De vez em quando, uma pessoa pergunta-se a si mesmo, mas porque existimos? Tal questão surge independentemente de se ser feliz, infeliz ou apenas se ir andando nem mal nem bem, simplesmente com a cabeça entre as orelhas.
“Porque existimos?” é uma pergunta que qualquer ser humano, em alguma ocasião da vida se faz a si mesmo. É normal, é uma consequência natural de sermos seres pensantes. Quem pensa, tem sempre momentos em que reflete, medita e se interroga acerca de si próprio, dos outros, do mundo e de tudo o resto que há e existe.
Dito isto, vamos ao que importa, ou seja, ao porque existimos? Com esta nossa pergunta não pretendemos desvendar os grandes mistérios da criação, os segredos do universo ou qual é o sentido e a razão da existência humana. A nossa questão tem uma abrangência muito mais limitada, pretende tão-somente, saber porque existimos aqui, neste blog.
Na verdade, a questão poder-se-ia resumir do seguinte modo: para que serve e existe este blog? Damos a resposta logo no título deste texto, a saber, para desarrumar. Como se constata, somos uns autênticos “spoilers”, contamos no princípio, o fim, ou seja, damos imediatamente a resposta. Nesse contexto, somos como o cineasta Jean-Luc Godard, que um dia disse assim: “Uma história deve ter um princípio, um meio e um fim, mas não necessariamente por essa ordem.”
Como se vê, Godard também gostava, tal e qual como nós, de desarrumar umas quantas coisas, no seu caso eram as histórias. Antes continuarmos a dar resposta à questão “Porque existimos?”, aqui fica uma imagem de uma célebre pintura de Paul Gauguin, “De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?”.
Mas existimos para desarrumar o quê? A resposta é simples, as ideias. O principal problema das ideias, é que têm uma enorme tendência para se deixarem arrumar, e assim se transformarem em ideias feitas. Só que nós não gostamos de ideias arrumadas, ou seja, feitas.
A esse propósito, fomos ao dicionário ver qual era o significado da expressão ideia feita, ao que este nos disse, que é uma “opinião ou sentimento, favorável ou desfavorável, concebido sem fundamento ou análise crítica, um preconceito”. No fundo, uma ideia feita, segundo o dicionário, é uma ideia arrumada acerca de algo, que se tem sem se saber o porquê de assim ser.
Isto é assim porque é assim, porque sempre se fez assim e não há cá mais histórias. É este o argumento, chamemos-lhe assim, com que não raras vezes se faz a defesa de uma ideia feita. Em síntese, quando temos uma ideia feita, pensa-se assim ou faz-se assim, porque sim.
Pensa-se ou faz-se porque sempre assim se pensou e se fez dessa maneira. Mas nós existimos para levantarmos as seguintes questões, e se porventura, se fizesse agora doutra maneira? E, se por acaso, desarrumássemos as ideias feitas?
No cartoon abaixo, vemos a imagem de um quadro de Picasso. Na primeira imagem, a sala de estar está desarrumada. Na segunda tudo foi arrumado, inclusive as formas e figuras do quadro de Picasso.
Como é evidente, trata-se de uma piada, todavia, há algo que com humor no cartoon é dito, que corresponde à ideia feita, do que deve ou não ser, um quadro pendurado na parede de uma sala de estar.
A ideia feita de um quadro na parede de uma sala de estar, não abarca cubismos, modernismos ou inovações e, assim sendo, a senhora da limpeza do cartoon acima, agiu em conformidade. Ou seja, arrumou o Picasso, de modo a que ele estivesse mais de acordo, com o resto da decoração da sala.
Este blog, muitas vezes por portas travessas e parecendo não ter nada a ver, dedica-se a temas relacionados com a educação. Nesse sentido, poder-se-ia neste preciso instante, levantar a questão, mas para que raio serve a educação? Poder-se-ia até, ir mais longe, e perguntar mas por que razão existem escolas?
Claro que para tais questões, há muita gente com respostas prontas. Sabemos bem que haveria muito bem quem respondesse que a educação e a escola servem para preparar os jovens para o futuro, para que subam na vida, para que se preparem e coisas desse género. Porém, nós preferimos uma outra resposta, a escola e a educação servem para desarrumar ideias, as do presente, as do passado e, claro está, as do futuro.
Centremo-nos num ponto, nos documentos. As escolas, os agrupamentos, o Ministério da Educação, as Direções Regionais, as Direções Gerais e todas as demais estruturas educativas, produzem abundantes documentos. Desde decretos-lei, orientações, planos, projetos, tabelas, regulamentações e o mais que se quiser, documentação é o que não falta.
Terá sido por causa disso, que algures no tempo, toda a gente se começou a queixar da burocracia nas escolas e surgiu o termo eduquês, e depois até se venderam milhares de livros à conta disso.
O eduquês é uma linguagem toda ela constituída por palavras burocráticas, como metas, objetivos, estratégias, planos, evidências, projetos e muitas mais, que correspondem a meras ideias feitas, vazias, acerca do que é a educação e para que servem as escolas.
No entanto, descobrimos recentemente, um documento proveniente do Ministério da Educação, e também do da Cultura, que usa uma linguagem completamente diferente. O referido documento, refere-se a um plano conjunto de ambos os ministérios, o da Educação e o da Cultura, para as artes. A designação oficial do dito é Plano Nacional das Artes.
Nesse documento, usam-se termos e palavras tão pouco burocráticas como desejo, aldeia, paciência, tarefa infinita, indisciplinar, indestinar, zás trás e outras do género. Há inclusivamente, um glossário que explica muitas dessas palavras e outras mais, que podem consultar no site que vos deixamos abaixo.
Hoje queremos parar por aqui, pois como anunciámos logo no título deste nosso texto, este é “to be continued”. Porém, essa continuação terá o seu sentido, para quem se decidir a passar o olhos pelo glossário. É ele que dará sentido, ao que no próximo teremos a dizer.
Assim sendo, e até por ser domingo, por aqui ficamos, na esperança de que quem nos lê, vá desta vez ler o glossário do Plano Nacional das Artes, e isto também para que, no nosso próximo encontro, todos saibamos daquilo que estamos a falar, e seja compreensível, a razão pela qual este blog existe para desarrumar ideias.
(to be continued)
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