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Best Friends Forever: Almada e Pardal (1ª Parte)


Almada e Pardal são algo acerca do qual não vamos falar na primeira parte desta publicação. Mas é certo que falaremos na segunda, que fica prometida para sábado ou domingo, ou seja, certamente antes de segunda-feira. Neste entretanto, fica este introito como início. Assim sendo, Almada e Pardal fica para a próxima.




Posto isto, quando dois seres se encontram e constatam que em dado momento em ambos, os astros se alinham do mesmo modo, tudo pode acontecer, o resultado é imprevisível. Nessas situações, estamos perante aquilo a que o poeta romântico alemão Johann Wolfgang Goethe chamou afinidades electivas.



Há afinidades de vários tipos e géneros, existem aquelas em que os astros se alinharam em dois seres distintos, e o que daí resulta é apenas, que durante anos, diária e religiosamente, ambos se encontrem no mesmo café, à mesma exata mesa, para passarem umas horas a falar de política e a discutir futebol.

Há afinidades que resultam em grandes amizades e outras em breves namoros ou então em duradouros casamentos. Há também as pequenas afinidades entre duas vizinhas, cujo único resultado visível é ambas passarem o tempo a cortarem na casaca de toda a gente. 

Por fim, há ainda aquelas afinidades que parecem confirmar, que os opostos se atraem. Nesse caso, um resultado possível é ambos andarem continuamente a discutir e a chatearem-se, mas ainda assim, não saberem estar um sem o outro, como sucede por exemplo com as inseparáveis duplas Bucha e Estica e Tom e Jerry.



O alinhamento dos astros entre dois seres e as suas consequentes afinidades, não pressupõe que ambos compartilhem os mesmos gostos, que possuam opiniões semelhantes, expectativas idênticas ou que tenham a mesma visão do mundo. O que indica sim, é que um e o outro se encontram, se compreendem e se entendem perfeitamente, e isto por muito diferentes que eventualmente possam ser.

Não é assim tão raro que haja afinidades entre dois seres, que resultem num relacionamento romântico, tal como também não é invulgar, que certas afinidades deem em amizade, não sendo igualmente incomum, que algumas afinidades tenham como único resultado ambos irem juntos à bola, fazerem umas petiscadas e beberem uns copos, e por fim, também não é inabitual que haja afinidades cujo exclusivo fruto sejam conversas, que tanto podem ser de vizinhas, como de café, como de chacha.

O que já é raro, invulgar, incomum e inabitual, é que as afinidades existentes entre dois seres se traduzam em trabalho conjunto, em obra realizada em equipa. É célebre o caso de Vicent Van Gogh e Paul Gauguin.

Em Paris, Paul e Vicent eram desde há muito grandes amigos, partilhavam as mesmas ideias estéticas, e tanto um como o outro eram incansáveis, produziam sem parar obras memoráveis, que de um certo modo revolucionaram a história da arte.

Tinham enormes afinidades e assim sendo, era muito natural que decidissem trabalhar juntos, razão pela qual, se alojaram numa casa em Arles, no sul de França. O resultado foi desastroso, as afinidades não desapareceram, mas surgiram os confrontos e os desentendimentos, e tudo acabou mal.

Na mesma noite em que Gauguin deixou, irritado, a casa que dividiam, Van Gogh, transtornado, decepou a sua própria orelha. 

Gauguin arrancou, fez-se à estrada, mesmo que tenha ido de barco (a estrada aqui era uma metáfora como já terão percebido), e foi para o Tahiti, onde viveu como quis, sempre rodeado de belas nativas. A mais célebre obra que aí realizou intitula-se "De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?"



Já o Van Gogh é que ficou sem saber de onde vinha, quem era e para onde ia. A coisa foi de tal maneira, que teve de ser internado num manicómio em Saint Rémy. A sorte dele é que por lá havia muitos girassóis e foi assim que se entreteve durante uns tempos. Hoje, tais girassóis, valem milhões.

Aqui o vemos retratado do seu melhor lado, que era o cortado. 



Mas se essa afinidade e consequente tentativa de trabalharem conjuntamente acabou por não correr bem, outras houve, ainda que raras, em que tudo correu melhor.

Vejamos então um exemplo em que dois seres, com muitas e diversas afinidades, conseguiram produzir obra conjunta e não só andar nos copos, em petiscadas e em conversas de café. 

Falamos-vos de Sergio Leone e de Ennio Morricone.
A obra conjunta que produziram era algo improvável, com efeito, nos anos 60 do século XX, décadas após o tempo áureo dos westerns, puseram-se a fazer filmes de cowboys. Um realizou-os, Sergio Leone, e o outro musicou-os, Ennio Morricone. 

Como eram ambos italianos, ou seja, não viviam nos bons USA, os westerns que conjuntamente conceberam,  ficaram para a história com a designação de westerns-spaghetti.

Abaixo o trailler de "O Bom, o Mau e o Vilão". Só por este pedaço de película, é impossível não ver a afinidade entre a música de Morricone e as imagens de Leone. 

A afinidade entre os dois podia ter resultado apenas em irem passear, jantar fora, beberem um Chianti e demais atividades próprias de La Dolce Vita, ou pior ainda, de Il Dolce Far Niente, mas não, conjuntamente fizeram uma imensa obra. Aqui fica o aperitivo para quem a quiser conhecer: 




Uma outra afinidade que deu em obra concretizada foi a de Merce Cunningham, que foi o maior bailarino e coreógrafo norte-americano, e Robert Rauschenberg. 

Comecemos por este último, cuja arte era disruptiva. 
Abaixo a imagem da sua mais famosa obra:



Como já terão verificado pela imagem acima, a obra e o estilo de Rauschenberg  puxam à dança. Por assim ser,  Merce Cunningham usou obras de Rauschenberg como cenários das suas coreografias. A afinidade entre ambos era mais que evidente, de tal modo que  conseguiram, ao contrário de Van Gogh e Gauguin, produzir uma grande quantidade de espetáculos e trabalhar conjuntamente durante anos. 

Aqui fica uma fotografia de uma coreografia de Merce Cunningham para que os nossos leitores possam descobrir a afinidade que tinha com Robert Rauschenberg, cuja obra já viram acima:



Como terceiro exemplo de uma dupla com afinidades entre ambos que conseguiram trabalhar juntos e produzir obra, temos Sven Nykvist e Ingmar Bergman. 

O primeiro era fotógrafo, o segundo cineasta. Ambos, conjuntamente, produziram uns quantos filmes em que a fotografia e o cinema não só se misturaram, como formaram uma unidade indissociável.    

Calculamos que todos os nossos leitores sejam profundos conhecedores da obra de Ingmar Bergman, mas também adivinhamos, que talvez a alguns tenha escapado a importância que Sven Nikvist teve nesse contexto. 

Mas não faz mal, abaixo vos deixamos um episódio de "The film snob`s dictionary" que explica perfeitamente a relação entre Bergman e Nikvist, e ainda acrescenta mais uns quantos pormenores da biografia e filmografia deste último.  



Finalizamos por aqui, uma vez que cumprimos a promessa de não falar do que anunciámos no título, ou seja, de Almada e Pardal. Como já está prometido, vai ser na próxima.

Mas mesmo antes de irmos embora, uma outra afinidade, Bogart e Bacall. Ela teria dezanove anos, ele já iria nos quarenta, ainda assim trabalharam juntos e entenderam-se perfeitamente. Tudo se iniciou com esta primeira cena do filme "Ter ou não ter", em que ela lhe diz "If you want me, just whistle".

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