A corrida para a presidência dos Estados Unidos da América começa agora a aquecer, com a realização do primeiro debate, durante o dia de amanhã, entre os dois principais candidatos, Biden e Trump.
Não é necessário ser-se particularmente culto ou inteligente para se saber, que não é apenas o futuro da América que está em jogo, mas em certa medida, também o do resto da humanidade.
Vença quem vencer, em princípio, não vai ser o fim do mundo nem vai haver nenhum apocalipse, mas ainda assim, não é de se colocar completamente de parte a hipótese de haver umas quantas catástrofes e uns tantos desastres. Esperemos que não.
Seja como for, mesmo não sendo nós cidadãos dos bons USA, somos cidadãos do mundo e, por consequência, não nos vamos eximir de dar a nossa opinião, sobre quem preferimos que presida os Estados Unidos da América. Mais a mais, que fora Portugal e o Brasil, não há outro lugar onde este blogue seja tão lido, como nesse lindo país.
Sem delongas, anunciamos desde já que o nosso preferido para presidente é Henry Fonda.
Como muitos saberão, Fonda foi um dos maiores atores da época dourada de Hollywood, tendo sido o principal intérprete de alguns dos grandes clássicos de sempre da sétima arte.
Quem nos lê, poderá estar a pensar, que a nossa preferência não tem qualquer sentido, primeiro porque Henry Fonda não é efetivamente candidato, e segundo, porque o Fonda já há muito morreu, mais concretamente em 1982. De facto, essas são razões que noutro contexto deveriam ser levadas em consideração, contudo, para este nosso texto, não o serão.
Com efeito, neste blogue não temos nem nunca tivemos qualquer compromisso com a realidade. Se muitas vezes é com a realidade que lidamos, noutras optamos pela fantasia. Por consequência, nada nos impede de efabular, e nesta presente ocasião, ao invés dos factos, preferirmos antes a lenda. Sendo que, neste caso, a dita, é Henry Fonda.
John Ford, o grande realizador americano com quem Henry Fonda muito trabalhou, terá um dia dito assim: “When you have to choose between history and legend, print the legend.” A citação talvez não seja exacta, mas de facto, o que nos importa isso a nós? Na realidade, nada.
Dito isto, vamos então às reais razões pelas quais preferimos Henry Fonda para presidente. São cinco e cada uma delas é um ensinamento ou uma lição. A primeira relaciona-se com um filme de 1937, “You Only Live Once”.
A história da película é simples, Fonda interpreta um personagem, Eddie, que é consecutivamente acusado de múltiplos crimes. É certo que durante a sua juventude, Eddie teve uns quantos episódios de delinquência, pelos quais foi condenado e preso. Contudo, após sair da prisão, não mais cometeu qualquer desacato, coisa que de pouco lhe valeu, pois ainda assim, foi injustamente acusado e condenado por vários crimes graves, apesar de deles ser inocente.
“You Only Live Once”, é um filme sobre o destino, a fatalidade e as segundas oportunidades. O que nele podemos aprender com o trágico fim do personagem interpretado por Henry Fonda, é que onde e quando a injustiça reina, até quem é inocente, quem se quer redimir e dar o seu melhor, acaba inevitavelmente enredado nas malhas do mal.
Numa sociedade injusta, ninguém está a salvo da maldade, sendo esse um excelente ensinamento, para quem quer que seja presidente ter sempre presente.
No início da história, Eddie sai da prisão após ter cumprido pena pelos seus desvarios juvenis. Sai cheio de esperança no futuro, todavia, no final é para a prisão que acaba por voltar, e desta vez condenado à pena capital.
Num mundo injusto e mau, as promessas de futuro são sempre uma breve ilusão, pois o porvir só traz penalidades e castigos máximos, mesmo para aqueles que são inocentes.
Abaixo fica o momento inicial em que Eddie é libertado, à sua espera está Joan, a sua amada. Nesta cena ainda só há confiança e crença, o pior viria depois.
A segunda razão pela qual queremos Henry Fonda na presidência é o filme de 1939, “Young Mr. Lincoln”. Nele, o ator interpreta o lendário presidente norte-americano Abraham Lincoln.
A narrativa de “Young Mr. Lincoln” centra-se fundamentalmente na vida de Lincoln enquanto advogado, ou seja, antes de ser presidente. Nesse tempo, já Lincoln era um paladino da liberdade e da justiça. Uma das mais célebres cenas do filme, é precisamente quando ele evita que a populaça faça justiça pelas suas próprias mãos e execute um linchamento.
Lincoln conseguiu sozinho contrariar e acalmar a multidão, que estava sedenta de ver um enforcamento. Conseguiu-o porque tinha plena consciência, que não raras vezes, mesmo quando se está só, não é por isso que se deixa de ter razão. Com efeito, as multidões não estão certas só por o serem.
Lincoln consegui-o também, porque usou de um pouco de humor, coisa que quando bem feita, acaba sempre por desagravar mesmo a mais tensa das situações.
São também estes, dois excelentes ensinamentos, para quem quer que seja presidente, primeiro, às vezes é preciso saber contrariar as multidões, e segundo, às vezes é igualmente preciso saber desagravar as tensões.
A terceira razão pela qual Henry Fonda devia ir a presidente, é o filme de 1939, “The Grapes of Wrath”, em português, “As vinhas da Ira”.
A ação decorre durante a época da Grande Depressão. Tom Joad, que é interpretado por Fonda, faz-se à estrada acompanhado por toda a sua família. Vão pela Route 66 afora. Abandonam o local onde todos nasceram, cresceram e sempre viveram, o Oklahoma, e partem.
Partir é a única solução para tentar escapar à miséria. Razão pela qual, Tom e a respetiva família atravessam a América inteira rumo à Califórnia numa mera carripana.
Assim como eles, foram milhares e milhares, os que nesse tempo fizeram essa mesma viagem, e não apenas em filmes, mas igualmente na realidade. O que verdadeiramente os movia não eram as desengonçadas carripanas em que iam, mas sim a esperança de uma vida melhor.
Durante o longuíssimo percurso pela Route 66, atravessam os grandes espaços norte-americanos, os seus enormes desertos, os seus extensos vales e as suas imensas paisagens, com horizontes sem fim e a perder de vista.
Pelo caminho são expulsos de todo o lado por onde param, sendo escorraçados e espancados. Perante tal, a mãe de Tom Joad conforma-se com a sorte e com o estar à mercê da crueldade dos mais fortes. Mas Tom não, ele está disposto a lutar contra tais injustiças, seja lá como e onde for.
Quando a mãe questiona esse seu inconformismo e lhe diz “and then”, de que te serve lutar, Tom responde-lhe no seu inglês rústico do Oklahoma: “Then it don’ matter. Then I’ll be all aroun’ in the dark. I’ll be everywhere, wherever you look. Wherever they’s a fight so hungry people can eat, I’ll be there. Wherever they’s a cop beatin’ up a guy, I’ll be there. If Casy knowed, why, I’ll be in the way guys yell when they’re mad an’ I’ll be in the way kids laugh when they’re hungry an’ they know supper’s ready. An’ when our folks eat the stuff they raise an’ live in the houses they build why, I’ll be there. See?”
Esse “I’ll be there, é mais um excelente ensinamento para quem queira ser presidente. O discurso de Tom Joad já está acima transcrito, todavia, vale sempre a pena ver, como é que ele é dito e interpretado por Henry Fonda:
A quarta razão pela qual Henry Fonda devia ser eleito presidente, é o filme “My Darling Clementine” de 1946, que por uma vez, tem um belo título em português: “A Paixão dos Fortes”.
Henry Fonda é um novo Xerife, que tenta que a lei e a ordem sejam respeitadas. Tudo isso numa terra do faroeste, onde ninguém está interessado em tal. Neste filme há mais um ensinamento para um eventual presidente, já vamos ver qual.
Quando o Xerife vê chegar à terra uma série de conhecidos e perigosos bandidos, todos esperam que ele trema e se amedronte, mas o homem é daqueles que não se enerva. É um dos quais se pode dizer que possuiu “grace under pressure”.
Por assim ser, puxa de numa cadeira e põe-se no alpendre a baloiçar-se e a ver a bandidagem passar. É um clássico do equilíbrio, ou seja, uma decisiva lição de firmeza, coragem e graça, muito útil para todo e qualquer que queira ser presidente.
A quinta e última razão pela qual Fonda devia ser presidente, é por causa do filme “Doze homens em fúria”, no original “Twelve Angry Men”, que foi realizado em 1957.
Toda a história decorre num tribunal, no qual um júri constituído por uma dúzia de homens tem de decidir se um jovem de 18 anos é ou não culpado de ter assassinado o seu próprio pai, que por sinal era alguém bastante violento e o maltratava.
Após a audiência, todos os jurados chegam rapidamente a um veredicto: culpado. Todos excepto um, Davis, o personagem interpretado por Henry Fonda. Como segundo a lei norte-americana a sentença tem de ser unânime, as discussões sucedem-se e prolongam-se indefinidamente.
O certo é que Davis tem dúvidas sobre a culpabilidade do jovem e não cede à facilidade com que os restantes jurados o querem condenar. Argumenta, expõe os seus pontos de vista e discute até todos exasperar. A pouco e pouco vai conseguindo demonstrar a cada um dos jurados as suas razões para não crer que o veredicto deva ser culpado. A pouco a pouco os outros vão percebendo que provavelmente Davis terá razão. No fim, após dias e dias de debate, a verdade triunfa e o júri decide-se por “Not Guilty”.
Já agora, e antes de nos irmos embora, aqui fica o trailer de “Twelve Angry Men”. Aqui o ensinamento para um futuro presidente é mais do que evidente, ou seja, faz falta haver quem resista à violência, quer à que condena, executa e mata, quer àquela pela qual alguns querem impor certas verdades, que porventura não o serão:
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