Hoje é Dia da Mãe, por consequência, vamos falar-vos do Canadá. É de toda a justiça que assim o façamos, pois de mães toda a gente fala e a toda hora, ninguém pode dizer que andem esquecidas.
Abrimos uma revista, vemos um jornal ou pomo-nos a ver TV e é certo e sabido que vai aparecer uma qualquer reportagem ou artigo sobre mães, a sua importância, como o ser, o que fazer e por aí adiante, já sobre o Canadá, zero, nicht, niente.
É mães para ali, mães para acoli e acolá, mas então e do Canadá, dele ninguém diz nada? O esquecimento dessa nação é grande e Portugal tem especiais responsabilidades nesse facto. Por cá todos sabem quem foi Vasco de Gama, Pedro Álvares de Cabral e o Infante D. Henrique, mas há poucos que saibam quem foi João Vaz Corte-Real e Diogo de Teive.
Segundo alguns historiadores, em 1472, João Vaz Corte-Real e Diogo de Teive terão sido os primeiros navegadores a aportar na Terra Nova, região que faz hoje parte do Canadá. Aliás, o nome oficial dessa província, que é Terra Nova e Labrador, tem origem num outro marinheiro luso, João Fernandes Labrador, que a visitou em 1498.
Como se vê, apesar de terem sido grandes navegantes, quer João Vaz Corte-Real, quer Diogo de Teive, quer João Fernandes Labrador são hoje homens esquecidos, nem no Padrão dos Descobrimentos aparecem.
Se tivessem descoberto outro sítio qualquer tinham direito a homenagens, a estátuas e a menções nos manuais escolares de História, como o local onde chegaram foi ao Canadá, ninguém lhes liga nenhuma. Está mal.
O próprio nome do país, Canadá, também parece ter tido uma origem portuguesa. A teoria é a de que um navegador português depois de visitar essas terras do continente norte-americano, teria deixado escrito num mapa "Cá Nada", pois ali não havia nem ouro, nem nada de proveito ou interessante. Mais tarde, um copista francês teria interpretado essas duas palavras como sendo o nome da terra e assim ficou, Canadá.
Olhem que já é um destino, logo para início de conversa, os primeiros a chegarem ao território que é hoje o Canadá, o que se lembraram de dizer foi isto: aqui não há cá nada. A injustiça começou desde início, mesmo no primeiro instante.
Disto é que ninguém fala, é só mães para lá e mães para cá. Todavia, nós estamos decididos a, na medida das nossas forças, resgatarmos o Canadá do desdém a que está sujeito desde sempre.
Vamos lá a uma questão de cultura geral, qual é o segundo maior país do mundo? Responderam a Rússia? Está errado, esse é o primeiro. A China? Errado. A Índia? Errado. A Austrália? Errado. O Brasil? Também não. Pronto, já chega, o segundo maior país do mundo é o Canadá. Não sabiam, pois não?
É só mais uma injustiça, essa do tamanho. Se calhar hoje vai tudo almoçar fora que é o Dia da Mãe, às tantas até são capazes de mandar vir bacalhau, ou assado, ou cozido, ou à Zé do Pipo ou, quem sabe, espiritual. Mas donde é que vem o fiel amigo? Não nos venham cá falar da Noruega, pois que o bom bacalhau português, desde há séculos que é pescado na Terra Nova, na costa do Canadá. Ah pois é!
Os Portugueses começaram a pescar bacalhau na Terra Nova por um acaso. Nos finais do século XV, os navegadores depararam-se com uma terra longínqua. Navegavam para o Atlântico Noroeste, tentando achar a contracosta da Índia e nisto encontraram um território a que chamaram a Terra Nova dos Bacalhaus. O sítio vem já mencionado no planisfério de Cantino, de 1502, uma carta náutica que representa os Descobrimentos portugueses.
Abaixo uma obra de Josefa de Óbidos de 1668, onde à esquerda se pode ver um belo bacalhau português vindo da Terra Nova.
Uma das coisas mais injustas relativamente ao Canadá, é que há centenas de sites cujo assunto é o seguinte: atores e artistas que todos pensavam ser norte-americanos, mas que são canadianos. Aqui fica um:
Mas que história vem a ser esta? Como assim? Nós sabemos muito bem quem é canadiano e quem não o é. Porque é que todos esses sites assumem que ninguém sabe quem são os atores, cantores e artistas que são canadianos? É muita desconsideração.
Imaginem o Justin Bieber a almoçar com a sua mãe ao dia de hoje, nisto aproxima-se alguém e dá os parabéns à senhora sua mãe por ter dado à luz um grande cançonetista norte-americano. Como é evidente, a mãe vai ficar triste e com o almoço estragado. Pensem as mães portuguesas que alguém se aproxima delas, e ainda para mais ao dia de hoje, e lhes diz que os filhos são espanhóis. Parece mal, pois claro.
É certo que os Estados Unidos da América fazem fronteira com o Canadá e que Portugal fica junto a Espanha, mas isso não significa que andem por aí a dizer que os filhos nascidos numa nação são afinal filhos do vizinho do lado.
Se ninguém se atreve a dizer que o Toy ou o Tony Carreira são espanhóis, a que propósito é que todos pensam que o Justin Bieber, a Celine Dion e outros que tais são americanos?
Abaixo uma foto da santa mãe do canadiano Justin Bieber, Pattie Mallette.
Já agora, como é que se diz, é canadiano ou canadense? Estão na dúvida não é? Ninguém fica na dúvida se é italiano ou italianense ou brasileiro ou basiliense, mas com o Canadá ficam, não é? É mais outra desconsideração a acrescentar à lista. Ambas as formas são corretas, pode-de dizer canadiano, canadense e até canadiense.
Para terminarmos, vamos falar-vos dos nossos dois canadianos favoritos. Dois grandes. O primeiro nasceu na Escócia em 1914. Está bem pronto, era escocês. Com efeito, a mãe deu-o à luz na Escócia, mas o certo é que ele foi fazer vida para o Canadá e lá todos o consideram seu.
Realizou dezenas de curtas-metragens, muitas delas abstratas, em que linhas verticais ou horizontais dançam e bailam. Felizmente que estão praticamente todas disponíveis on-line. Deixamos-vos este pequeno filme, intitulado “Linhas Verticais”.
É uma boa prenda para o Dia da Mãe:
- Ó mãe anda cá aqui ver este filme, que é só linhas a andar de um lado para o outro! Bem giro, certo?
O outro grande canadiano que admiramos é o pianista Glenn Gould (1932-1982). A nosso ver foi o maior pianista de sempre e, provavelmente, também o mais estranho. Foi um talento precoce e ainda em jovem atuou nas maiores salas de concerto do mundo, tendo sido amplamente aclamado.
Gould era conhecido pelos seus hábitos incomuns. Entre eles, costumava gemer ou cantarolar enquanto tocava, e os engenheiros de som nem sempre conseguiam excluir a sua voz das gravações. Levava para todos os concertos uma cadeira baixa que o pai lhe tinha construído, ficando numa posição invulgar, como se estivesse debruçado sobre o teclado.
Após anos de imensos sucessos, fartou-se e anunciou ao mundo que nunca mais tocaria ao vivo. Detestava os aplausos e todos os rituais próprios dos concertos de música clássica, vai daí retirou-se para um local isolado do Canadá e passou o resto da vida somente a gravar discos e a aparecer em programas de televisão.
Elaborou um projeto que se chamava “GPAADAK” (Gould Plan for the Abolition of Applause and Demonstrations of All Kinds), o Plano Gould para a Abolição dos Aplausos e Demonstrações de Todos os Tipos. Houve quem dissesse que o tipo era doído.
Doido ou não, o facto é que era um génio, sendo que as suas gravações de Bach são inultrapassáveis, aqui fica uma:
E pronto terminamos por aqui a nossa visita ao Canadá, país injustiçado e que merece ter um outro destaque. Já agora, qual a capital do Canadá? Não sabem pois não? É Ottawa, tomem lá.
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