E pronto, com esta última e sexta parte, visto que à meia-dúzia é mais barato, chegamos hoje ao final das nossas longas considerações relativas às previsões que apontam 2024, como sendo o ano em que se dará início aos loucos anos 20 do século XXI.
É com um brilhozinho nos olhos que os aguardamos, a esses loucos anos.
É certo que chegam atrasados, pois que a presente década de 20 já começou há uns bons tempos a esta parte, mas, de acordo com os sérios estudos académicos levados a cabo pelos melhores especialistas, 2024 era efetivamente a data marcada, para tal e qual como sucedeu há um século, entrarmos numa louca década.
Assim sendo, e dado serem essas as circunstâncias, agora é seguir em frente e toca a andar. Não há por que hesitar, pois com a longa espera até 2024, já ninguém corre o risco de pôr o carro à frente dos bois. Vamos lá aproveitar o tanto que resta desta louca década e ter ousadia para fazer promessas insanas, traçar projetos levianos e usufruir, isto para que no fim, ninguém se venha a queixar que lhe soube a pouco.
Vamos agora neste texto, ter um profundo momento reflexivo e quiçá, até filosófico. Não raras vezes, a arte como que adivinha o que está por vir. Um dos exemplos mais evidentes disso mesmo, é a obra do pintor alemão, depois naturalizado norte-americano, Max Ernst (1891-1976).
Com efeito, em muitas das suas pinturas, Max Ernst como que antecipou a destruição e o estado ruinoso em que a civilização europeia haveria de ficar após a catastrófica Segunda Guerra Mundial.
Atualmente é fácil olharmos para as imagens de Max Ernst e relaciona-las imediatamente com os horrores dessa grande e longa guerra, no entanto, quando foram realizadas, essas pinturas tinham algo de visionário e premonitório.
Em boa verdade, na aérea da arte, há sempre quem tenha uma sensibilidade mais fina e apurada, conseguindo assim pressentir na atmosfera antes de todos, o que ainda há de vir.
Em síntese, é quase como se certos artistas fossem uma espécie de barómetro. Pressentem e depois representam, o que mais ninguém ainda sente ou sequer vislumbra.
É precisamente por isso, que hoje vamos passar em revista algumas das exposições previstas para 2024. Estamos em crer, que as escolhas dos museus para este ano, serão sintomáticas e nos poderão revelar pistas sobre que clima esperarmos para os próximos tempos. A arte não é bem o IPMA, mas para este género de previsões, dá.
Na imagem abaixo, uma pintura de Max Ernst, “A Europa depois da chuva”.
Soubemos pelos jornais, que no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), uma das exposições previstas para este ano se intitula “Procissão: Louvar e Santificar”.
Soubemos ainda pelos jornais, que foi concebida em parceria com o Manicómio, nome de uma estrutura de apoio à criação de artistas que experienciaram ou experienciam algum tipo de problema psiquiátrico.
Se o que se prevê para 2024, é o início dos loucos anos 20 do século XXI, parece-nos que esta exposição está em consonância com o espírito do tempo. À partida, cremos que é capaz de ser uma bela mostra, que nos poderá levar a percorrer os estranhos caminhos da nossa mente e alargar-nos os horizontes sobre o que por vezes nos passa pela tola.
Quando os tempos são loucos, novos e incertos, a psique agita-se e somos muitos os que tentamos perceber quem éramos nós, quem queríamos ser, e quais as esperanças, que a vida roubou.
Tudo razões pelas quais, a futura exposição “Procissão: Louvar e Santificar”, nos despertou imensa curiosidade e quisemos saber mais. Fomos pesquisar no site do MAAT e nada. Zero.
Descobrimos novamente pelos jornais, que também no MAAT, em 2024, se realizará uma exposição em que se celebram os 50 anos do 25 de abril de 1974. Intitula-se “Hoje soube-me a pouco”.
Aparentemente é uma mostra coletiva que apresentará um conjunto de artistas portugueses que marcaram o período posterior à revolução de abril. É por isso, uma exposição que também parece estar dentro do espírito deste tempo.
Se os anos 20 do século XX foram loucos, não o foram menos os que se sucederam à revolução de abril, e prometem não o ser menos os que aí vêm. Consequentemente, e mais uma vez, tivemos curiosidade e quisemos saber mais. Fomos novamente pesquisar no site do MAAT e nada. Zero.
Zero a zero, foi portanto o resultado das nossas pesquisas no site do MAAT. Quem quiser ter igual experiência e (não) descobrir quais as atividades previstas para 2024, vai ao site do MAAT, seleciona o separador agenda, escolhe a data a partir da qual quer efetuar a pesquisa, por exemplo 25 de abril de 2024, e o resultado que lhe aparecerá será o seguinte: “Sem resultados”.
Abaixo fica o link, aconselhamos vivamente a experimentarem, tem qualquer coisa de imersivo:
Mas deixemos o MAAT e vejamos que outras exposições de arte alguns dos principais museus nacionais nos propõem para este ano de 2024. No site do renovado Centro Cultural de Belém, ao pesquisarmos no separador “Exposições Futuras”, surge-nos subitamente a frase “Este evento já decorreu”. É ir ver:
Vejamos o que sucede no site do Museu Nacional de Arte Antiga ao pesquisarmos o que está previsto para 2024. Surge-nos tão-somente uma pequena seta e a palavra “voltar”. Que na verdade é o melhor a fazer.
Passemos então ao Museu Nacional de Arte Contemporânea, mais conhecido como Museu do Chiado. As palavras que encontramos dizem-nos assim: “Ainda não existe programação para o futuro”.
Digam lá que este passeio pelos sites de alguns dos principais museus nacionais, ainda que sendo um pouco louco, não vos soube a pouco? Foi não foi?
Em conclusão, se por cá, quisermos antecipar através da arte que é exposta, o que vai ser 2024 e o resto da década, o melhor é esperarmos para ver.
Mas se por cá é assim, como será lá por fora? Surpreendentemente, nos sites de alguns dos principais museus internacionais, encontrámos abundantes e fartas informações sobre o que vai suceder em 2024. Estranho, não?
Do que vimos e lemos, escolhemos o que claramente nos antecipa as mudanças, transformações e revoluções que se preparam para a nova louca década do século XXI.
Comecemos pelo Brasil, mais concretamente pelo Museu de Arte de São Paulo. Em 2024, aí haverá uma grande exposição dedicada a Francis Bacon (1909-1992). Se há artistas que nos anunciaram o futuro que veio e há de vir, entre eles, encontra-se certamente Francis Bacon.
Os quadros que pintou, anteciparam em décadas as metamorfoses, cisões, formatações e deformações a que atualmente e daqui para a frente, os corpos humanos são voluntária ou involuntariamente sujeitos, sejam estas cirúrgicas, digitais ou de qualquer outro tipo. É ver:
A sua intenção não era crítica ou de denúncia, nada disso, era puramente sensual e artística. O que Francis Bacon queria exaltar na sua pintura, era a louca beleza e o vigor da carne humana.
Uma beleza cuja loucura e vigor subsiste a todas as mudanças, transformações e revoluções. Cremos não estar muito equivocados, se afirmarmos que esta será uma exposição, que muito nos poderá ensinar, neste inicio dos loucos anos 20 do século XXI, o que do presente e do futuro podemos esperar.
Já agora, saliente-se que o Museu de Arte de São Paulo começou a preparar esta mostra logo em 2023. Promoveu conferências, conversas e palestras, sendo que, tudo isso está reunido e acessível em vários plataformas, como por exemplo, no YouTube.
No link abaixo, estão reunidos sete horas de reflexões e conversações, para quem tiver curiosidade sobre o que poderá vir a ser a exposição de Francis Bacon, em 2024, no Museu de Arte de São Paulo:
Deixemos o Brasil e olhemos agora para o que se irá passar por Paris. De tudo o que vimos programado para 2024 e perfeitamente divulgado, o que mais nos interessa para esta nossa conversa, é o que acontecerá daqui a uns meses no Museu de Orsay, a exposição “Paris 1874, Inventer l'impressionnisme”.
Interessa-nos porque é uma exposição que analisa os tempos de mudança, de transformações e de revoluções, neste caso na forma de olhar. Na primavera de 1874, faz no próximo dia 15 de abril precisamente há 150 anos, um grupo de artistas decide reinventar a arte e com ela a vida. Beberam uns copos, fizeram o quatro e pintaram o sete, e daí nasceu o impressionismo. Em resumo, nada ficou como antes.
Agora os seus quadros valem muitos milhões, mas à época ninguém os queria, nem sequer para os expor. Vai daí, Monet, Renoir, Degas, Morisot, Pissarro, Sisley e também Cézanne e uns quantos outros, decidem organizar a sua própria exposição, algo que constituía uma aventura com o seu quê de louco. “Bonne chance”, foi o mais simpático que então lhes disseram. O resto é história.
O que o impressionismo trouxe foi uma nova forma de olhar o mundo. Os impressionistas decidiram sair dos estúdios e ateliers e ir para as ruas, para os campos, para os bailes, para a beira-mar, ou seja, para o ar livre.
Os modelos deixaram de ser quem estava em estáticas poses num pedestal e passaram a ser lavradores, pescadores, operários, bailarinas, noctívagos e também as gentes que percorriam as ruas das cidades em dias de chuva.
O que era importante já não era apenas o rigoroso desenho das formas, mas sobretudo o modo como a luz se modificava e se refletia por todos os lados. Quer nos céus, quer numa calçada molhada.
Cremos não estar novamente muito equivocados, se afirmarmos que esta será uma exposição, que muito nos poderá ensinar, neste inicio dos loucos anos 20 do século XXI. Inventar novas formas de olhar, respirar ao ar livre, abandonar poses estáticas e pedestais, e sentir a luz e os seus reflexos com um brilhozinho nos olhos, é certamente o melhor que do presente e do futuro podemos esperar.
Agora ainda é inverno e está de chuva, mas incrivelmente, embora a exposição “Paris 1874, Inventer l'impressionnisme” só abra as suas portas lá para a primavera, já há dossiers com todas as iniciativas que vão haver a propósito dessa exposição por todo o país e não somente em Paris.
Há imensos eventos para escolas, colóquios internacionais e até realidades imersivas. Há de tudo e para todos, quer para crianças do pré-escolar, quer para académicos, quer para turistas, quer para meros curiosos. É só ir verificar:
Poderíamos continuar a falar-vos do muito o que nas artes vai acontecer por esse mundo fora, e de que como isso reflete o espírito dos novos loucos anos 20 que acabaram de chegar, mas não vale a pena, cremos que o ponto está feito. Por assim ser, queremos terminar como uma canção que fomos glosando ao longo de todo este texto, “Com brilhozinho nos olhos”:
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