelos vistos em Portugal, a classe docente dorme pouco e mal. Mas dito isto, que mais há a dizer? Na verdade, há muito mais para dizer. Se aprofundarmos mais um pouco a nossa pesquisa, logo descobriremos que há milhares de especialistas com óptimos conselhos, para ajudar a dormir melhor, todos os que ganham a vida a leccionar.

 

Ele há de tudo e para todos os gostos, desde conselhos para se ler um livro ao dormir, até outros tantos para se fazer ginástica umas horas antes de se ir deitar. Pelo meio, também se aconselha a que haja cuidado com o que se come. Nada de feijoadas, chispalhadas, leitões à bairrada, caldeiradas ou demais comidas pesadas, à hora de jantar. Telemóveis, tablets e computadores, isso, nem pensar. Por fim, há igualmente quem recomende Yoga ou um banho quente. À falta de melhor, pode ainda recorrer-se aos métodos tradicionais e contar ovelhas ou fardos de palha…

O que nós temos a dizer a todos esses milhares de gurus do sono que pululam pela internet e não só, é que conhecemos muita gente docente que já tentou tudo isso, sendo que, o proveito obtido foi pouco ou nenhum.

 

Há muito quem tome comprimidos e isso parece funcionar. Mas todos aqueles docentes que querem dormir longamente, mas de um modo natural e sem recorrer a um medicamento, para esses desgraçados, parece não haver uma verdadeira solução.

 

Felizmente que existe este blogue, pois temos uma solução aqui mesmo na palma da mão. Seguindo as nossas indicações, qualquer docente adormecerá facilmente e sem químicos ter de tomar. Nem sequer precisará de adquirir um bom colchão, é suficiente que siga a nossa prescrição.

 

A primeira coisa que o docente precisa ter em mente para dormir descansadamente, é que não se deve ralar. Se a turma inteira só faz barulho, se todos os alunos se estão completamente nas tintas para o que se pretende ensinar, sendo, portanto, as respetivas notas uma grande miséria, de que valerá ao docente apanhado em tal contexto andar ralado, ir para a cama chateado e não ter um sono sossegado? Na verdade, não lhe vale de nada.

 

Não lhe vale de nada, porque das duas uma, ou os problemas causadores de tão triste situação vão muito para além da escola e da sua função e têm origem na disfuncionalidade das famílias, na degradação dos meios sociais e na ausência de valores éticos e morais das atuais sociedades, nas quais o consumo imediato é tudo e o esforço é nada, ou se pelo contrário não for isso, o mais certo é o professor ter errado na sua vocação. Ou seja, tal docente poderá ter talento para muitas coisas na vida fazer bem, mas para dar aulas é que se calhar jeito não tem.

 

Em qualquer dos casos, o certo é que não há nada a fazer, por consequência, de que vale ao docente andar a pensar nisso, estar aborrecido e mal dormido? Não merece a pena. Como é uso dizer-se, o que não tem solução solucionado está.

 

Com efeito, se o problema doa alunos é de âmbito familiar e/ou sócio-cultural, o mal será da mãe, do pai, da falta de psicólogos, de assistentes sociais, de terapeutas, de mediadores e das demais estruturas de apoio, assim como, das vicissitudes ético-morais e estruturais do mundo atual.

Em síntese, nada disto é coisa que um docente possa resolver por si mesmo, pois que são problemas vastos e extensos, que extravasam largamente qualquer contexto escolar.

 

Já se o problema é mesmo de falta de vocação ou de jeito do professor, também não é por causa disso que uma pessoa se vai andar a martirizar, pois assim como assim, quem dá o que tem, a mais não é obrigado. Feitas as contas, não há porque não dormir bem.

Mas imaginemos agora um docente que não tem problemas nenhuns na escola e também tem jeito e talento, sendo esse o contexto, tudo lhe corre às mil maravilhas, só que, no entanto, dorme mal na mesma.

 

Parte-se do princípio, que para este exercício de imaginação, não há pretextos na vida íntima desse docente que lhe perturbem o sono, a insónia advém-lhe tão-somente por estar sempre ansioso em regressar na manhã seguinte à escola para lecionar.

 

É alguém tão dedicado, que está noite fora continuamente a pensar em atividades a desenvolver com os alunos e tem extremo prazer em o fazer.

Gosta tanto do que faz e tem tanto jeito, que quer estar permanentemente a fazê-lo e o tempo que passa a dormir parece-lhe um desperdício, pois só quer preparar e dar aulas. Quando eventualmente se decide a ir dormir um pouco, quase nunca tem sono.

 

A vida deste docente correr-lhe-ia bem, não se desse o caso de, por dormir tão pouco, começar a ficar cansado, a andar olheirento, a ter cada vez mais frequentemente ataques de impaciência e ocasionalmente se esquecer de coisas simples, como por exemplo quem foi o primeiro rei de Portugal ou onde pôs as chaves do carro.

 

Mas também para este caso, nós temos uma boa solução. Uma solução que é também um apelo às direções dos agrupamentos de escolas, às condenações e até ao próprio Ministério da Educação.

O que há a fazer com todos estes docentes, que por terem gosto em lecionar e estarem constantemente a preparar as aulas e ansiosos por voltar à escola, é pô-los a preencher papéis, a fazer relatórios, a preparar planos e tudo o mais que possa fazer com que passem a gostar menos da escola.

 

Em casos mais graves, ou seja, em gente que gosta imensamente de ser docente, não é mal-visto fazer-lhes ir a duas ou três reuniões por semana. Com todos estes procedimentos, é mais do que certo que os professores vão começar a ligar menos à escola, a dedicar-lhe menos tempo e, por consequência, vão para a cama mais cedo e irão certamente dormir melhor.

 

Como é evidente, com estas ações não se pretende aplicar nenhum castigo, mas sim implementar uma autêntica medida de saúde pública, cuidando do sono da classe docente, eliminando as insónias.

E pronto, apresentámos as nossas soluções. Quem as quiser experimentar, terá certamente excelentes resultados. No entanto, para quem não quiser somente dormir, mas também sonhar, deixamos-vos uma lullaby, ou seja, uma doce canção de embalar…  


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