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On the road (6): e na América, há Cidadania?


Nos Estados Unidos da América não se discute a existência de uma disciplina dedicada à cidadania nas escolas, existe e pronto. Recorde-se que na América não há um currículo nacional para qualquer que seja a disciplina, cada estado e/ou comunidade tem o direito e a liberdade de construir e implementar o seu próprio currículo escolar.

Dadas as circunstâncias, era expectável que existissem inúmeras diferenças, e assim é, havendo efetivamente uma infinitude de currículos distintos. Contudo, o facto é que em todos os estados existe uma disciplina dedicada à cidadania, sendo que estas são muito diferentes consoante os sítios.

Um tema transversal a todo o país é a preocupação com o envolvimento dos alunos em assuntos relacionados com política, mas vai-se muito para além disso. A National Education Association, instituição fundada em 1857 em Filadélfia e que tem sede na capital da nação em Washington, publicou há tempos um cartaz em que explicita quais os pressupostos da disciplina de Cidadania (Civics) na América. Aqui fica:


Citemos um parágrafo retirado do site da National Education Association: “One of the primary reasons our nation’s founders envisioned a vast public education system was to prepare youth to be active participants in our system of self-government. The responsibilities of each citizen were assumed to go far beyond casting a vote; protecting the common good would require developing students critical thinking and debate skills, along with strong civic virtues.”

Se nós fôssemos cidadãos norte-americanos, faríamos imediatamente uso da total liberdade curricular que por lá há, e criávamos uma disciplina de cidadania cujo currículo se basearia unicamente em filmes, mais concretamente em Westerns.

Só a título de exemplo, aqui vos vamos dizer o que faríamos com uns quantos clássicos de sempre do velho oeste. Mas só para darmos ambiente a esta nossa arrojada, épica e heróica proposta, aqui fica uma melodia para nos pormos “in the mood”, para tais coboiadas.
“In sunshine and shadow, from darkness till noon, over mountains that reach from the sky to the moon, a man with a dream that will never let go keep searching to find El Dorado”:



“My daddy once told me what a man ought to be, there’s much more to life than the things we can see”, e só por aqui, já vemos como os Westerns podem ser educativos. Um pai deveria saber, que tem de dizer ao seu filho, que há muito mais para ver na vida, do que apenas aquilo que tem diante os olhos. Todos nascemos no seio de uma família, temos a nossa terra e país, todavia, isso é sempre pouco.

Existem outros sítios e outras gentes, com outros valores, culturas e costumes, estarmos somente entre os nossos e limitarmo-nos ao que conhecemos, pode ser um aconchego e um sossego, porém, é também e sobretudo, abdicarmos de mais extensos horizontes e de um mais profundo conhecimento do mundo. Assim sendo, a primeira lição de cidadania a retirar de um Western é “ride, boldly ride, to the end of the rainbow, ride, boldly ride, till you find El Dorado.”


Em Portugal, as questões ligadas à sexualidade excitam muita gente, o que à partida seria algo bom e natural. No entanto, toda essa excitação parece estar agora mais direcionada para os conteúdos curriculares da disciplina de Cidadania, nomeadamente para os géneros, do que propriamente para uma qualquer zona erótica. É pena.

Mas também para esse assunto há um Western à disposição, “Johnny Guitar”, um filme de Nicholas Ray realizado em 1954. A personagem principal, Vienna, é interpretada por Joan Crawford. Só o facto de num Western a personagem principal ser uma mulher, já altera um tanto ou quanto o protótipo do género. Do género cinematográfico Western, bem-entendido.

Vienna é proprietária de um saloon e põe e dispõe do seu negócio conforme entende. O seu empregado de bar, diz em determinado ponto da narrativa a propósito dela: “I never met a woman who was more man”.


A verdade é que no velho oeste nem toda a gente aceitava de bom grado a atitude dominadora de Vienna, havia quem a quisesse ver dali para fora. Neste entretanto, Johnny, um antigo amante, regressa, cinco anos após ter partido.

Na realidade, Johnny era mais que apenas um antigo amante, era o homem da vida de Vienna. Ao que se supõe, Vienna era também a mulher da vida de Johnny. Mas mesmo assim sendo, o facto é que se separaram devido a razões que não são absolutamente claras.

Digamos que Johnny era um homem livre e independente, um cowboy a sério, e a determinada altura começou a incomodar-se com a postura segura e afirmativa de Vienna. Johnny não queria uma mãezinha que cuidasse e tratasse dele e o dominasse. Ele era alguém autónomo, habituado a galopar à solta por vales e pradarias e a decidir sozinho porque caminhos seguiria. Dadas as circunstâncias, acabaram por se chatear e ficou cada um infeliz sem o outro na sua respectiva autonomia.

Com toda esta história, já dava perfeitamente para debater na disciplina de Cidadania qual é o suposto papel de homens e mulheres neste tipo de coboiadas, porém, há uma cena do filme “Johnny Guitar”, que por si só é absolutamente perfeita, para que tal discussão escolar fosse ainda mais profícua e aprofundada.

Ao que se assiste nessa cena, é Johnny e Vienna a interpretarem os papéis de género que seriam expectáveis que interpretassem, mas, e simultaneamente, a rasgarem-nos completamente.
As palavras são ditas, as frases são proferidas, tudo o que naquela situação é suposto um homem e uma mulher dizerem um ao outro, é cumprido. Contudo, nessa cena nada quer dizer apenas aquilo que quer dizer, tudo quer dizer muitas outras coisas, facto que redefine completamente a relação homem-mulher e respetivos papéis entre Vienna e Johnny. É ver:



Mas vamos a outro grande Western, “Stagecoach” de 1939, que em português se chama “Cavalgada Heróica”. Foi realizado por John Ford e a trama gira em torno de um grupo de estranhos, que juntos numa carruagem atravessam o perigoso território Apache.

Um grupo de nove pessoas são passageiros numa carruagem, que faz a carreira que atravessa o Arizona, é uma viagem arriscada e todos o sabem, mas cada um deles tem razões poderosas para se fazer à estrada, “On the Road, and here we go”.


Entre os passageiros temos um médico alcoólico, expulso da sua cidade, que procura a sua redenção num outro local. Uma prostituta escorraçada que vai em busca de uma outra vida. Um caixeiro viajante à procura de novos negócios. Um banqueiro corrupto que foge com o dinheiro. Uma jovem mulher grávida que vai encontrar-se com o seu esposo, um soldado destacado numa região distante. Um militar que na Guerra Civil americana combateu pelo lado errado, o que foi derrotado. Um jogador que fez tanta batota, que acha melhor afastar-se para o mais longe possível. Temos ainda o herói do filme, Ringo the Kid, interpretado por John Wayne, que é um fugitivo, pois foi injustamente acusado pela justiça. Para finalizar temos o Xerife que prendeu Ringo the Kid e o acompanha para o conduzir à prisão.


Em síntese, na carruagem viajam alguns dos mais típicos exemplares que atravessam a história da humanidade, desde a antiga Grécia, passando pelo velho oeste e chegando aos dias de hoje. Daqui se depreende, que “Stagecoach” é uma metáfora.


Como diz um dos personagens do filme, muitos dos passageiros da carruagem mais não são do que vítimas de preconceitos sociais. Pelo caminho vão ter de se defender e lutar contra os índios, mas o que na verdade estes simbolizam, são os preconceitos com que alguns dos personagens tiveram de se defrontar ao longo das suas vidas. No final da história, houve quem se redimisse e conseguisse chegar ao fim da viagem, havendo também quem tenha ficado pelo caminho. Ringo the Kid, o herói, acabará por se juntar a Dallas, a prostituta, para daí para a frente fazerem uma vida conjunta.

O que filme nos ensina é uma lição de cidadania, na carruagem, como na sociedade todos têm o seu lugar, e, mais do que isso, há sempre uma esperança de redenção e integração, mesmo para os malditos, expulsos e escorraçados.



O próximo Western é “The Man Who Shot Liberty Valance” de 1962. O realizador é outra vez John Ford. A história mostra-nos a luta que sempre existe entre a lei estabelecida e aqueles que querem fazer justiça pelas suas próprias mãos.

A lei é no filme representada por James Stewart, sendo que, John Wayne representa quem crê que cada um pode fazer justiça por si próprio, nem que seja com uma pistola ou uma espingarda.

Não vale a pena alongarmo-nos na história, o que efectivamente é importante saber-se é que Liberty Valence era alguém, um fora-da-lei, que atemorizava toda a gente para assim impor a sua vontade.
John Wayne interpretava um homem bom, justo e recto, que combatia Valence, o mal, com uma pistola. Já James Stewart tentava que tudo se resolvesse através de procedimentos legais, ou seja, abrindo processos, havendo julgamentos e deixando que fossem os tribunais a decidir qual o destino dos bandidos.

Em síntese, estamos perante dois homens bons, Stewart e Wayne, mas concepções opostas sobre a justiça. O primeiro acredita na lei e nos seus procedimentos, o segundo em despachar rapidamente os assuntos e em despachar à bala os maus.


O momento culminante do filme é quando ambos, Stewart e Wayne, se encontram cara a cara com Valence, o mau da fita. Stewart advoga que ele tem de ser levado à justiça, mas ameaçado por uma pistola, hesita, e ele próprio, um homem de leis, enverga uma arma. Wayne só quer disparar, mas as conversas que ao longo do filme foi tendo com Stewart, fazem-no duvidar da validade de se fazer justiça pelas próprias mãos.

Em resumo, perante a ameaça de Valence, alguém dispara. Terá sido Wayne, o bom pistoleiro? Terá sido Stewart, o homem das leis? Não sabemos, e é precisamente por não o sabermos, que o filme é excelente para se debater questões da disciplina de Cidadania. Perante o mal devemos agir por nós próprios para o eliminar, ou devemos confiar na justiça, nas leis e nos tribunais?

Tudo isto se passa num restaurante, onde de repente entra Valence, o mau. Stewart ajudava na cozinha e a servir a clientela. Já Wayne estava sentado numa mesa, a um canto. Vejamos o que sucede por causa de uns bifes.



Com já vimos, nada ficou resolvido com os bifes e, uns momentos depois, a tensão subiu e todos se encontram cá fora, ao escuro. Eles não o sabem, mas nós, os espectadores, sabemos, é um duelo a três.
Stewart e Valence estão frente a frente, mas Wayne está escondido, mesmo ali ao lado. Valence é alvejado, terá sido o homem das leis, Stewart? Ou terá antes sido Wayne, o pistoleiro justiceiro?

Talvez a discussão sobre quem e porque foi alvejado Liberty Valence desse para um ano lectivo inteiro de Cidadania, pois todas as grandes questões jurídicas e filosóficas relativas à justiça, estão contidas nessa breve cena de apenas alguns minutos:



Para finalizarmos esta nossa humilde proposta para uma disciplina de Cidadania cujo currículo se baseasse em Westerns, “Rio Bravo”, um filme de Howard Hawks de 1959.


A lição de cidadania a retirar deste filme, é a de que, por vezes todos podem estar contra nós, mas que isso não significa que estejamos errados. Se tivermos a alma limpa e o coração no lugar certo, por muitos que venham em sentido oposto, ainda assim, podemos ser nós os que estamos correctos.

John Wayne é em “Rio Bravo” um Xerife que quer que uns bandidos sejam presentes a julgamento e não linchados, como toda a cidade prefere. Socorre-se de um bêbado, Dean Martin, de um velho e de um miúdo. Todos juntos lutam contra a populaça da cidade para fazerem prevalecer a lei e a ordem.

Os quatro são cercados e por todos abandonados, e fazem da esquadra do Xerife, o seu refúgio. Sabem que chegado o dia vão ser atacados por toda a cidade, mas passam a madrugada a conversar, a conviver e a cantar. Sabem que contra tudo e contra todos, eles são os justos, por isso estão tranquilos.

Aqui fica a canção, um hino dedicado aos indivíduos de coração puro e mente clara, ou seja, aos que sabem que a turba, por muito numerosa que possa ser, não raras vezes está errada. E isso é também uma importante lição de Cidadania. Para finalizar, “My Rifle, My Pony, and Me”:


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