Não sabemos se sabem, mas um jogo on-line cujo único objetivo é clicar na imagem de uma banana e acabou, tornou-se esta semana o mais popular dos jogos na internet. Repitamos, o jogo consiste exclusivamente em clicar na imagem de uma banana, apenas isso. A banana não anda a fugir, não é preciso procurá-la, não é necessário fazer seja lá o que for, tão-somente um clique.
Não sabemos exatamente, o que poderá querer dizer, que centenas de milhares de pessoas se divirtam diariamente com um jogo em que nada há a ganhar ou a perder, em que não se compete contra ninguém e em não se tem de fazer uso de qualquer habilidade ou ultrapassar um qualquer desafio.
Que tal jogo existisse, só isso já nos deixaria espantados, que tenha atingido elevadíssimos índices de popularidade, é algo que nos deixa total e completamente perplexos, incertos e sem sabermos o que dizer.
Nalgumas civilizações antigas, a banana era vista como um fruto sagrado, sendo frequentemente associada à fertilidade e à abundância, no entanto, não vemos que esses ancestrais mitos, tenham qualquer relação com a atual popularidade do referido jogo.
Na verdade, o que esta bizarra notícia nos traz à lembrança, é um quadro de 1913 de Giorgio de Chirico, que se intitula “A Incerteza do Poeta”.
O certo é que ao contemplarmos o quadro de Chirico, imediatamente nos surgem interrogações, antevemos mistérios e sabemos que, apenas para o começarmos a compreender, temos que usar quer a nossa inteligência, quer a nossa sensibilidade, ou seja, a chave para interpretarmos o que vemos não nos é dada de antemão, não é simples, o mesmo é dizer, não se encontra à distância de um clique.
A popularidade do jogo que consiste simplesmente em clicar na imagem de uma banana, certamente que nos diz algo sobre este nosso tempo, nomeadamente, que na atualidade há muito quem ache graça a um divertimento em que não tem de usar o cérebro ou qualquer outro órgão do corpo, bastando unicamente mexer a pontinha de um dedo.
Nos anos 60, Andy Warhol desenhou uma capa para um álbum dos Velvet Underground que acabaria por se tornar um ícone da arte norte-americana, uma banana.
A banana Warholiana acabaria por se tornar uma autêntica imagem de marca e apareceria em múltiplas e diversas versões noutros álbuns dos Velvet Underground e em muitos outros produtos e lugares.
Quanto à banana de Warhol, o seu significado simbólico é óbvio, basta olharmos para percebermos aquilo de que estamos a falar. Mas será que a banana do jogo em que basta clicar, tem o mesmo sentido metafórico?
Diríamos que não, para o provarmos, temos abaixo a imagem da banana do jogo virtual. Ao compará-la com a banana do Warhol, verificamos imediatamente que a do artista é muito mais sugestiva, aludindo em sentido figurado a jogos de maior complexidade, para os quais, em princípio, não será suficiente apenas a ponta de um dedo.
No fundo, o que a enorme popularidade do jogo on-line nos diz deste nosso tempo, é que há muita gente que se satisfaz com um fugaz clique e pronto, está feito. Em boa verdade, mesmo que inicialmente a moda de jogar com a banana nos tenha deixado perplexos, a realidade é que já disso retirámos algumas conclusões, ou seja, que neste mundo de hoje quer-se tudo simples, à distância de um clique, e sem que se necessite de se efetuar qualquer esforço mental ou corporal.
Mas vejamos uma outra banana, a de Maurizio Cattelan. O que este artista conceptual fez foi colar a sua banana a uma parede. A obra imediatamente correu mundo, por todo o lado se falou da banana de Cattelan. Houve logo quem a adquirisse, tendo pago por ela 120 mil dólares.
Em 2019, a banana esteve exposta num museu de Miami. No dia da inauguração da exposição, chega um outro artista, o nova-iorquino David Datuna, e come-a. Como a imprensa mundial estava toda presente, esclareceu imediatamente qual o significado da sua ação. Ao que disse, a ingestão da banana foi uma performance, que muito adequadamente intitulou “Artista com fome”.
Instado a comentar a obra de Maurizio Cattelan que entretanto tinha comido, David Datuna referiu que gostou muito da instalação, que estava deliciosa. Cattelan não se ficou, foi ao mercado local e comprou outra banana, segundo o artista, o outro artista não comeu efetivamente a sua obra, “Ele não destruiu a obra de arte. A banana é a ideia”, disse ao jornal Miami Herald.
Apesar de a obra de Cattelan, a performance de Datuna e o jogo on-line terem como tema bananas, o facto é que os dois artistas são uns autênticos provocadores e põem em causa as noções comuns e agitam as gentes com as suas bananas, já os jogadores são o exato oposto, limitam-se a clicar na banana sem que absolutamente nada suceda. Sendo que, também isso, poderá ser um dos sintomas que define a nossa época, ou seja, há bananas que só servem para fazer clique e pronto.
Terminamos então esta profunda reflexão sobre o nosso tempo, com um clássico de sempre, “Yes, we have no bananas”, aqui interpretado pelos Marretas:
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