Iniciamos hoje uma série de textos dedicados à América. Série essa, que durará até ao dia da próxima eleição presidencial nos Estados Unidos. O título genérico da série é “On the Road”, sendo que, em cada dia iremos a um lugar ou a um assunto distinto.
Começamos pela capital, Washington. A foto de capa acima é de Robert Frank (1924-2019), e faz parte do seu clássico álbum fotográfico “The Americans”.
A América prepara-se para ir a eleições e decidir o seu futuro, o que por arrasto vai também determinar o porvir de grande parte da humanidade. Da Rússia a Gaza, de Israel à Ucrânia, em Taiwan e no México e em qualquer uma das capitais europeias, todos estão suspensos do que vai acontecer na América.
Guerras, conflitos, negócios, políticas, investimentos, alianças internacionais e tudo o mais, estão completamente condicionados pelos resultados eleitorais norte-americanos. Dito isto, a ver vamos.
Abaixo uma imagem de “Triple American Flag (1958)” de Jaspers Johns.
Em Portugal, como no resto da Europa, há muito quem pense que os americanos são tontos e incultos. Não faltam histórias em que os americanos aparecem como uns seres broncos, um tanto ou quanto pacóvios e com alguma falta de maneiras.
Nós não compartilhamos de tais opiniões, aliás, pensamos exatamente o oposto. Por muitos problemas que os bons USA tenham, e têm-nos abundantes, a América é o melhor e mais evoluído país do mundo. Há muita pobreza, há racismo, existem tiroteios nas escolas e não só, há políticos ridículos e tudo isso, mas ainda assim, não há outra nação que se lhe iguale.
Em lado nenhum do mundo há tanta inovação, criatividade e liberdade como na América, é na verdade “The land of the free and the home of the brave”.
O impulso inicial que levou à criação dos Estados Unidos da América foi o desejo que todos pudessem ser livres e ter oportunidade de procurar a sua própria felicidade. Não há outra Declaração de Independência em todo o planeta, que tenha em si inscrita a procura da felicidade (The Pursuit of Happiness) como um direito fundamental.
A capital da nação, Washington, é bem o reflexo desse generoso desejo que todos possam ser livres e felizes. Washington é também um enorme desmentido, a quem diz que os americanos são broncos e incultos. Não há outra capital, nem na Europa nem em lado nenhum do mundo, em que esteja tão patente a aspiração de educar, de inovar, de ilustrar e de cultivar as gentes, como na cidade de Washington.
A cidade foi construída de raiz a partir de 1791, e por todo o lado vemos a intenção de fazer com que as populações se eduquem, se cultivem e alarguem os seus horizontes. Vamos a alguns exemplos.
Certamente que na Europa há bons museus, mas tirando uma meia-dúzia deles, nenhum consegue ser melhor do que a National Gallery of Art. Não vale sequer a pena fazer comparações com os museus portugueses, pois em Washington, em termos culturais, joga-se noutro campeonato.
Na National Gallery of Art há obras de todos os grandes artistas que alguma vez existiram, desde Vermeer a Van Gogh, passando por Rembrandt, Leonardo da Vinci ou Raphael, mas também por Cézanne, Miró ou Pollock.
Aconselhamos-vos vivamente a verem o vídeo abaixo, intitulado “Our National Gallery: Of the Nation, For the People”, pois ele explica muito bem e em breves minutos, qual o importante papel que os museus e a arte têm na vida de uma nação:
Dizer a nação norte-americana, é o mesmo que dizer os muitos povos que a compõem. É certo que a National Gallery of Art possui nas suas coleções algumas das melhores obras de arte da história da humanidade, mas é igualmente certo que se foca fundamentalmente na arte ocidental, assim sendo, sendo Washington a capital de toda a gente, aí foi construído o National Museum of African American History.
A cultura afro-americana é uma parte inalienável da América, sem ela, nunca teria por exemplo existido o Jazz. No entanto, a sua contribuição para a identidade da América é muito mais vasta do que isso, razão pela qual foi erguido um imenso museu que se dedica exclusivamente a esse assunto.
Como se pode ver na imagem acima, a arquitetura do museu inspira-se nas habitações tradicionais de África e nos seus materiais, mas tudo isso é reinterpretado numa linguagem contemporânea.
Quem quiser ver uma reportagem que nos mostra o espectacular interior do National Museum of African American History, mais não tem que fazer que clicar no link abaixo:
Antes dos europeus chegarem à América, já lá havia tribos de índios. Muitas dessas tribos foram bastante mal-tratadas e algumas até dizimadas. Todavia, também toda essa gente tinha a sua cultura, as suas tradições e costumes. No sentido de reparar uma injustiça histórica e de a todos dar a conhecer a riqueza da cultura indígena norte-americana, ergueu-se em Washington o National Museum of the American Indian.
Das suas coleções constam milhares de objetos artísticos e artefactos, que representam 12 000 anos de história de cerca de mil e duzentas tribos nativas existentes por toda a América. Também neste caso, o edifício espelha ancestrais modos de viver, mas mostrando-os e representando-os de uma forma moderna e contemporânea.
Uma outra cultura que faz parte da identidade norte-americana é a asiática, razão pela qual, também existe em Washigton o National Museum of Asian Art.
Mas para além da cidade capital ter importantes instituições dedicadas às mais diversas culturas que constituem a nação norte-americana, tem também museus dedicados à memória da humanidade. Entre eles, cumpre destacar o United States Holocaust Memorial Museum.
Entrar nesse museu faz-nos de algum modo perceber as razões pelas quais o povo judeu esteve prestes a ser exterminado. Conseguimos compreender que os preconceitos, a indiferença e a maldade são forças poderosas, capazes até de aniquilar um povo inteiro.
No entanto, o United States Holocaust Memorial Museum é um gesto de esperança, pois o seu pressuposto é que todos os que conhecem verdadeiramente culturas diferentes das suas, compreendem que a humanidade é só uma, e que a sua beleza está em manifestar-se nas mais diversas formas, tradições e costumes.
Se continuarmos o nosso passeio pela capital norte-americana, descobrimos que nela há muito mais para ver, e que o desejo dos que continuamente a constroem, de educar e cultivar a nação, se expande também pelas ciências, sendo por isso que lá existe o gigantesco Natural History Museum.
Existe igualmente em Washington o The National Air and Space Museum, onde o que não falta são aviões, foguetões e naves espaciais.
Poderíamos continuar a elencar mais uns quantos excelentes museus de Washigton que foram erguidos com o objetivo de dar uma visão ampla e profunda aos norte-americanos sobre que é a arte, a cultura e a ciência, contudo, cremos que o nosso ponto está feito, ou seja, não há outra nação no mundo que tanto tenha investido na educação da sua população como os Estados Unidos da América.
Por assim ser, quando alguém diz que os americanos são broncos, pacóvios ou incultos, o mais certo é que essa generalização seja um completo equívoco. Tomara Portugal e muitos outros dos restantes países do mundo, possuírem só uma pequena parte das instituições culturais e educativas que existem tão-somente numa única cidade, a capital da América, Washington.
Para terminarmos, um postal:
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