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Estarão as famílias e as escolas portuguesas preparadas para o ennui infanto-juvenil?


Neste blogue há muito que antecipamos problemas de educação e propomos soluções. Que ninguém nos ligue e as nossas soluções não sirvam para nada, é coisa que pouco nos importa, o que nos interessa é participarmos.

Continuando essa nossa saga pelo inútil que nos conduz diretamente a lado nenhum, vimos neste momento antecipar um problema ainda muito pouco falado, mas que estás prestes a rebentar por todo o lado, a saber, o ennui juvenil e infantil.

 

Não fazem ideia do que tal seja? Não faz mal, nós estamos aqui para esclarecer quem nos lê, e temos todo o prazer em fazer uma viagem histórico-cultural pelas origens do ennui.

 

Porventura sentem-se vagamente mal, ou seja, entediados, aborrecidos e vazios, sem que possam atribuir essa estranha sensação a algo de específico? Pois então ficam a saber que não é fígado, nem coração, nem sequer problemas de digestão, é simplesmente o ennui. Como é evidente, este nosso diagnóstico não dispensa consulta médica, caso os sintomas persistam.

 

O ennui está novamente na moda, mais de um século depois do seu auge, regressou agora em grande estilo. Mas o que é afinal de contas o ennui, insistirão, e com razão, alguns de vós. Pois bem, a tradução literal desse vocábulo francês é precisamente tédio ou aborrecimento, todavia, traduzir ennui para português não é coisa de bom-tom nem fica bem. Sentir-se entediado ou aborrecido é chato e um tanto ou quanto rudimentar, sentir-se com ennui, isso sim, é chique e distinto.

 

O ennui teve o seu momento de glória na cidade de Paris durante o final do século XIX. Entre boulevards, magasins, croissants, foie-gras e outras coisas que tais, havia muito quem andasse chateado, desmotivado e com pouco com que se entreter, vai daí, descobriu-se que andava tudo com o ennui.

 

Após ter tomado Paris de assalto, o ennui rapidamente se expandiu por todo o território francês, e até em pequenas vilas e aldeias de província começou a surgir gente enfastiada devido a desconfortos vários e a vagas razões de cariz existencial.

É por exemplo essa a história que se conta no célebre romance “Madame Bovary” (1856), o primeiro relato literário de um caso de ennui.

 

Emma, a personagem central do romance, a dita Madame Bovary, na realidade não tinha muito com que se divertir lá na terra onde morava. Andava enfadada e não foi de modas, arranjou uns quantos amantes.

O seu marido era médico mas não soube curar Emma do seu ennui. Em boa verdade, os amantes que Emma encontrou também não a recuperaram plenamente, e por tudo isto, já se adivinha que o ennui é uma coisa maçadora e persistente, que quando vem não arreda, arrelia e deprime uma pessoa.


Apesar da história de Bovary se passar na província, o certo é que o ennui é coisa mais apropriada às grandes cidades, do que aos pequenos povoados. Há toda uma maior disponibilidade nas vastas e sofisticadas urbes para as questões existenciais, pois em sítios menores e mais rústicos, nem sempre as gentes têm grande paciência para suspiros filosóficos, achaques indefinidos e padecimentos imprecisos.

 

Mesmo em cidades como Lisboa, Porto ou Coimbra, que já são urbes de monta e dimensão, é complicado encontrar pessoas com a solicitude necessária para ouvir os nossos vagos ais, as nossas difusas incertitudes e as nossas genéricas mazelas psico-emocionais.

Por consequência, se já assim o é nessas cidades, quanto mais ter esperança de que em locais de menor grandeza e extensão, alguém vá ligar seja o que for ao ennui, não vale a pena sequer pensar nisso.

Ainda assim, se no século XIX em Paris havia muito ennui, em Lisboa também o havia. Não tanto como na capital gaulesa, claro está, mas algum, o quanto baste. O melhor reflexo disso mesmo, é um verso do poeta Cesário Verde (1855-1886):

 

Nas nossas ruas, ao anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

 

O que Cesário Verde nos quis dizer com o seu verso, era que nada de concreto e específico o atormentava, apenas o incomodava, o que já não era pouco, um certo mal-estar sem uma concreta e efetiva razão de ser, portanto, era certamente de ennui de que padecia.

 

Cesário acabaria por morrer de tuberculose ainda jovem, mas isso é já uma outra história, que nada tem a ver com o ennui.


Se Cesário Verde era bom quando versejava sobre o ennui, Charles Baudelaire (1821-1867) era muito melhor. O que não é de estranhar, pois como já vimos, o ennui é uma coisa muito mais própria da elegante Paris, do que da nossa querida Lisboa.

 

Para além do mais, apesar de Cesário Verde ter nascido mesmo no centro da cidade, em plena baixa lisboeta, passou a maior parte da sua curta vida ali para os lados do Paço do Lumiar, ou seja, num sítio que à época era mais campestre, do que propriamente citadino.

 

Na realidade, Cesário Verde conhecia bem a vida das grandes cidades e o seu ennui, mas não por as ter visitado ou calcorreado, e sim por ser um ávido leitor dos livros que lhe traziam de Paris, como por exemplo, o “Madame Bovary” de Flaubert ou a poesia de Charles Baudelaire, dois autores que influenciaram decisivamente a sua escrita.

 

Enfim, se Cesário conhecia Baudelaire, sabia bem qual era a receita que o poeta francês recomendava contra o ennui. Aqui fica, para quem eventualmente a desconheça:

 

“Embriagai-vos! Deveis estar sempre embriagados. Aqui reside tudo. É a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que vos esmaga os ombros e vos verga para a terra, é imperativo embriagar-se sem descanso.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto. Mas embriagai-vos.

E se por acaso, sobre os degraus de um palácio, sobre a relva verde de uma vala, na morna solidão  do vosso quarto, acordardes de embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que roda, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

É hora de vos embriagardes! Para que não sejais escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, a vosso gosto.”


Mas dito tudo isto, e sendo este o contexto histórico, cultural e literário do ennui, viemos recentemente a descobrir, que num filme de animação de grande sucesso produzido há uns meses pela Disney-Pixar, de seu nome “Divertida-Mente 2 (Inside Out 2)”, o ennui é uma emoção da qual muito se fala nessa película!

 

Foi partindo deste preciso ponto, que decidimos escrever este presente texto como uma espécie de antecipação do que para aí vem. Com efeito, se os grandes estúdios de Hollywood, como a Disney e a Pixar, já produzem filmes infantis e juvenis para o grande público, tendo como tema o ennui, isso só pode significar que tal assunto chegou ao “main-stream” e, assim sendo, em breve entrará pelos lares familiares e escolas adentro.

 

Se o ennui era no século XIX um sentimento próprio de adultos que viviam nas grandes urbes e com tendências poéticas e artísticas, ele reaparece agora, no século XXI, como uma coisa própria de crianças e jovens de todos os lugares e de qualquer idade. Razão pela qual, nos questionamos se as famílias e as escolas estarão prontas para os desafios que este moderno ennui infantil e juvenil nos trará. A bem dizer, cremos que não, que o nível de impreparação para o ennui de escolas e famílias é total.


Logo em 2016 começaram a surgir no ar os primeiros sinais de que o ennui infantil e juvenil vinha aí, todavia, nesse entretanto ninguém se preparou. Se por acaso nessa data este blogue já existisse, claro que teríamos referido tal tema, feito o diagnóstico da situação e alertado para a necessidade de se tomarem medidas, no entanto, nessa época efetivamente não existíamos.  

 

Mas voltemos a 2016, para observarmos o que já então se passava. Nada melhor do que começarmos por um artigo de julho desse ano, do jornal Observador. O seu título era “Este verão deixe os seus filhos aborrecerem-se”.

 

Nesse artigo ainda não se fazia a apologia direta do ennui, não se sabia que aí vinha e que iria chegar ao “main-stream”, no entanto, o que então se verificava, era que começava a valorizar-se enormemente o tédio e o aborrecimento sentido por crianças e jovens, coisa que antes nunca se fazia.

 

Não foi apenas o Observador a dar-nos conta dessa mudança de paradigma, nesse mesmo ano, a revista Visão também publicou um artigo em que se seguia a mesma linha de pensamento; “Crianças aborrecidas tornam-se mais resilientes”.

Aqui ficam os links para os dois artigos referidos:

https://visao.pt/atualidade/sociedade/2016-07-20-criancas-aborrecidas-tornam-se-mais-resilientes/

https://observador.pt/2016/07/14/este-verao-deixe-os-seus-filhos-aborrecerem-se/

 

Não sabemos se leram ou não os dois artigos, também não os vamos resumir, o que vamos fazer é retirar certos trechos do contexto e comentá-los, de modo a justificarmos a nossa opinião acerca da falta de preparação de escolas e famílias para o ennui infanto-juvenil.

 

No artigo do Observador uma psicóloga gabava as virtudes do aborrecimento, mesmo que ainda não lhe chamasse ennui:

 

“Estar aborrecido é uma forma de a criança descobrir o que gosta. Implica novidade e experimentação, mas também conhecer-se a si própria e conhecer os seus limites. (…) Uma criança que faz de um talher e um guardanapo uma verdadeira batalha naval ou que pega habilmente em frascos de perfumes e, com eles, cria toda uma novela é, muito provavelmente, sinal de criatividade.”

 

Citada a passagem do artigo, imagine-se agora um monte de crianças aborrecidas num refeitório escolar a terem sinais de criatividade e a fazerem verdadeiras batalhas navais com talheres e guardanapos? Estará alguma escola preparada para tal?

Imagine-se igualmente, uma ou várias crianças a serem criativas nos seus lares e a criarem novelas com frascos de perfume. Melhor ainda, imaginemos que tal criatividade infantil surge numa perfumaria da moda, estarão as famílias preparadas para tal eventualidade?

 

Pelos exemplos apresentados estamos em crer que todos os nossos leitores com algum bom senso já terão concluído que o ennui infanto-juvenil é capaz de trazer os seus problemas, por consequência, já terão igualmente concluído da sua total impreparação para lidar com tal situação.

Se os nossos leitores não tiverem somente bom senso, mas também um pouco de inteligência, já terão tirado uma conclusão mais vasta: a de que o ennui é coisa de adultos, e portanto deve-se educar as crianças e jovens, não para dar asas à sua criatividade ou imaginação oriunda do ennui com os talheres, guardanapos ou perfumes, mas sim para a guardarem para quando forem mais velhos, e aí sim podem escrever poemas como Baudelaire ou Cesário Verde, ou arranjarem amantes como Madame Bovary. Sendo certo que assim não causarão problemas nem no refeitório escolar, nem na perfumaria.

 

Para terminar ponhamos o nosso manifesto! Nem escolas nem famílias têm de se preparar para o ennui infanto-juvenil! Razão pela qual há que protestar energicamente contra artigos saídos nas revistas da moda.

Senão vejamos, atentemos no seguinte parágrafo:

“As crianças precisam de andar à vontade, precisam de se constipar, de se sujar, de comer porcarias da rua, de apanhar coisas e comer coisas, até porque senão nunca vão saber que não o devem fazer.”

Esta passagem foi publicada na revista Activa em 2023. Quem quiser confirmar, é ir ver.

https://activa.pt/emocoes/2023-02-11-estar-so-e-um-super-poder

Pensemos agora que, em ambiente familiar ou escolar, alguém incentiva as crianças a sujarem-se , a constiparem-se, a comer porcarias da rua, e por aí afora. Tudo isto por causa do seu ennui. Qual seria o pai ou professor que diria que sim? Fica a questão…

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