Na imagem temos um autorretrato de Artemisia
Gentileschi, uma pintora da época barroca, que atingiu uma imensa fama como
artista durante a sua vida. No século XVII tornou-se a primeira mulher a ser
membro da afamada academia de pintura de Florença.
Em 1985, algures na cidade de Nova Iorque, nasceram as
Guerrilla Girls. É um grupo anónimo, ou seja, ninguém sabe quem dele faz parte.
Quando surgem em público, as “girls” usam máscaras de gorilas, escondendo assim
a sua identidade.
Em 1989 a sua fama tornou-se mundial, pois colocaram
um enorme poster no conceituado Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque,
também conhecido como o Met, com a seguinte pergunta: “Do women have to be
naked to get into the Met. Museum?”.
Contudo, o poster não se ficava pela pergunta, apresentava também uma contabilidade na qual se dizia que só 5% das obras de arte expostas na secção de arte moderna do Met eram de mulheres, mas que em contrapartida, 85% dos nus da coleção do museu eram de mulheres.
O poster teve um sucesso imediato, sendo que a sua
imagem deu a volta ao mundo num instante. A tese defendida pelas Guerrillas
Girls, era a de que os museus tinham nas suas coleções inúmeras pinturas e
esculturas de mulheres nuas, fossem elas Vénus, Afrodites, Evas, santas ou
heroínas clássicas, mas quase nenhumas esculturas ou pinturas de mulheres
artistas.
Em síntese, a acusação feita aos museus pelas
Guerrilla Girls é a de estes serem misóginos, ou seja, de se orientarem por um
sistema de crenças e valores que existe há milhares de ano, e que favorece o
domínio dos homens.
Um sistema que segundo as Guerrilla Girls mantém as
mulheres em posições subordinadas, de tal modo que estas são bem boas para
aparecerem nuas em pinturas e esculturas, mas não o são suficiente para serem
elas próprias artistas.
Abaixo a imagem da pintura “La Grand Odalisque” de Jean Auguste Dominique, obra de 1814, que faz parte da coleção do Museu do Louvre.
Nós bem sabemos que as mulheres tem sido injustiçadas
ao longo da história em muitos e variados setores, e também no que às artes diz
respeito, contudo, sabemos igualmente que, pelo menos nesse campo, houve sempre
momentos em que estas ficaram por cima.
O mais revelador dos casos é a história de Fílis e Aristóteles. O filósofo ateniense desde há milénios que é considerado um intelecto maior. Seja na antiguidade clássica, na época medieval, no Renascimento ou até na atualidade, poucos autores terão sido tão lidos e estudados como Aristóteles, todavia, há muito que circulam pelo mundo pinturas, gravuras e esculturas em que o sábio é cavalgado por Fílis.
Conta a lenda que Aristóteles, professor do imperador
Alexandre o Grande enquanto este último era criança, aconselhou-o a evitar
Fílis e a concentrar-se nos seus estudos e deveres. Fílis ficou chateada e
decidiu vingar-se de Aristóteles, seduzindo-o.
Como prova de amor, obrigou-o a ficar de quatro para
que ela desempenhe o papel de dominadora cavalgando nas suas costas e
chicoteando-o. Alexandre o Grande, testemunha a humilhação do seu mestre e fica
para sempre consciente, que uma mulher pode superar o inteleto do maior dos
filósofos.
Há centenas de representações artísticas nos museus de
Fílis e Aristóteles, aqui fica uma de Lucas van Leyden de 1520.
Mas perante o imenso poder das mulheres, não eram só
os sábios que acabavam mal vistos. Pensemos no grande general Holofernes, que
comandava um exército de 170.000 soldados de infantaria e 12.000 cavaleiros, ao
serviço do rei assírio Nabucodonosor.
Conta-nos a Bíblia, que depois de muitas e grandiosas
vitórias e ter conquistado diversos povos do Oriente, Holofernes montou um
cerco à cidade hebraica de Betúlia. O povo desanimou e encorajou os seus
governantes a ceder.
No entanto, Judite, uma bela viúva de Betúlia, após a
orar a Deus nosso senhor, adornou-se com as suas mais belas vestes e entrou no
acampamento de Holofernes. Judite embebedou-o de vinho e de amor e nisto, sacou
de uma espada, e cortou-lhe a cabeça. Foi o fim do cerco de Betúlia.
Ao saberem do seu feito, os governantes de Betúlia
disseram-lhe assim: “A tua fé e esperança jamais deixarão o nosso coração, que
sempre lembrarão a tua coragem. Deus faça com que sejas para sempre louvada,
pois rejeitaste a queda do nosso povo e, com determinação e coragem,
perseguiste teu desígnio perante Deus”.
O que esta história bíblica nos diz, é que uma mulher plena de fé derrota até o mais poderoso general, e essa é a razão pela qual, ela é retratada em inúmeras pinturas e esculturas, que fazem parte das coleções dos melhores museus do mundo. Abaixo uma imagem de Judite de espada em punho de Lucas Cranach de 1530.
Vamos a um último exemplo, agora já não de uma mulher
mítica, como Fílis ou Judite, mas sim de uma mulher real, Artemisia Gentileschi
(1593- 1656). Viveu em Roma e foi a mais bem-sucedida pintora da sua época e
não só.
Entre os seus quadros mais conhecidos está, e não por acaso, Judite Decapitando Holofernes. As obras de Artemisia Gentileschi fazem parte das coleções dos grandes museus do mundo e nelas contam-se histórias em que os homens não acabam bem.
E pronto, ficamos por aqui, com mais uma representação de uma vitória feminina.
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