Continuamos a nossa volta pela América e nesta segunda a etapa vamos dedicar-nos aos fotógrafos a cores. Os Estados Unidos sempre tiveram grandes fotógrafos, sendo que a maior parte deles trabalharam a preto e branco, como por exemplo, Ansel Adams (1902-1984).
Ansel Adams retratou os grandes espaços norte-americanos, dando assim a ver a magnificência da paisagem natural de um país, que se via a si mesmo como imenso, portentoso e deslumbrante.
No entanto, nós hoje vamos ignorar todos esses grandes fotógrafos a preto e branco, e vamos concentrar-nos em três que trabalharam as cores: William Eggleston, Garry Winogrand e Joel Meyerowitz.
Começamos com William Eggleston, que nasceu 1937 em Memphis, Tennessee, e que ainda não morreu. Abaixo uma imagem sua.
Ao escolher trabalhar a cores, Eggleston quebrou uma regra estabelecida, pois até aí, a fotografia artística só existia a preto e branco. Considerava-se que a fotografia a cores era adequada apenas para postais ilustrados e para outros produtos menores ou exclusivamente comerciais.
Pensava-se há umas décadas, que uma foto a cores não teria a necessária dignidade para ser elevada à categoria de arte, todavia, Eggleston acabaria por provar o contrário.
Mas Eggleston fez mais do que fotografar a cores, fotografou aquilo que é banal e quotidiano. Não retratou paisagens grandiosas, nem momentos especiais, nem pessoas heroicas, mas tão-somente gente comum, a fazer qualquer coisa de absolutamente vulgar e em lugares completamente triviais.
Nas fotografias de Ansel Adams a América aparece-nos a preto e branco como um país grandioso, imenso, com magníficas paisagens, altas montanhas e vastos bosques, já nas fotografias de William Eggleston, é quase o contrário. A América aparece-nos nas fotos de Eggleston com cores um tanto ou quanto berrantes e algo corriqueira e plebeia. No entanto, não há como negar, que o irrelevante e corrente também tem a sua beleza.
Um segundo fotógrafo que usou a cor para melhor dar a ver a essência de uma certa América foi Garry Winogrand (1928-1984). A imagem de marca de Winogrand consiste em apresentar imagens fragmentárias, com um carácter ambíguo que resulta de vermos uma enorme quantidade de elementos, e termos à nossa disposição uma vasta informação visual, que nos faz hesitar sobre o sentido daquilo que estamos a contemplar.
Não é de todo em todo claro qual o significado do que se está a passar nas fotografias de Garry Winogrand, todavia, aquilo de que não nos resta quaisquer dúvidas é que estamos diante de imagens que de algum modo refletem a complexidade e a variedade da América.
Ao contrário do que sucede noutros países e culturas, a identidade da América não é unívoca, alberga em si imensas contradições, culturas muito distintas e, sobretudo, uma vitalidade que se manifesta numa pluralidade de caminhos que se abrem nas mais diversas direções.
Se quisermos pensar nas imagens de Garry Winogrand, a principal coisa que temos de ter em atenção, são as as palavras que ele próprio disse: “Photography is not about the thing photographed. It is about how that thing looks photographed.”
Talvez o exemplo da imagem abaixo seja esclarecedor. Se pensarmos bem nada se passa, há apenas uns quantos empregados de escritório que saem para ir almoçar e uma mulher que sentada apanha um pouco de sol. No entanto, mesmo nada se passando, parece que alguma coisa se passa ou se vai passar. O que será, isso depende de olhar e imaginação de cada um. No fundo essa a beleza da América, uma nação onde “Anything can Happen”.
O terceiro e último fotógrafo a cores norte-americano que vamos falar é Joel Meyerowitz, que nasceu em 1938 em Nova Iorque. A obra deste artista resume-se de uma forma simples, olha para o que há à sua volta, fundamentalmente para o que é simples, singelo e prosaico, e tenta ver aí qualquer coisa de excepcional, de quase milagroso. Vendo-o, tira uma fotografia, como ele diz “to see something ordinary, something you’d see every day, and recognize it as a photographic possibility”.
Uma das mais belas fotos de Joel Meyerowitz é esta mais abaixo. O que vemos é uma jovem rapariga numa esquina. Espera por alguém? Por um táxi? Estará simplesmente parada? Não sabemos.
O que sabemos é que ao fundo da rua se vê o Empire State Building, que tal como a rapariga se ergue elegantemente traçando uma linha vertical. Sabemos também, que estamos no verão, ao cair do sol. Sabemo-lo não apenas pelas vestes leves da rapariga, mas também pelo modo como o sol se reflete num prédio, uma luz tão típica dessa zona do West Side de Manhattan nessa época do ano ao fim do dia.
E depois há luz esverdeada no interior da loja e o verde do vestido, assim como as bananas amarelas, o dourado da fronte do estabelecimento e, mais uma vez, no prédio ao fundo da rua o reflexo dos crepusculares raios solares. Em síntese, é um daqueles momentos em que “something ordinary, something you’d see every day, and recognize it as a photographic possibility”, nos aparece como quase um milagre.
E pronto, com isto terminamos a nossa viagem pela América dos fotógrafos a cores, mas mesmo para finalizar, uma última imagem de Joel Meyerowitz, esta de gente sentada à espera sabe-se lá do quê, ou se estão sequer à espera. É assim a América, nunca se sabe.
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