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Quem quer ser profundo, está atento à Coreia do Sul (primeira parte)

 

Lá do outro lado do planeta Terra, no extremo Oriente, de repente, não mais que de repente, e em muito pouco tempo, a Coreia do Sul decidiu invadir o mundo. Não o fez com armas e com exércitos, nem sequer com produtos tecnológicos de última geração ou com produtos comerciais de consumo imediato a baixo preço como outros países asiáticos, mas sim, e de um modo inusitado e inabitual, com a sua cultura.

Logo para começar, os sul-coreanos tomaram conta dos Tops musicais mundiais. De súbito, crianças, adolescentes e jovens só ouviam aquilo a que se convencionou chamar o K-Pop. Bandas vindas do extremo-oriente, sem que se percebesse muito bem porquê, passaram a ser as favoritas da rapaziada mais nova por todo o Ocidente.


Se fizermos uma breve pesquisa na internet, descobrimos que existem teorias, que nos explicam as razões pelas quais as bandas sul-coreanas têm tanto sucesso entre a juventude ocidental.
Tais bandas possuem uma imagem onde a pose é ultra-pensada, sendo o seu “look” embelezado e retocado digitalmente até aos mais ínfimos pormenores. Assim sendo, qualquer jovem ou adolescente de hoje em dia, consegue imediatamente identificar-se com as bandas coreanas, pois é muito provável que também ele/a passe longas horas a embelezar e a retocar as suas próprias fotos e selfies.

Para além disso, os membros das bandas sul-coreanas, sejam estas masculinas ou femininas, cultivam um “look” andrógino e intencionalmente artificial, muito embonecado e infantilizado, características essas, que também estão em perfeita consonância com as vivências, preferências e atitudes da atual juventude ocidental.


Mas dito isto, nós por aqui temos uma teoria diferente. Percebemos perfeitamente que o “look” exageradamente artificial e um tanto ou quanto infantil das bandas coreanas, seja apelativo para os adolescentes e jovens de hoje, que já nasceram a tirar selfies e a fazer retoques com Photoshop, no entanto, temos uma outra ideia para explicar o sucesso da malta da Coreia do Sul no Ocidente.

Por muito estranho que à primeira vista possa parecer, a nossa hipótese é a de que as bandas sul-coreanas têm uma profundidade espiritual, de que a juventude ocidental sente necessidade e falta.

Vendo os “looks” e ouvindo os temas das bandas K-Pop, dir-se-ia que tudo é superficial, descontraído, divertido e ligeiro, contudo, se fizermos uma análise mais a fundo, rapidamente descobriremos que as aparências enganam.

Vejamos o exemplo da banda sul-coreana BTS, a que mais sucesso fez e faz. É a que mais vende numa enorme quantidade de países, aparece recorrentemente nos programas televisivos de maior audiência na América e na Europa, enche estádios gigantescos como o de Wembley em Londres ou o Rose Bowl na Califórnia, e atua repetidamente em eventos de grande prestígio mediático como a cerimónia anual de entrega dos prémios Grammy.

À primeira vista os BTS são sete rapazes muito bonitinhos e também bem penteados e maquilhados. Vestem-se assim tipo “cool”, dançam bem e cantam temas musicais ligeiros. Em síntese, não aparentam ser muito distintos de uma outra qualquer “Boys Band”.
Acrescente-se a isso, que como cantam em coreano, e como no Ocidente serão poucos os jovens e adolescentes que dominam essa língua, ninguém percebe nada do que eles dizem. Sendo assim, como explicar o seu tremendo sucesso, que ultrapassa largamente o de todas as “Boys bands” que existem ou em algum tempo existiram?

A nossa explicação é simples, é porque são profundos. Peguemos num dos seus mais bem sucedidos álbuns, “Map of the Soul: Persona”. Logo pelo título, ficamos imediatamente a saber que os BTS se inspiraram no grande pensador, psicólogo e filósofo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), que dedicou a vida à difícil tarefa de estudar e traçar uma cartografia do nosso mundo interior.

Não seria de todo em todo expectável, que uma mera “Boys band”, se inspirasse num estudioso e pensador como Carl Jung. A nós não nos consta, que os Excesso, os D’Zrt ou os D’Arrasar alguma vez tivessem ido em busca de inspiração nos escritos de Schopenhauer, Kierkegaard, Heidegger ou Nietzsche.

Não é apenas o título, as letras do BTS falam de conceitos jungianos como psique, ego e inconsciente coletivo, dando particular ênfase à ideia de 'persona'.

Persona é uma referência ao teatro. É a palavra latina que designava a máscara que os atores usavam em palco. Todos nós colocamos máscaras, quando estamos em público. Faz parte do que é ser um animal social, a máscara corresponde à nossa necessidade de nos darmos bem com outras pessoas, de se ser educado, de se pertencer a um grupo.

Na cultura oriental, sobretudo no Japão e na Coreia do Sul, a persona é uma parte extremamente importante da vida. Tudo é ritualizado, conduzido e encenado, de modo a que as relações sociais, familiares, profissionais, de amizade ou quaisquer outras mais, decorram com grande urbanidade e tranquilidade.


A forma como nos apresentamos e nos dirigimos a alguém, é algo de absolutamente decisivo no dia a dia no extremo oriente. Razão pela qual, muitos jovens e adolescentes orientais sentem que as suas personas são inadequadas e que não estão suficientemente integrados. Como consequência disso, são muito vulneráveis ao bullying, a problemas de autoestima e a atos suicidas.

São precisamente estes os pontos, pelos quais os BTS têm tanto sucesso tanto a Oriente como a Ocidente. Com o advento das redes sociais, também a imagem dos jovens e adolescentes ocidentais passou a ser algo de absolutamente decisivo para as suas vidas. As selfies, as fotos e o que dizem e escrevem publicamente são atualmente os elementos que constituem a sua persona, a máscara ritualizada com que se apresentam aos outros.

“Quem sou eu? É a questão que enfrentei toda a minha vida / E para a qual provavelmente nunca encontrarei a resposta", cantam os BTS, referindo assim a persona com que se apresentam em palco, que, segundo as suas próprias palavras, os impede de lidarem com suas falhas e conhecerem o seu verdadeiro eu.

Numa das canções da banda, fala-se sobre como encontrar a autoestima a partir de dentro, enquanto noutra se analisa a tendência para se repetir os mesmos erros. Todo o álbum “Map of the Soul: Persona” demonstra um desejo e uma luta pela autenticidade, e uma vontade imensa de quebrar as armadilhas da persona.

Aqui chegados, está então exposta a nossa teoria, que explica as razões pelas quais as bandas sul-coreanas têm tanto sucesso entre a juventude ocidental. Dito isto, ouçamos os BTS, num dos seus mais célebres temas, “Boy With Luv”.

Quem estiver atento às nuances, aos sub-entendidos e a certos pormenores, vai ver e ouvir algo de muito mais profundo, do que apenas um tema de uma mera “Boys Band”:



Deixemos agora o universo K-Pop, mas não a Coreia do Sul. Curiosamente, é nesse país do extremo-oriente o sítio onde mais livros de filosofia se vendem. Aparentemente, os sul-coreanos leem filosofia com a mesma regularidade e facilidade, com que em Portugal se leem as publicações cor-de-rosa e as de bola.

Por cá, há muito quem se dedique a saber quem casa e se descasa com quem, a que festas, casamentos e baptizados as celebridades e as gentes de bem vão e onde passam as férias, assim como há igual número de gente, que acompanha com devoção todas as notícias relativas aos artistas do pontapé na bola e as extensas análises que fazem a uma certa jogada para se averiguar se foi ou não penálti. Já por lá, pela Coreia do Sul, ler Schopenhauer é o que está a dar. Aqui fica uma notícia relativa a esse assunto:


Byung-Chul Han que nasceu em Seoul em 1959, é atualmente um dos mais importantes e conceituados filósofos do mundo. Os seus livros são vendidos aos milhares, seja na América, na Europa ou na Ásia.


A sua obra mais influente é de 2010 e intitula-se “A Sociedade do Cansaço”, nela analisa-se como o mundo contemporâneo se tornou um cenário perfeito para patologias como distúrbios neurais, depressões, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade limítrofe e exaustão.

A sociedade atual exige que na escola, na fábrica, no escritório e até na vida íntima, se atinjam determinados patamares, se cumpram certos objetivos e se alcancem as metas estabelecidas. Caso porventura alguém não o consiga, torna-se de imediato um falhado, alguém que tem um qualquer problema.

Quem assume que tem esse suposto problema, vai ter de se esforçar, de se autorregular, de se concentrar e de trabalhar mais para o conseguir superar. Se ainda assim não o conseguir, a solução é procurar ajuda, pois ele há tantas ao dispor, desde terapias, a apoios, a conselhos de auto-ajuda, a psicólogos, a coachings, havendo também imensos medicamentos que auxiliam as gentes a conseguir corresponder ao que deles se espera e assim aumentarem a sua autoestima, a terem confiança em si mesmos e em melhorar a sua auto-imagem.

Se tudo correr bem, de certeza absoluta que ficarão com uma auto-imagem óptima, dessas que dá para fazer uma excelente selfie que dá milhões de likes nas redes sociais.
Ouçamos Byung-Chul Han: “Quem fracassa na sociedade neoliberal do rendimento crê-se responsável por isso e envergonha-se, em vez de questionar a sociedade ou o sistema. É nisso que consiste a especial inteligência do regime neoliberal. No regime neoliberal da autoexploração, a pessoa direciona a agressividade resultante da sua frustração contra si própria. Essa autoagressividade não transforma o explorado em revolucionário, mas sim num ser depressivo”.


Um outro livro importante deste filósofo é “A Agonia de Eros” de 2012. Aí fala-nos desta nossa sociedade que é cada vez mais dominada pelo narcisismo. O diagnóstico de Byung-Chul Han destaca um conceito a que ele chama “a perda do desejo".
No seu entender, vivemos num mundo em que está a desaparecer a capacidade de se dedicar ao "outro", ao estranho, ao não-eu. Giramos em redor de nós próprios, restringindo-nos a nós mesmos e sendo incapazes de construir relacionamentos com os outros. Mesmo o amor e a sexualidade refletem essa mudança, pois o sexo sem mais, a pornografia e o exibicionismo, estão gradualmente a substituir o amor, o erotismo e o desejo como modos preferenciais de nos relacionarmos.

No seu livro “No Enxame” de 2016, Byung-Chul Han analisa como a internet e as redes sociais transformaram a essência das nossas sociedades. O enxame digital que daí surgiu é uma massa de indivíduos isolados, sem alma, sem qualquer noção de comunidade, que não expressa nada com verdadeiro significado, mas que apenas se agita e faz barulho. A hipercomunicação digital destruiu o silêncio indispensável ao pensamento e à reflexão, substituindo-o por um ruído completamente incoerente e inconsistente, que propicia a que quem grite mais alto acabe por ser mais ouvido o que, por consequência, favorece o aparecimento de ditadores e regimes totalitários.

Para finalizar esta primeira parte dedicada à Coreia do Sul e ao porquê da cultura deste país ter invadido o mundo, seja através da filosofia, seja através das suas bandas de K-Pop, deixamos-vos um vídeo em que se explica o pensamento de Byung-Chul Han:



Amanhã voltaremos com uma segunda parte a contar-vos por que razão quem quer ser profundo, tem de estar atento à Coreia do Sul.

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