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Que grande salganhada é Portugal: acompanhamento individual, telejornal, Marquês de Pombal e…Marcelo!

 


Possivelmente, aqueles que nos leem, sabem perfeitamente o que é o acompanhamento individual, nomeadamente, no que diz respeito a alunos com dificuldades de aprendizagem. Contudo, uma coisa vos dizemos, tivemos oportunidade de assistir a um acompanhamento individual, como jamais na vida tínhamos visto.

Demitiu-se ao dia ontem o primeiro-ministro e portanto, agora todos aguardamos que o presidente da república se pronuncie. Nisto, pela noitinha, o dito decide ir passear a pé pelas imediações de Belém.

Aparentemente, é um costume que o homem tem. Depois de jantar, gosta de esticar as pernas e ir apanhar ar. Faz bem. Assim sendo, como sempre, saiu do palácio presidencial, percorreu os jardins em redor, contornou o CCB, deu mais umas quantas voltas, regressou, foi-se aconchegar e fim da história, mais nada a dizer.
Digamos que o percurso demorou sensivelmente uns bons quarenta e cinco minutos, mais coisa menos coisa. Sendo que, em todo este tempo foi acompanhado por uma série de jornalistas, que de microfone em riste, em vão tentaram obter de si uma qualquer declaração.
A primeira figura do estado anunciou logo à partida, ou seja, mal pôs os pés na rua, que só falaria na próxima quinta-feira, mas isso de nada lhe valeu, pois os repórteres queriam à viva força que dissesse algo. Coisa que ele não fez, apesar da muita insistência.
A repórter da CMTV foi a mais persistente, mas não foi a única. A jornalista da CMTV fez tudo o que podia, acompanhando o Marcelo a todo o momento, tentando meter conversa com qualquer assunto.
Interpelou o presidente acerca das poças de água que estão no chão, do tempo que faz, se tem chovido ou não ao longo dos últimos dias e, inclusivamente, sobre a humidade e os bancos de jardim.
Foi um momento informativo de rara qualidade, digamos que foi mesmo extraordinário. Após esta reportagem, ficámos a saber exatamente o mesmo que sabíamos antes dela, ou seja, que o presidente vai falar ao país na quinta-feira.
Que vários canais televisivos se tenham longamente mobilizado para fazer o acompanhamento dos passos do presidente lá pelos lados de Belém, para no fim se ficar a saber, o que já antes se sabia, é coisa que a nós só nos pode espantar.
Abaixo fica o vídeo com os primeiros cinco minutos do que sucedeu, sabendo nós que este filme se prolongou com transmissão em direto, pelo menos por mais uma boa meia-hora:


Quem viu o vídeo, percebe agora o que dissemos no início, acompanhamento individual como este, nunca tínhamos visto ninguém antes fazer. Dito isto, a questão que nos surge é, mas para quê isto? Qual é o propósito de acompanhar individualmente o presidente, ao longo de tão largos momentos, quando era certo e sabido que ele nada iria dizer?
Em boa verdade, não conseguimos encontrar uma resposta minimamente coerente para esta questão, a não ser que o objetivo dos jornalistas televisivos, seja só encher o tempo de emissão seja lá com o que for.
Se assim é, os jornalistas televisivos têm muito a aprender com os professores. Com efeito, na área da educação, um acompanhamento individual não é tão-somente fazer seja lá o que for, mas sim implementar medidas e estratégias que permitam aos alunos com mais dificuldades aprender.
Imaginemos um professor, que perante um aluno com dificuldades, faz o que jornalista da CMTV fez, ou seja, insiste e insiste sempre no mesmo. O mais certo é que a insistência em nada dê, e que o aluno ande pela escola simplesmente por ali a passear, tal e qual o presidente fez.
Claro que os professores sabem o que têm a fazer, no entanto, se algum porventura não o souber, e insistir e insistir com um aluno, com a mesma estratégia sem resultado algum, o mais que se pode dizer, é que tal aluno teve um “Azar dos Távoras”,
Os Távoras era uma família do tempo do Marquês de Pombal, que injustamente foi acusada de tentar assassinar El Rei D. José. Infelizmente, nunca conseguiram provar a sua inocência, e a maior parte deles acabaram por ser condenados, tendo sido executados, ali para os lados de Belém.

O sítio concreto da execução, ainda hoje lá está, fica num beco perpendicular à Rua de Belém. Ao que se diz, o Marquês terá mandado salgar o sítio, de modo a que nesse local, nem mais uma erva sequer jamais nascesse.
O passeio de ontem do nosso presidente, teve uma última etapa, justamente junto a um padrão que assinala o sítio onde os Távoras foram executados: o Beco do Chão Salgado.
É um sítio bonito para aos domingos se ir passear, come-se um pastel de Belém. dobra-se a esquina, e uns poucos passos depois, já lá se está.


Terminamos com uma sugestão de leitura, “As Luzes de Leonor”, um grande romance onde se conta toda esta história.

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