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Paula Rego e as atípicas hierarquias que há nas escolas e no resto do país.



Claro que em termos formais, nas escolas, como numa qualquer outra instituição, existem hierarquias, todavia, não é de formalidades que aqui hoje vos queremos falar, mas sim de efetivas realidades.


O nosso ponto é simples, por cá, pela nossa nação, não ligamos grande importância ao facto de alguém ocupar o topo de uma pirâmide hierárquica, partimos do princípio que aí terá chegado por um acaso, por sorte, por cunhas ou por favores, jamais nos ocorre a ideia, que a causa dessa ascensão seja o mérito.

Não damos também nenhuma relevância ao oposto, ou seja, ao facto de alguém estar na base de uma pirâmide hierárquica. Se aí está é porque ao contrário do que aconteceu com outros, não teve padrinhos, amigos e gente que a ajudassem a subir, pois se tal tivesse sucedido, chegaria facilmente ao cimo.


A nossa nobre tradição no que as hierarquias diz respeito, é não nos interessar para nada o valor seja de quem for, o que na realidade nos importa e valorizamos imenso é a aparência.


Em consequência disso, não são as hierarquias formais as que verdadeiramente valem no dia-a-dia. Ou seja, não são propriamente as hierarquias delineadas em organogramas organizacionais e noutros documentos oficiais, nem quem está no topo, no meio ou na base da pirâmide, o que mais determina o quotidiano. O que na realidade molda a vida diária são hierarquias inconscientes, vindas do antigamente e que assentam em aparências.


Por exemplo, quem se apresenta bem, fala muito e num tom seguro e assertivo, aparentando desse modo ser uma pessoa de avultada categoria, imediatamente é elevado às mais altas esferas e por todos será levado ao colo, ainda que não diga nada de jeito e seja um preguiçoso e um incapaz.


Tanto faz que tal pessoa seja chefe ou que só faça recados, independentemente do lugar em que se situe na hierarquia, gozará inevitavelmente de uma alta estima e as suas cogitações e opiniões, por inúteis que sejam, serão sempre tidas em consideração.



Se centramos a nossa atenção nas hierarquias escolares, vamos chegar à conclusão que as há de dois tipos distintos, as do ensino privado e as do público.


Nos colégios privados as hierarquias existem e são bem reais, pois ou há alguém que é o dono da escola, ou há uma sociedade por quotas a que pertence o estabelecimento, ou então, é propriedade de algum outro tipo de associação. Em qualquer destes casos, há sempre um patrão presente ou um chefe que o representa e defende os seus interesses.


Com efeito, nas escolas privadas há uns que detêm o poder e gerem o negócio, pois este pertence-lhes, é propriedade sua, e mesmo sendo-se docente, é-se sobretudo empregado e subordinado, e disso nunca ninguém se pode olvidar, caso não queira ficar desempregado.

Como é uso dizer-se, nas privadas é cada macaco no seu galho, o seu a seu dono e é esse o pilar do sistema hierárquico do ensino privado, quanto este ponto, estamos esclarecidos.


Já nas escolas públicas, a situação é bastante diferente, uma vez que neste caso, independentemente do cargo que na hierarquia se ocupe, seja o de diretor, o de coordenador ou o de professor, em essência todos são idênticos. Ninguém é patrão de ninguém, pois todos têm semelhante contrato de trabalho, o mesmo é dizer, toda a gente é funcionário do estado.


Mas para além disso, o chefe máximo é um ministro, que está longe e só se o vê de quando em vez, nas ocasiões em que ele aparece nas televisões. Mais a mais, num qualquer dado momento, sobretudo após a realização de eleições, esse ministro quase sempre acaba substituído por um outro, que ficará no cargo até vir o próximo, e ainda a seguir mais um outro uns quantos anos depois, e assim sucessivamente até ao fim dos tempos.


Posto isto, as hierarquias nas escolas públicas têm um contexto muito distinto daquele que existe nas instituições de ensino privado. Será isso bom? Mau? Ou simplesmente assim-assim?

Tais são perguntas às quais não sabemos responder, pois que a resposta será necessariamente diferente de escola para escola, dependendo completamente de todos os que em cada uma delas trabalham e exercem funções, sejam estas quais forem.


Mas mesmo não tendo nós uma resposta certa para essas questões, há algo que sabemos, é que o modo como se vivem e se exercem as hierarquias nas escolas públicas, seja qual for o degrau da hierarquia que nelas se ocupe e a categoria que aí se tenha, está absolutamente condicionado por razões de carácter cívico-cultural, o mesmo é dizer, por uma espécie de inconsciente coletivo que nos molda e forma.


Para levarmos o argumento ao extremo e também ao estrangeiro, pense-se que não será certamente do mesmo modo, que funciona um sistema hierárquico na austera Suécia, no quente Brasil ou na doce França, ou seja, o local e a cultura interessa.


Mas se regressarmos ao território nacional, sabemos que não é sequer igual a forma como funcionam as hierarquias no verde Minho, nas planícies do Alentejo e nas escolas da capital. Em todos estes casos e noutros mais, há uma atmosfera cultural e cívica que esculpe e determina o método como as hierarquias são vividas e exercidas, e quem faz o quê, como, onde e quando.



Não é a despropósito que aqui inserimos obras pictóricas de Paula Rego. Fazêmo-lo porque são imagens que ilustram claramente quem faz o quê, como, onde e quando. No caso acima, a obra ilustra perfeitamente quem ata os sapatos a quem. Pressente-se também que os ata não porque seja essa a sua função, nem porque isso decorra do lugar que ocupa na hierarquia, mas sim porque razões culturais e cívicas, implicitamente determinam que assim o faça.


Quem na pintura de Paula Rego placidamente se baixa para atar os sapatos, fá-lo movido não por uma vontade de auxiliar, por simpatia ou por obrigação, mas sim porque inconscientemente crê que as coisas são como são, que é assim que têm de ser, e que ao seu lugar corresponde baixar-se, ajoelhar-se e atar os sapatos ao outro, acredita ser essa sua condição.


Há sempre quem goste de se baixar ou de ajoelhar, obedecendo assim a uma hierarquia inconsciente e implícita, que não existe em nenhum organograma organizacional ou regulamento interno, mas que funciona eficazmente e é perfeitamente visível nas práticas e procedimentos do dia-a-dia.


Que tem a obra acima de Paulo Rego a ver com as hierarquias nas escolas? A nosso ver tudo, pois em certos e determinados contextos e estabelecimentos, independentemente da posição que se ocupe na escala hierárquica escolar estabelecida, há muito quem esteja disposto a baixar-se, a ajoelhar-se para atar os sapatos de alguém, mas não por isso fazer parte das suas funções e atribuições, e sim simplesmente por um antigo e impensado hábito enraizado.


Age-se condicionado por um impulso cultural inconsciente, por um qualquer atávico automatismo cívico arreigado, e não por uma decisão explícita, ponderada e racional. Em boa verdade, é exatamente deste tipo de fenómenos que antes falámos, quando dissemos que no nosso país as hierarquias escolares e outras, estão absolutamente condicionadas por razões de carácter cívico-cultural.


Há sempre quem se baixe e ate os sapatos ao próximo, só porque este último usa uma bonita farda e umas impecáveis luvas brancas. Nas hierarquias inconscientes, as aparências são o que mais vale.


Razões cívicas e culturais fazem com que uns voluntariamente se baixem, auxiliem, sirvam e se submetam sem saberem bem porquê, e que outros sejam ajudados, apaparicados e servidos, sem que as razões para tal também elas sejam claras.


Em Portugal, para se ser doutor ou engenheiro e se ser considerado um senhor sério, importante e inteligente, a que toda a gente quer prestar serviço e agradar, pouco mais basta do que vestir fato e gravata. É assim a cultura das nossas gentes, ao invés da essência, prefere a aparência.



Como já referimos, aquilo a que aqui chamamos razões cívicas e culturais, são na verdade uma espécie de inconsciente coletivo, que nos faz agir automaticamente de um determinado modo, sem que saibamos exatamente porquê.


Por exemplo, nas escolas e não só, há quem se faça importante e use um tom sabedor, tecendo largas considerações acerca de tudo e dando abundantes opiniões sobre os mais variados asssuntos, sendo que, mesmo que não diga nada de valor, é sempre escutado com toda a atenção, havendo logo quem imediatamente se ajoelhe para lhe atar os sapatos ou ajeitar o fato.


O que faz com que assim seja, não é nada da ordem do racional, mas sim um automatismo inconsciente assente em determinados hábitos culturais, que determinam que se valorize imediatamente certas pessoas, como por exemplo todas aquelas que se apresentam de fato e gravata e usam um tom doutoral e assertivo, ou então umas outras, que envergam uma garbosa farda e umas finas luvas brancas.


Há também muito quem valorize imensamente umas boas, firmes e sólidas botas, e se disponha a tudo para as engraxar. Como em muitos outros sítios, também nas escolas, o que não falta é gente para engraxar, uma outra característica cultural nacional, que muitas vezes é um modo de agir automático, cuja origem se situa num inconsciente coletivo, assente em hábitos ancestrais.


Como é evidente, as luvas, a farda, o fato e as botas pintadas por Paula Rego, são metáforas visuais para as quais todos conseguiremos encontrar exemplos reais nas nossas atividades diárias.



Na cultura cívica nacional, ajoelhar-se e engraxar são duas ações muito estimadas, que independentemente do que possa estar plasmado num qualquer organograma organizacional ou regulamento interno, estabelecem uma hierarquia não formal e inconsciente, que funciona perfeitamente no dia-a-dia.


Uma outra característica cívica-cultural muito marcante nas escolas e para além delas, é o modo como intensamente se valoriza e simultaneamente se detesta a figura do chefe-capataz. No fundo, tal poder-se-ia resumir naquele célebre dito, em que se diz que somos um povo que não se governa nem se deixa governar.


Se porventura quem está mandatado para tal, optar por implementar um sistema hierárquico que favoreça e promova a autonomia, o mais certo é que haja logo quem comece a abusar e a agir como muito bem lhe apetece.

Ser-se responsável sem se sentir sempre em cima de nós alguém que nos diga o que temos de fazer e como devemos agir, existe, mas é coisa algo rara no território nacional. Culturalmente e civicamente, o mais que estamos habituados é a que nos deem ordens claras e firmes, que permanentemente nos vigiem e não nos deixem mandriar. Um outro dito português ilustra perfeitamente a situação: “patrão fora dia santo na loja.”


Por nos sabermos assim como nação, dizemos preferir chefias fortes e assertivas, que nos ponham na ordem e nos mandem trabalhar, pois se porventura sentirmos que o ambiente é de tolerância e autonomia, a nossa ancestral cultura cívica faz com que tendamos a considerar que no topo da hierarquia há um fraco, quando não um banana.

No entanto, e contraditoriamente, se por acaso quem está no topo da hierarquia for forte e decidido, aí clamamos aos céus que estamos numa ditadura e que quem lidera, seja homem ou mulher, anda sempre de espada afiada e é um nazi ou uma megera.



Em síntese, a nossa ancestral cultura cívica condiciona-nos mesmo sem darmos por isso, fazendo com que muitas vezes ajamos movidos por um inconsciente coletivo, no qual o baixar, o ajoelhar, o engraxar e o viver segundo hábitos antigos, resulta tão-somente de algo longínquo vindo de um tempo distante, que permanece vivo em nós.


Aqui chegados, a pergunta é óbvia, como matar em nós, esse atavismo cívico-cultural, que nos faz agir, sem sabermos porquê, e condicionados por uma espécie de inconsciente coletivo?

O mesmo é dizer, como havemos de nos libertar de hierarquias implícitas, que automaticamente nos fazem venerar quem use lindas luvas brancas, garbosas fardas, boas botas ou fato e gravata? Ou seja, como escaparmos às aparências e concentrarmo-nos na essência?


Nas escolas (como na restante nação), talvez se conseguisse caminhar nesse sentido, se ao invés de termos um sistema de avaliação docente baseado em aparências, tivéssemos um assente em essências.


Uma avaliação docente que assenta num relatório em que cada um diz o quer dizer independentemente do que fez, e em duas aulas assistidas previamente preparadas e frequentemente ensaiadas exclusivamente para esse efeito, só fomenta e valoriza as aparências.


Para que cada um se sinta valorizado consoante a essência do que é e faz, para que as hierarquias formais sejam respeitadas e no dia-a-dia não ajamos condicionados por hierarquias inconscientes, atávicas e atípicas, o melhor era que as ascensões nas pirâmides hierárquicas e as excelentes avaliações, fossem conseguidas por haver inquestionáveis provas de que tudo foi justo e se ajusta.


Ao invés de relatórios despiciendos feitos “a la carte” e de umas esporádicas aulas assistidas uma ou duas vezes em cada década que pouco ou nada provam, o justo era que houvesse provas que ninguém pudesse contestar.


Claro que quando dizemos provas, não estamos a falar de testes e exames, mas sim de costurar um sistema assente na essência daquilo que se faz e não em aparências.


Terminamos com uma outra obra de Paula Rego, “A Prova”, assim à vista desarmada, parece que o vestido se ajusta.


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