Uma vez entrados no novo ano, estávamos ansiosos por ir verificar as noticias dos jornais, para percebermos se neste primeiro dia já havia sintomas de que em 2024, se tinham finalmente dado início aos loucos anos 20 do século XXI, tal como foi há uns tempos previsto, pelos maiores especialistas da matéria.
Recordamos-vos, que em anteriores publicações deste blogue, nos dedicámos a comentar o que o emérito professor de Yale, Nicholas A. Christakis, o mais prestigiado desses especialistas, previu nos seus estudos. A saber, que em 2024 iniciar-se-iam os novos “loucos anos 20”, tal e qual como os de há um século, e que portanto, daqui para a frente, acontecerão abundantes mudanças e transformações por todo o mundo em todas e nas mais diversas áreas.
Neste primeiro dia do ano esquecemos Portugal e fomos antes dar uma vista de olhos pela imprensa internacional. Descobrimos imediatamente, que pelo mundo fora, a loucura já está aí. Os sinais ainda são ténues, mas para um primeiro dia, não está nada mal, há sintomas loucos bastante consistentes, um pouco por todo o lado.
Que dizer por exemplo de um calendário, que logo ao primeiro dia do ano já está fora de prazo? Ou, de um presidente, que incita as gentes a beber? Ou então, de miúdos que vão à escola, mas para se sujarem todos de lama?
Todas estas loucuras, foi o que vimos nos sites dos jornais internacionais, logo neste dia inicial de 2024. A coisa promete.
Decidimos começar por Itália, e para tal, recorremos ao jornal La Repubblica, um dos principais diários transalpinos. Deparámo-nos então, com a notícia de que há uma proposta para a aumentar de doze para treze, o número de meses do ano. Bem louco, ou não?
A proposta é do partido político Movimento 5 Estrelas. Para quem eventualmente não o saiba, este não é um partido qualquer, isoladamente, ou seja, sem coligações, é o mais votado de Itália.
Já conquistou várias importantes autarquias, entre as quais, a de Roma e a de Turim. Em 2013 e 2018 foi o partido com maior votação nas eleições nacionais, e detém a presidência de vários parlamentos regionais, como por exemplo o da Sicília.
Segundo o líder do Movimento 5 Estrelas, Beppe Grillo de seu nome, o calendário de doze meses é completamente inadequado, anacrónico até. Não se encontra em consonância com o nosso tempo, está absolutamente desatualizado.
A tese é a de que, o calendário em vigor, já tem mais de quatro séculos e não se adapta aos tempos modernos. Acrescenta ainda Beppe, que este atual calendário, o gregoriano, é ele próprio uma mera reformulação de um antigo calendário, o juliano, sendo que este último, por sua vez, tem mais de dois mil anos.
Feitas as contas, o facto é o que o nosso calendário parece já não nos servir: “Oggi, siamo dunque ancorati ad uno schema anacronistico, nato sotto una società prescientifica, teocratica, con un’economia feudale”.
Embora o italiano seja muito mais melodioso, arrisquemos ainda assim, uma tradução para português: “Hoje estamos ancorados num esquema anacrónico, nascido numa sociedade pré-científica, teocrática, com uma economia feudal.”
A proposta de Beppe é simples, 13 meses por ano, todos iguais, cada um com 28 dias, ou seja, 4 semanas certas. No fim, um dia a mais para as festas de passagem de ano. Não nos parece mal, estamos contigo Beppe. Se os tempos são loucos e de mudanças, nada melhor que começar pelo calendário. Vamos nessa.
Aqui fica a notícia do La Repubblica, para quem queira aprofundar o assunto:
Mas passemos agora a França e ao clássico jornal Le Figaro, para verificarmos como se estão a iniciar os loucos anos 20 do século XXI por terras gaulesas. O título da notícia que escolhemos é o seguinte, “Dry January: en janvier, fais ce qu'il te plaît (et fiche-nous la paix)”, o que, traduzido para português, daria qualquer coisa deste género, “Dry January: em janeiro, faz o que te aprouver (e deixa-nos em paz)”.
Provavelmente, muitos dos que nos leem não estarão por dentro do conceito “Dry January”. Mas não se preocupem, que não faz mal, nós explicamos. Trata-se de um movimento global, que incentiva as pessoas a deixar de beber álcool durante o primeiro mês do ano. Viram, é fácil explicar em temos conceptuais, o que é o “Dry January”, iupi.
A coisa, o “Dry January”, inspirou-se numa antiga campanha do serviço nacional de saúde britânico contra o alcoolismo. Só que, neste entretanto, deixou de ser uma campanha de saúde pública e transformou-se em algo completamente diferente, ou seja, numa tendência da moda e do “Lifestyle”.
Até quem só água beba, mineral ou da EPAL, e que, vá lá, em dias de festa, talvez se arrisque a ingerir um refrigerante 100% natural, desses sem aditivos nem conservantes, quer ser “cool”, quer ter estilo e isso. Assim, e por consequência, até esses, em janeiro, querem fazer um “Dry January”.
Por todo o lado há agora “Influencers”, que promovem um mês de janeiro de ascese como uma terapia “New Age” e como um desafio do tipo TikTok. Quem os acompanha e segue, aos “Influencers”, bem entendido, acredita que alinha assim os seus chakras com o universo e faz parte de uma elite de “followers”.
Um dos mais importantes pontos para os praticantes do “Dry January”, é publicarem recorrentemente “posts” nas suas redes sociais, de modo a partilharem com todos a sua façanha, ou seja, passarem o mês de janeiro sem beberem álcool.
O Presidente Emmanuel Macron é que não esteve com meias medidas com o “Dry January”, era uma coisa que já o andava a maçar, vai daí, fez saber aos seus concidadãos que bebe vinho todos os dias, ao almoço e ao jantar, “tous les jours, midi et soir “, foi o que lhes disse.
Acrescentou ainda, para que não restassem dúvidas, que se porventura tivesse de passar uma refeição sem beber, isso seria um desalento. Nas suas próprias palavras: “Un repas sans vin est un peu triste”. Dadas as circunstâncias, o “Dry January” em França parece ter chegado ao fim.
Dito isto, percebemos que França não quer andar triste, e que avança velozmente, e até ao mais alto nível, para os novos loucos anos 20 do século XXI. Dá vontade de gritar “Vive la France” e de caminho de citar uns versos soltos do grande romancista e poeta francês, Boris Vian:
Je bois
Systématiquement
Pour oublier tous mes emmerdements
Je bois
Systématiquement
Pour oublier que je n'ai plus vingt ans
Sigamos para outras paragens. Atravessemos o Canal da Mancha e vejamos que notícias se dão pelo Reino Unido, neste primeiro dia do ano. Nesse contexto, chamou-nos logo a atenção a seguinte notícia, do jornal The Guardian, que se centra no que se anda a fazer pela Nova Zelândia, muito concretamente, pelas suas escolas.
Geograficamente, a Nova Zelândia fica muito longe do Reino Unido, mas na verdade, espiritualmente, fica muito perto. A maioria da população é de ascendência britânica, e embora há muito seja um país independente, em termos constitucionais, o seu monarca continua a ser inglês. Atualmente é o Carlos ou o Charles, conforme lhe queiram chamar.
No The Guardian, uma das notícias do dia era a seguinte: “A classroom without walls: New Zealand’s nature schools emphasise mud over maths”. Será que lemos bem? Que a loucura vem a ser esta? Enfatizar a lama em detrimento da matemática? Mas aonde é que está o rigor e a exigência? Estará tudo louco?
Só para que se perceba do que se fala, aqui fica uma fotografia de um dia normal de aulas:
Cremos que a fotografia fala por si. Como não queremos ser exaustivos com explicações acerca das práticas educativas da Nova Zelândia, ficamos por aqui. Mas, antes disso, queríamos aconselhar vivamente a leitura do artigo do The Guardian a todos aqueles que ultimamente, por ocasião da divulgação dos resultados de Portugal nos testes PISA, derramaram abundantes lágrimas e clamaram pelo fim do facilitismo e pelo regresso do rigor e da exigência.
A Nova Zelândia, embora tendo decaindo, como quase todos os restantes países, considerou bons os seus resultados nos testes PISA, pois situa-se entre os países de topo, em 14° lugar, não havendo portanto razão para lamentos e choradeiras.
Portugal também decaiu, como foi amplamente noticiado, lamentado e chorado, contudo, tal como a Nova Zelândia, continua entre os poucos países de topo em termos de educação, em 27° lugar. Todavia, por cá, ninguém se atreve a ser louco o suficiente para enfatizar a lama em detrimento da matemática. Ou será que vai ser agora, nestes novos loucos anos 20?
Enquanto se espera, aqui fica o o artigo do The Guardian:
E pronto, por hoje chega, mudar de doze para treze meses, um presidente que nos aconselha a beber e chafurdar na lama durante um dia de escola, parecem-nos propostas loucas o suficiente para o primeiro dia do ano. Na próxima publicação, encerraremos esta série “Agora é que é: 2024 vai ser a loucura total”, daí para frente logo se vê.
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