O que este, como outros quadros de
Edward Hooper nos mostram, é que as solidões americanas não são necessariamente
tristes, quando muito, e nem sempre, podem ser meramente melancólicas.
A esse propósito, há uns tempos, o
The New Yorker publicou um artigo cujo título até tinha o seu quê de alegre, “The Delight of Edward
Hopper’s Solitude”, aqui fica:
https://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/the-delight-of-edward-hoppers-solitude
Na verdade, o que nós gostamos nos americanos, é precisamente dessa sua qualidade que lhes permite não ver na solidão um problema, mas sim uma forma de ser e de estar.
Mais uma vez repetimos, os americanos não são egocêntricos, insensíveis ou
egoístas, muito pelo contrário, têm até um alto sentido de comunidade, do que
não abdicam é da sua individualidade.
A noção de
comunidade não os faz esquecer que, sejam quais forem as circunstâncias, e que
mesmo fazendo todos nós parte de uma família, de um bairro, de uma
localidade ou de uma nação, o que efectivamente e em última instância somos, é
indivíduos, cada um com as suas características, vontades e particularidades.
Na imagem acima vemos uma imagem do álbum fotográfico de Robert Frank (1924-2019), “The Americans”.
Nessa foto, como em muitas mais do mesmo autor, vislumbramos essa condição única que é ser americano, ou seja, o saber-se que se faz parte de uma família, de uma vizinhança ou de um país, mas que, “at the end of the day”, por muito que sejamos um conjunto, é importante nunca esquecermos, que cada um de nós é um individuo que tem o seu próprio caminho.
Como cantava Frank Sinatra: “I
traveled each and every highway, and more, much more than this, I did it my
way”. Abaixo,
mais uma foto de Robert Frank do álbum “The Americans”, em que cada um segue o seu caminho.
Pensemos nos Westerns. Os Westerns são para a América aquilo que a Odisseia ou a Ilíada eram para a Grécia. Enfim, é impossível compreender a mitologia norte-americana sem se saber quem foi John Wayne, tal e qual como é impossível perceber-se a história grega não se sabendo quem foi Ulisses.
De entre todos os filmes de John Wayne há um em particular que mostra bem que a solidão americana não é uma condição, é sim uma escolha, e, ao mesmo tempo, um destino.
O filme de que falamos é "The Searchers", em português, "A desaparecida". A sinopse é simples, John Wayne é chamado pela sua família para ir em busca da sua sobrinha que foi raptada pelos Comanches. Ele lá vai, e anda o filme inteiro à sua procura. No fim, encontra-a e trá-la para casa. Aí chegado, entrega-a. O herói e cowboy cumpriu a sua missão.
Dito isto, a mais profunda das cenas cinematográficas norte-americanas é quando se vê John Wayne partir, com o seu típico modo de andar, deixando para trás a sobrinha e respetiva família.
Esforçou-se pela sua comunidade, colocou a sua vida em risco, percorreu vales e pradarias, mas no final vira as costas ao lar e, com a luz defronte, parte sabendo que, seja lá como for, o seu caminho é solitário, como o de qualquer lenda americana.
É provável que a mais sentida voz da poesia norte-americana tenha sido Emily Dickinson. A escritora nasceu em Amherst, no Massachusetts, nos Estados Unidos, em 10 de dezembro de 1830.
Emily Dickinson ficou conhecida pela sua reclusão e solidão, vivendo praticamente isolada no seu quarto. Ela escreveu intensamente, mas não publicou mais de dez poemas durante a sua vida inteira. Ainda assim, é a voz da América.
Deixamos-vos um dos seus mais conhecidos poemas, um em que se fala da dificuldade americana em ser-se alguém para outro alguém, na verdade, como argumentámos ao longo de todo este texto, a essência primeira da América é a solidão.
Are you – Nobody – too?
Then there’s a pair of us!
Don't tell! they'd advertise – you know!
How public – like a Frog –
To tell one’s name – the livelong June –
To an admiring Bog!
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