Reparámos há uns dias, que já escrevemos mais de
trezentos e oitenta textos para este blog. Se calhar foram demais, ou então
não, pois isso dependerá sempre de quem nos lê e do prazer que o tenha em
fazer. Mas dito isto, o que poderemos nós ainda dizer de novo? Não teremos já
gasto todo o nosso latim?
Em princípio não, mas nunca se sabe. Imaginemos que
queremos agora falar-vos de algo de original, do qual nunca antes vos tenhamos
falado. Pensemos por instantes, a ver o que nos vai ocorrer…ora bem…vamos lá
pensar nisso…só mais um pouco… está quase… e… e… e… pronto! Já está. Tivemos
uma ideia fantástica… ahhhh… mas não…afinal não era nova nem original… que
pena… que azar.
Sabemos bem, que os que nos leem estarão ansiosos por
saber o que teremos a dizer sobre um qualquer novo assunto. A todos esses,
apenas dizemos que talvez tenham de esperar, estas coisas não são fáceis, mais
a mais, assim do pé para a mão. É melhor sentarem-se um pouco enquanto esperam.
Há tanto para dizer sobre tantos temas sobre os quais
nunca vos falámos, que nem sabemos por onde iniciar a nossa conversa. Bom, a
bem da verdade, de repente não nos lembramos de nenhum novo assunto, mas
estamos certos que os há.
Por acaso já foram à janela ver como está o tempo? É
sempre um bom tema, o tempo. No inverno diz-se que está chuva e vento, no verão
que está calor e abafado, e na primavera e outono, que depende, uns dias está
melhor, outros está pior.
Pode-se também sempre dizer, que isto já não é o que
era e que o tempo está muito mudado.
Enfim, já percebemos tudo, o tempo não é lá grande
assunto de conversa, ainda assim, podem ir espreitar por uns momentos à janela,
enquanto nós pensamos num outro tópico mais interessante e original.
Já espreitaram? Que rapidez! Não era preciso tanta
pressa, é que nós nem tivemos tempo para pensar numa nova temática acerca da
qual escrevermos. Safa, que isto hoje em dia anda tudo numa azáfama, já ninguém
tem tempo para nada.
Ai a vida apressada dos tempos que correm, que bela
matéria de conversa. Andamos todos numa lufa-lufa, de um lado para outro sem
parar. Andar numa lufa-lufa é coisa bastante curiosa, tem até um certo toque a
tempos antigos. Parece-nos bem melhor o andar numa lufa-lufa de antigamente, do
que o andar numa correria, de atualmente. E a vós? O que vos parece?
Bom, já perceberam que estamos só a fazer conversa de
chacha para passar o tempo, certo? Por acaso, chacha e lufa-lufa são termos que
combinam bem, têm um certo ritmo repetitivo e um tom que nos transporta para
épocas distantes, daquelas nas quais as mais distintas senhoras usavam luvas
quando saíam à rua e iam às compras às melhores lojas, e depois, estafadas de
andarem numa lufa-lufa, recolhiam ao lar para se consolarem com um chá quente
enquanto faziam conversa de chacha. Outros tempos!
Bem vistas as coisas, lufa-lufa e luvas, chá e chacha,
não são coisas particularmente interessantes e originais acerca das quais se
escrever, pois não? Deixemos então tal questão cujo conteúdo não adianta nem
atrasa à vida de ninguém.
Por falar nisso, como é que vai a vida? É uso dizer-se
que vai bem, que vai mal, ou que se vai andando. À última é também costume
responder-se, que o que é preciso é ir-se andando, porque enquanto formos
andando, já não vamos mal.
Esta do andar-se constantemente a ir-se andando, é
outra. Mas a que propósito agora anda toda a gente de um lado para o outro? Já
ninguém consegue estar sossegado? Mas onde é que vão todas estas criaturas? Que
agitação é esta?
Dantes é que era, uma pessoa estava pacatamente em
casa, fazia serenamente os seus afazeres e deixava-se estar placidamente no
remanso do lar. Se porventura a meio da tarde se aborrecesse, se quisesse ver
algum movimento, era ir à janela e espreitar para a rua a ver quem passava e
para onde ia.
É sempre um bom tema de conversa, o que se vê da
janela, pode-se por exemplo trocar umas ideias sobre onde será que a vizinha do
lado vai a esta hora. E sobre o homem do talho e o porquê de ir tão apressado?
Pode-se igualmente averiguar se a senhora da mercearia não saiu mais cedo do
que é costume, enfim, poder-se-ia continuar por aí afora, pois as variações sobre
estes assuntos são infinitas.
Bom, mas voltemos ao nosso assunto, ou seja, sobre que
tema interessante e original hoje vos poderemos escrever. A conversa já vai
longa e ainda não encontrámos nada, começamos até a sentirmo-nos mal. A
propósito disso, como é que vai a saúde?
Pois claro, andamos todos cansados e isso não nos faz
bem. E depois uma pessoa também não vai para novo e a idade toca a todos.
Realmente com a vida que se leva, nem boas cores uma pessoa tem.
E depois são aquelas moinhas que nos acometem, que não
matam mas moem. E os achaques que por vezes nos dá? Cruz credo. E nem sequer
falemos das dores de cabeça, que mais terrível de que isso não há. Uma pessoa
nem tem vontade de fazer nada, e com tanta coisa que há para arrumar. Em
resumo, é uma arrelia.
Bem, dito tudo isto, muito mais haveria a dizer, mas o
quê? Isso é que agora não vos sabemos dizer. Mas claro que há de ser qualquer
coisa de muito importante, interessante e original. No fundo, isto é tal e qual
como quando encontram um amigo ou amiga daqueles ou daquelas que só veem assim
de anos a anos. Havemos de combinar ir tomar um chá, conversar e etecetera e
tal. Feitas as contas, trocam-se umas ideias sobre o tempo, sobre a saúde e
demais afazeres e vai cada um e cada uma à sua vida.
Mais tarde, cada um e cada uma relembra-se desse
momento e pensa de si para consigo o quão giro e interessante foi reencontrar
fulano ou fulana de tal que há muito não via.
Ora bem, este texto é tal e qual. Ninguém disse nada
de importante, interessante ou original, mas é sempre catita irmo-nos
encontrando.
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