Pode haver quem pense que o título deste texto é um tanto ou quanto malandro e que tema o que para aí vem. Mas nada demais, porque daquilo que vos vamos falar é de presidentes adolescentes, de águas marítimas e fluviais, de urbanismo, de revistas cor-de-rosa e dos Jogos Olímpicos, tudo temas inocentes.
Hoje em dia há tantas notícias e imagens a constantemente requererem a nossa atenção, que chega a ser um momento zen, estarmos pacificamente numa qualquer sala de espera e descobrir em cima de uma mesa, umas quantas revistas antigas, que para ali estão esquecidas e abandonadas.
Tal momento, tem até o seu quê de poético e dele emana uma atmosfera de doce melancolia. Quando pegamos numas dessas publicações já com alguns anos e nos deparamos com acontecimentos de outros tempos, a nossa mente devaneia e passeia-se pelo passado com toda a tranquilidade.
São fascinantes, as coisas que se sabem, quando por um mero acaso desfolhamos uma velha revista cor-de-rosa. Então não é que o nosso presidente, o Marcelo Rebelo de Sousa, e a Ana Zanatti, antiga apresentadora de televisão, em adolescentes foram namorados!
Claro que com o tempo se afastaram, uma vez que o Marcelo arranjou outras moças e a Zanatti seguiu a vida por outras vias, mas ainda assim, é giro termos conhecimento desses acontecimentos do antigamente.
Mas a Ana Zanatti não foi a primeira namorada do Marcelo, segundo consta nas biografias das revistas, quando tinha apenas 12 aninhos, ele perguntou a uma tal Isabel “Queres namorar comigo?".
A menina que era da mesma idade, respondeu "sim". O namoro tinha de ser às escondidas, pois sendo eles tão jovens, se os pais de um ou de outro os descobrissem, haveria na certa sarrabulho. No entanto, acabaram mesmo por ser descobertos, pois os longos telefonemas denunciaram-nos.
Ao que se sabe, a rapariga não falava muito ao telefone, era mais “sim”, “não” e “hum-hum”, já o Marcelo não se calava e discorria extenso tempo, horas, sobre todo e qualquer assunto. Foram apanhados à conversa, repreendidos e o namoro terminou nesse preciso instante.
Todas estas e muitas outras histórias de adolescente do presidente Marcelo podem ser lidas em muitas e diversas revistas especializadas neste tipo de temas, é só escolherem.
Tal como o Marcelo, também nós tivemos devaneios adolescentes. Na nossa juventude só havia uma estação de televisão, a RTP, e as imagens que víamos eram exatamente as mesmas que todos os outros viam. Atualmente há uma escolha quase infinita, mas naquele tempo, a seguir à hora de jantar, a única coisa que havia para ver eram as telenovelas vindas do Brasil.
Por assim ser, o modo como sonhávamos, imaginávamos e tínhamos devaneios adolescentes era totalmente influenciado pelas imagens vindas do outro lado do Atlântico. A nós provocava-nos especial fascínio, as imagens do genérico da telenovela “Água Viva”, no qual se via gente a surfar na praia, tendo como pano de fundo as colinas do Rio de Janeiro.
Parecia-nos um sonho que existisse uma imensa cidade à beira-mar, em que bastava atravessar-se a estrada e estava-se logo na praia. Não que nós fôssemos ou sejamos grandes amantes de sol e mar, não desgostamos, mas também não adoramos. Temos o mesmo exato sentimento relativamente ao campo, pois aquilo que verdadeiramente adoramos é a cidade, de andar só por andar pelas ruas e vielas a olhar para os prédios, de ir ao cinema e ver museus e exposições, de estar nos cafés e nas esplanadas com amigos e conhecidos a fazer graçolas e a dizer barbaridades ou, em último caso, de estar em casa a ler e de quando em vez ir à janela e ver a urbe espraiar-se diante do nosso olhar.
Abaixo uma imagem de um largo de Lisboa, onde uma vez nos sentámos no tempo dos jacarandás.
Dada a nossa preferência pela cidade, nos tempos de adolescentes sofríamos bastante, pois uma vez chegado o verão, toda a gente da nossa idade queria ir para a praia, e nós não tínhamos particular interesse em estar constantemente a torrar ao sol e em a ir a banhos.
Nesse contexto, tentávamos afastar os outros da areia e do mar, tentando convencê-los a ir a sítios distintos, para que não andássemos sozinhos. Como calcularão, o resultado destes nossos intentos, em bem mais de 90% dos casos, redundava num autêntico fracasso.
Por frequentemente fracassarmos, ou bem que cedíamos e íamos à praia, ou bem que ficávamos sozinhos, sendo essa a razão, porque quando adolescentes, uma cidade em que para se ir à praia bastava atravessar a estrada, nos parecia uma coisa de sonho, um local admirável.
Se nesse tempo de adolescentes, vivêssemos numa cidade como o Rio de Janeiro, não tínhamos de nos meter numa viatura e apanhar filas de trânsito para chegar ao mar e, assim sendo, bastava atravessarmos a estrada para irmos ter com os outros rapazes e raparigas da nossa idade que passavam o verão inteiro na praia.
Chegado ao areal, continuaríamos a argumentar que há coisas melhores para se fazer do que estar na praia, que vamos lá embora, que já chega, que horas são, que está calor, que está frio, que está vento, que está aqui tanta gente, que a areia se mete nos dedos dos pés, que o mar está revolto e tudo o mais que nos lembrássemos dizer.
Em síntese, o nosso sonho estival de adolescente, era poder chegar num minuto à praia e chatear toda a gente, fornecendo-lhe razões, motivos, justificações e pretextos para se virem embora. Não raras vezes, perdíamo-nos em devaneios e imaginávamos se Cascais, a Caparica ou Carcavelos fossem mesmo à porta de casa, facilmente iríamos moer o juízo à malta com as nossas conversas, nesse cenário de sonho, só precisaríamos de descer a escada, ir lá abaixo, atravessar a rua e começar a debitar frases até à exaustão.
Quem nos lê, há de estar agora a pensar, mas o que nos importa a nós as namoradas de adolescência do presidente Marcelo e essas vossas historietas juvenis. Provavelmente, não vos importa para nada, mas façam de conta que estão numa qualquer sala de espera, e que estão a ler banalidades e coisas sem nenhuma importância, com o único intuito de estarem a fazer tempo.
Vamos então continuar. Há muitos, muitos anos, éramos nós adolescentes, o atual Presidente da República Portuguesa, o Marcelo, claro está, atirou-se ao Tejo e nadou. Nessa já distante época, era candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, sendo a promessa que então fez, a de que o rio em breve haveria de ser propício a banhos.
No entanto, perdeu as eleições e não chegou a presidente da CML, tendo ido antes para vereador. Por consequência, ou não, o Tejo lá permanece tal e qual como estava nesse tempo, ainda que um tanto ou quanto melhor e mais limpo, mas continuando a não ser adequado para se ir a banhos.
A nossa vida de adolescente teria sido muito diferente, se a promessa eleitoral do então candidato Marcelo tivesse sido concretizada. Nesse caso, nem precisaríamos de suspirar ao vermos as imagens do Rio de Janeiro, teríamos a praia em Lisboa, mesmo à porta de casa.
Imagine-se que espreitávamos pela janela, para o lado de lá da rua, e víamos a nossa colega de escola favorita desse juvenis tempos, qual uma Tágide, a banhos no Tejo.
Nessa situação, era só atravessarmos a estrada e irmos ter com ela e dizer-lhe que deixasse lá a praia, que estava vento, que a água estava fria, que o sol faz mal à pele e que, para além de tudo o mais, estávamos com algumas dúvidas a matemática que ela nos poderia tirar, e que queríamos começar já a preparar o mês de setembro, ou seja, o próximo ano letivo e o regresso às aulas. Ela certamente responderia:
- Queres preparar o regresso às aulas…tu…sabes muito. O que tu queres sei eu. Malandro!
Disto isto afastava-se e ia dar um mergulho.
Abaixo, as Tágides, um conjunto escultórico de João Cutileiro, que pode ser visto à beira Tejo, na zona do Parque das Nações.
E então não é, que desde esta semana já se pode ir banhos no Sena. Então não é que os parisienses há décadas que tinham o sonho de irem à praia na cidade e agora já podem!
Graças aos tremendos investimentos realizados no âmbito dos Jogos Olímpicos deste verão que decorrerão na capital francesa, o rio foi despoluído e limpo, e neste momento temos no menu “Paris à la plage”.
Posto isto terminamos como uma antiga canção francesa, na qual se fala de amores adolescentes:
Que reste-t-il de nos amours
Que reste-t-il de ces beaux jours
Une photo, vieille photo
De ma jeunesse
Que reste-t-il des billets doux
Des mois d' avril, des rendez-vous
Un souvenir qui me poursuit
Sans cesse
Comentários
Enviar um comentário