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E se a Barbie cantasse o fado!


Na Mouraria só falam do namorico, a Bia namora o Chico, as conversas são iguais e ninguém pensa muito nisso. Embora qualquer dos dois tenha pouco ou mais que nada, vai ter a Bia a festa que ela deseja e irá toda a Mouraria ver o casório na igreja.

Nem um nem outro se autoanalisam e se deitam a meditar sobre o assunto. Também não vão sequer à consulta de psicologia pedir aconselhamento emocional. O mais que pedem, é que Deus queira que isto não mude e que qualquer dia a Senhora da Saúde, que fica ali junto à Praça do Martim Moniz, seja pequena demais.


Abaixo a imagem de um quadro do Mestre Real Bordalo da Igreja de Nossa Senhora da Saúde.


“Eu acho que a psicologia e a autoreflexão são uma das grandes catástrofes do século XX”. A frase é de Werner Herzog, que atualmente tem 81 anos de idade. Proferiu-a algures no tempo, há umas quantas décadas. Recentemente, apenas há uns poucos dias, Herzog foi ver o filme “Barbie”.
Entrevistado a esse propósito na TV, Herzog disse o seguinte: “Vi os primeiros 30 minutos. Estava curioso. Fiquei com uma desconfiança: será que o mundo de Barbie é o puro inferno?”. Acrescentou ainda que, “Pelo preço de um mero bilhete de cinema, qualquer espectador pode testemunhar com a maior realidade possível aquilo que é o inferno".


É logo a seguir às eleições legislativas da próxima semana, na noite do dia 10 de março, que serão conhecidos os vencedores dos Óscares de Hollywood. Como toda a gente sabe e as sondagens não desmentem, um dos grandes favoritos para este ano é o filme “Barbie”.
Mas quem é Werner Herzog? Certamente que uns tantos não saberão responder a esta questão, no entanto, outros sim, saberão. Quem sabe, não terá a menor hesitação na resposta a tal pergunta, mas para os que não sabem, esclarecemos nós que Werner Herzog é um grande cineasta alemão.

Herzog nasceu em 1942 em Munique e realizou filmes em cujos personagens almejam concretizar sonhos improváveis. Um dos seus mais peculiares filmes, uma autêntica obra-prima, intitula-se “Fitzcarraldo" e foi realizado em 1982.

O personagem principal é uma figura histórica do início do século XX de seu nome Fitzcarraldo, um tenor alemão que sonhou em vão construir um grandioso teatro de ópera numa pobre, remota e esquecida povoação do Brasil, que se situa algures perto dos confins da floresta amazónica.

Fitzcarraldo já antes tinha investido muito dinheiro na construção de um caminho de ferro para esse longínquo lugar, contudo, o investimento falhou clamorosamente. Tentou posteriormente erguer uma fábrica de gelo, um empreendimento que também fracassou rotundamente. Graças a todos esses inusitados negócios e à sua colossal megalomania, Fitzcarraldo acabaria por ficar conhecido entre as gentes do lugar como “O Conquistador do Inútil".

Tempos depois dessas suas primeiras aventuras por terras de Vera Cruz, Fitzcarraldo
conseguiu obter dinheiro da sua amante, a dona do bordel local, e compra um enorme barco fluvial para tentar encontrar uma hipotética nova rota pelo imenso Rio Amazonas, e assim poder transportar e comercializar borracha pelo Brasil.


Obcecado, Fitzcarraldo inicia a descomunal viagem fluvial no seu barco, transpondo no percurso altos montes e densas matas, e arrastando consigo a sua tripulação para inúmeros perigos.
Atravessa tormentosas cataratas e enfrenta as mais fortes correntes do Rio Amazonas. Pelo caminho convive com as tribos indígenas que vivem nas margens do rio, que nunca tinham visto nada assim. Tudo isto à custa da perda de múltiplas vidas humanas e de muito esforço e sofrimento.

Fitzcarraldo por força queria provar a razão do seu ponto e prosseguir o seu sonho contra tudo e contra todos. Se virem o trailer, ficarão com uma clara ideia da incomensurável loucura que constituiu essa longa, arriscada e vasta viagem pelo Rio Amazonas:


Há um outro filme de Werner Herzog, ao qual também podemos chamar uma obra-prima, “Aguirre, o Aventureiro”, uma película de 1972.

Baseado em factos reais, o filme inspira-se numa expedição efetuada pelos conquistadores espanhóis das Américas, que em 1561 foram enviados por Pizarro, o grande governador de Quito no Peru, em busca de El Dorado, a lendária cidade que se dizia ser toda ela feita de ouro.

Como em “Fitzcarraldo”, também nesta circunstância os aventureiros seguiram o traçado de um rio. Neste caso, o do Rio Orinoco, que atravessa os amplos e intimidantes Andes.

Pelo caminho deparam-se com paisagens sublimes e vistas do cume do mundo, todavia, à medida que foram avançando no extenso curso fluvial na sua frágil embarcação, Aguirre embrenha-se cada vez mais na sua ambição. A pouco e pouco, vai sucumbindo aos seus enlouquecidos sonhos de magnificência e glória e, como seria de esperar, tudo vai acabar mal.


Aguirre e Fitzcarraldo são dois célebres personagens presentes nos filmes de Werner Herzog, são seres desmesurados e fascinantes, acerca dos quais se escreveram livros inteiros e de que se podia falar durante horas, mas dito isto, e que tal se agora os deixássemos e falássemos antes da Barbie?

No filme “Barbie”, as mulheres, a Barbie como todas as restantes, são autoconfiantes, autossuficientes e bem-sucedidas. No fundo são todas iguais à Barbie. Os seus pares masculinos, o Ken e os demais, são todos semelhantes e passam os seus dias em atividades lúdicas ou na praia à beira-mar a apanhar sol.

Assim sendo, no país onde todos são invariáveis Barbies ou Kens, a Barbielândia, as mulheres ocupam todos os cargos importantes, são médicas, advogadas e políticas. Já os homens só servem para as acompanhar a festas ou, à falta de melhor programa, para lhes fazer companhia no remanso do lar.

Estava tudo no melhor dos mundos, quando num nefasto dia, a Barbie descobriu que tinha celulite. Como seria de esperar, sua autoestima ficou gravemente afetada, surgiram-lhe sintomas de estar a entrar num estado depressivo e, como se já não bastasse a celulite, apareceu-lhe também uma crise existencial.
Mas a Barbie não é de se ficar, vai daí, para se reencontrar, decide viajar para lá do arco-íris, para fora da Barbielândia, ou seja, para o mundo real. Ainda que meio contrariada, leva consigo o seu par, o Ken, que na verdade só se sente bem, feliz e satisfeito quando está com a Barbie.

Ken quer ter um relacionamento mais sério com a Barbie, mas ela prefere antes ficar tal e qual como está e ter a sua independência e sair com as suas amigas quando muito bem lhe aprouver. Por assim ser, o Ken também apresenta alguns problemas emocionais. Anda um tanto ou quanto cabisbaixo e contraiu uma crise de identidade.


No mundo real, que por acaso se situa em Los Angeles, os dois vivem inúmeras aventuras psico-emocionais e terapêuticas, acabando por descobrirem quem são. Resolveram assim ambos as suas crises, quer a existencial, quer a de identidade.

Ao voltar à Barbielândia, o Ken parece outro, está destemido. Tendo visto como se passam as coisas no mundo real, em Los Angeles portanto, o Ken convence os outros Kens a tomarem o poder. As Barbies são então subjugadas a papéis submissos, como o de serem empregadas domésticas, donas de casa e namoradas agradáveis.

Tudo parecia estar em paz, o problema é que a Barbie não gosta da nova ordem das coisas e incita todas as outras Barbies a revoltarem-se. Há um imenso sarrabulho, mas no fim, a Barbie e o Ken pedem desculpa um ao outro e reconhecem suas falhas. Ken lamenta não ter identidade ou propósito sem a Barbie, ao que a Barbie o encoraja a desenvolver a sua autonomia pessoal.

A Barbie tem recaídas da sua crise existencial e por isso decide partir definitivamente para o mundo real, ou seja, para Los Angeles. Algum tempo depois, vai ao centro de saúde local à sua primeira consulta de ginecologia e o filme acaba assim, com um Happy End.


Regressemos à frase de Werner Herzog com que iniciámos este texto: “Eu acho que a psicologia e a autoreflexão são uma das grandes catástrofes do século XX." Voltemos também à questão que Herzog levantou numa recente entrevista à TV: “será que o mundo de Barbie é o puro inferno?”

Herzog sabe bem do que fala, pois para além de ter realizado filmes de ficção nos quais os personagens se afundavam em si mesmos e nos seus anseios e devaneios megalómanos, como por exemplo Fitzcarraldo ou Aguirre, realizou também obras documentais com gente real, como “Into the Abyss: A Tale of Death, a Tale of Life”.

Nesse filme documental, Herzog entrevista assassinos condenados à pena de morte, que aguardam na prisão pela sua anunciada execução. Entrevistou igualmente padres, detectives, vizinhos, amigos e conhecidos desses presos.
Através do seu atento olhar sobre esses criminosos, olhar que nada tem a ver com psicologia, Werner Herzog revela uma América profunda de gente atormentada por não ter conseguido ser tudo aquilo, nem pouco mais ou menos, com que sonhou.

Os políticos, os banqueiros, os publicitários e as estrelas das TV’s venderam-lhes grandes sonhos, impediram desse modo que essas gentes simples sonhassem e construíssem os seus próprios sonhos. Almejaram por tudo o que era incerto, o resultado foi ficarem com a alma num deserto.

O documentário mostra-nos a Barbielândia virada do avesso, o grandioso “América Dream” transformado num pesadelo provinciano.


Em conclusão, a nossa resposta à questão colocada por Herzog a propósito de Barbie, só pode ser sim. Sim, o puro inferno é precisamente um mundo em que todos sonham e ambicionam ser autoconfiantes, autossuficientes e bem-sucedidos, e em que se porventura não o conseguirem, desenvolvam sintomas depressivos, problemas de autoestima, crises existenciais e de identidade, quando não, comportamentos criminais.

A nosso ver, o puro inferno é esse mundo com demasiados “auto”: autoreflexão, autoconfiante, autossuficiente, autoestima, autónomo, auto…

Com tantos “auto” para se ser, o melhor é abrirem-se já milhares de vagas nos cursos de psicologia, pois os psicólogos que atualmente há, não vão chegar para tanta gente que ambiciona ser a Barbie ou Ken. Mais valia serem tão-somente a Bia e o Chico.

Ser a Bia e o Chico não tem mal nenhum e é bem bom. São duas vidas singelas, ela vende flores e o Chico vende cautelas ali para o Bem-Formoso, no entanto, uma coisa é certa, são um par jeitoso, que é coisa que não se pode dizer da Barbie e do Ken.

E nada mais temos para acrescentar, fazemos silêncio, que se vai cantar o fado, “A Bia da Mouraria”:


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