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Ba…ba…bau…bau…Bauhaus

  


A imagem é de uma chaleira, mas não de uma qualquer. A dita chaleira foi desenhada por Marianne Brandt (1893-1983), que foi a melhor e mais genial aluna da escola Bauhaus. Marianne Brandt foi uma pioneira, tendo na escola da Bauhaus frequentado as aulas de pintura de Paul Klee e Wassily Kandinsky, bem como as de design lecionadas por Josef Albers, e ainda as de fotografia dirigidas por László Moholy-Nagy.

Para além disso, também andou em dança e escultura. É tudo isto, ou seja, pintura, design, fotografia, escultura e dança, que vemos na chaleira desenhada por Marianne Brandt. Abaixo uma imagem de uma pintura da artista, Marianne, a mesma da chaleira.



Na reitoria da Universidade de Lisboa está agora patente uma exposição intitulada “Bauhaus + Ulm - design e ensino: o impacto da pedagogia no design”. Como se adivinha pelo título da mostra, o objectivo é dar a ver objectos de design provenientes da escola Bauhaus, e pensar o modo como estes resultaram de uma nova pedagogia de ensino. Abaixo o site da exposição com mais informação:

https://www.ulisboa.pt/evento/bauhaus-ulm-design-e-ensino-o-impacto-da-pedagogia-no-design

A Bauhaus foi uma escola fundada em 1919, cuja intenção primeira era combinar de forma transversal arquitetura, design, artesanato e artes. A escola começou por se instalar na histórica cidade de Weimar, mas em 1925 mudou-se para Dessau e depois, em 1932 para Berlim. No ano seguinte, devido à perseguição movida pelo recém-implantado regime nazi, foi encerrada.



Na Bauhaus acreditava-se que os métodos de ensino deveriam estar relacionados com propostas de mudanças nas artes e no design. Sendo um dos principais objectivos da Bauhaus unir as artes, o ensino baseava-se num percurso comum para a arquitetura, para a pintura, para o design de interiores, gráfico e industrial, e até para a tipografia.

 Valorizava-se igualmente os métodos artesanais e a forma de os articular com a produção industrial. Assim sendo, o trabalho colaborativo entre gente de muitas e diversas áreas era uma das bases fundamentais da sua pedagogia.

Na imagem abaixo podemos observar alguns dos muitos diferentes tipos de produtos saídos da Bauhaus, desde cadeiras a edifícios, passando por relógios e mesas, e até pelas pinturas abstractas de Paul Klee ou Kandinsky.



A escola da Bauhaus foi também importante para o desenvolvimento da fotografia artística, e não só. Talvez László Moholy-Nagy tenha sido o maior fotógrafo vindo da Bauhaus. Tendo aí leccionado, aproveitou também para criar imagens inusitadas e altamente experimentais, mostrando-nos perspectivas e planos que antes dele praticamente ninguém usava. Abaixo uma foto sua de 1927 intitulada “Varandas da Bauhaus em Dessau”.



Uma outra diferença que havia na Bauhaus relativamente às escolas mais tradicionais, era que também lá estudavam muitas mulheres. Uma delas foi Grete Stern, uma grande figura da fotografia, pelo espírito de vanguarda que caracterizou o seu trabalho. Nasceu em 1904, em Elberfeld, na Alemanha, e faleceu aos 95 anos, em Buenos Aires, na Argentina.

As suas fotomontagens, para além de serem extremamente inovadoras e originais, são também altamente poéticas, como se pode verificar por esta abaixo:



A Bauhaus foi tão transversal, que a sua influência se estendeu até à dança. Oskar Schlemmer (1888-1943) foi um multi-artista alemão, pintor, escultor, designer e, sobretudo, coreógrafo. Enquanto professor da Bauhaus, criou o seu mais famoso trabalho: Triadisches Ballet. Uma coreografia em que os dançarinos fantasiados de representações geométricas do corpo humano, apresentam em palco aquilo que ele descreveu como uma "festa de forma e cor”.

É com alguma frequência, que essa coreografia tem sido reencenada ao longo dos tempos, aqui fica uma reportagem de um desses momentos:


Como já vimos, a escola foi encerrada em 1933 devido às perseguições nazis, todavia, a importância da Bauhaus estendeu-se por todo o século XX e igualmente pelo XXI. É difícil, que num qualquer dia normal, seja em Berlim, em Nova Iorque, em Lisboa ou até em cidades menores ou pequenas vilas, não nos deparemos com um qualquer objecto que foi originalmente concebido nessa escola.

Vejamos três dos mais icónicos objectos da Bauhaus, que de modo regular encontramos em escritórios, consultórios, aeroportos, cafés ou até em lares familiares. O primeiro é a Cadeira Wassily, desenhada em 1925 por Marcel Breuer.

Não raras as vezes, encontramo-la ainda ao dia de hoje, em agências bancárias, escritórios e não só.

O segundo objecto icónico, é o conjunto de mesas de chá desenhadas por Josef Albers em 1926. Já as temos vistos em cafés e restaurantes e igualmente em algumas salas de estar e em inclusivamente em creches.


O terceiro e último objecto, é o candeeiro desenhado em 1923 por Wilhelm Wagenfeld. É só olhar para se verificar, que o candeeiro não perdeu nada da sua sofisticação original, e que um século após ter sido concebido, continua a ser tão elegante e moderno, como o era há cem anos, quando foi desenhado.



Mas a estes três objectos icónicos, poderíamos acrescentar dezenas de outros, que vieram trazer a alegria das formas e das cores a muitas vidas. Desde obras de arte, até almofadas, toalheiros e lençóis, a Bauhaus foi uma autêntica fábrica de originalidade e criatividade, que mudou para sempre o aspecto e o dia a dia das nossas casas, cidades, bancos, aeroportos, restaurantes, escolas e tudo o mais.

 


Dito tudo isto, era suposto que essa herança fosse celebrada e acarinhada, mas não. Recentemente, a extrema-direita alemã voltou a atacar a Bauhaus, um século depois. Tendo sido perseguida pelos nazis nos anos 20 do século XX e, em consequência disso, encerrada, a escola de arte, arquitectura e design, que desde a sua origem foi um sinónimo de modernidade, volta agora a ser posta em causa, neste caso, pelo seu legado.

Políticos da AfD disseram que discordavam da estética da arte da Bauhaus, citamos. “A ênfase na sobriedade e no minimalismo frequentemente levou a uma arquitetura impessoal que é percebida como fria, pouco acolhedora e pouco atraente”.

 

Acrescentaram os referidos políticos, que a escola Bauhaus priorizou uma “uniformidade” na sua estética e tal estimulou “uma diluição de características regionais e uma padronização da arquitetura e do design, o que é prejudicial à diversidade cultural”.

 

Perante a acusação da arquitetura da Bauhaus ser fria, pouco acolhedora e atraente, o que temos para isso contrariar é, nem mais nem menos do que Telavive.

A cidade foi erguida em meados do século XX, não muito distante do quente deserto, e destinada a albergar todos aqueles que lá chegavam praticamente sem nada.

Foi toda ela construída no estilo Bauhaus, pois muitos tinham sido os arquitetos, engenheiros e designers alemães, mas simultaneamente judeus, que tinham emigrado para o novo estado de Israel.

Hoje em dia, Telavive é património mundial precisamente por ser em estilo Bauhaus. Significa isto que essas formas arquitetónicas acolheram, aqueceram e alegraram todas essas pessoas que escaparam ao holocausto. Ora bem, se aqueles que foram sujeitos às mais terríveis sevícias se sentiram abrigados pela arquitetura Bauhaus, não há dúvida nenhuma que esta não é impessoal, fria e desacolhedora, é exatamente o contrário.

Para que não haja dúvidas que a Bauhaus é até quente, divertida e, porque não dizê-lo regional e, ao mesmo tempo, culturalmente diversa, aqui fica um pequeno filme demonstrativo disso mesmo:

  


O facto é que, o que se fez na Bauhaus nada tinha de impessoal, muito pelo contrário. Peguemos num outro exemplo, o da fotógrafa Grete Stern, de que já antes falámos. Muitas das suas imagens “retratavam” os seus sonhos. Há uns anos atrás, em Madrid, organizaram uma exposição com essas fotomontagens. É fácil de perceber, ao ver, que nada têm de frio e de padronizado:



Para terminarmos esta nossa viagem pela Bauhaus, uma pintura de Kandinsky, que apesar de usar figuras geométricas e linhas retas, nada de sóbrio tem, nem de frio, nem de impessoal.

 


 

 

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