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2025 devia ser o Ano Internacional dos Homens, já que o de 2024 foi dos Camelos.


Ele há anos internacionais para tudo, num comemora-se aquilo, noutro celebra-se aqueloutro e no seguinte assinala-se sabe-se lá o quê. Só assim de relance, constatamos que em 1975 foi Ano Internacional da Mulher, em 1979 o da Criança, em 1981 o das Pessoas Deficientes, em 1985 o da Juventude, em 1994 o da Família, em 1999 o dos Idosos, em 2009 o dos Gorilas e em 2016 o das Leguminosas.

Ao consultarmos a extensa lista dos Anos Internacionais, não é preciso sermos muito perspicazes para verificarmos que não há nenhum especificamente dedicado ao género masculino. Repara-se que até os camelídeos tiveram direito ao seu Ano Internacional, que o foi precisamente o que agora findou, ou seja, o de 2024.

Os camelídeos no fundo são os camelos, mais uns quantos bichos com bossas e outros mais esquisitos de que nunca ninguém ouviu falar. Vai-se a ver o site do Ano Internacional dos Camelídeos e só elogios a tais animais, que contribuem para a segurança alimentar e nutricional de muitas populações, que são decisivos para o crescimento económico de muitos países, para além de terem um profundo significado cultural para muitas comunidades. Como se tudo isso não bastasse, ainda se diz que os camelos e os bichos primos deles têm uma grande resiliência às alterações climáticas.

Talvez algum dos nossos leitores possa ter ficado chocado, por termos usado a expressão “os camelos e os bichos primos deles”, revelando assim a nossa total insensibilidade para com a diversidade biológica dos camelídeos.

O que podemos dizer a tais leitores é que têm razão, estamo-nos efetivamente nas tintas para a diversidade biológica dos camelídeos. Aqui fica um cartoon da revista britânica Punch, que demonstra claramente que a diversidade dos camelídeos tem muito que se lhe diga.


Voltemos ao nosso tema. Então não é que 2025, também não vai ser o Ano Internacional dos Homens e sim o das Cooperativas! O escândalo é tanto maior, porquanto já em 2012 tinha havido um ano dedicado ao cooperativismo.

O que é isto? Para os homens, nada, para as cooperativas, tudo. É uma injustiça, uns são filhos outros são enteados, essa é que é essa. Quem nos lê pode porventura pensar que ao menos o ano será dedicado a vinhos rijos, como aqueles que se produzem nas adegas cooperativas do Alentejo e do Ribatejo, só que nem isso.

Com efeito, o Ano Internacional das Cooperativas não celebra aquelas em que há adegas, mas ao invés o contributo das cooperativas na implementação dos objetivos de desenvolvimento sustentável e para o desenvolvimento social e económico global.

Por nós, o hino do Ano Internacional das Cooperativas poderia ser um célebre tema de Max, “A mula da cooperativa”. Os versos da canção rezam assim:

A mula da cooperativa
A mula da cooperativa
Deu dois coices no telhado
Ai és redondilha

Deu dois coices no telhado
Por causa do Zé da adega
Não saber cantar o fado
Ai és tão linda
Não saber cantar o fado


É de uma evidência inquestionável que os homens necessitam de ser protegidos, e até mais que os camelos e as cooperativas. Vamos a factos e a números. Desde já há bastante tempo a esta parte, em todos os países da OCDE, as raparigas superam claramente os rapazes no que concerne a resultados escolares. De acordo com as avaliações internacionais realizadas no âmbito do PISA, nalgumas áreas curriculares a diferença média entre raparigas e rapazes chega a ser de 30 pontos, a favor das primeiras.

Tais dados são ultrajantes e não se entende como é que as instituições nada fazem para proteger os rapazes. Analisando o abismo que existe entre as performances escolares de rapazes e raparigas, os estudiosos concluíram que tal deve-se ao facto de os rapazes passarem menos tempo a estudar e a fazer os seus trabalhos de casa, e também por gastarem mais horas em atividades de lazer do que as raparigas.

Vamos lá ver uma coisa, os pedagogos passam a vida a dizer que as crianças e jovens atuais deveriam passar mais tempo a brincar e em atividades lúdicas, os rapazes fazem isso mesmo, e depois a escola penaliza-os com notas mais baixas do que as raparigas. Está mal.

Só para vos darmos uma ideia da hipocrisia que por aí vai, aqui ficam três artigos, um do jornal Público, outro da revista Sábado e um outro do Jornal de Notícias. Em todos eles se diz que é preciso mais tempo para se brincar, o que nenhum diz é que esse acrescento de tempo vai ter consequências a nível escolar, e mais em concreto para os rapazes.




Poder-se-ia pensar que os rapazes teriam piores resultados escolares por passarem mais tempo em atividades de lazer, mas que precisamente por essa exata razão, seriam mais criativos. No entanto, não.

Se analisarmos a tabela abaixo, vamos verificar que em praticamente todos os países pertencentes à OCDE, as raparigas têm o pensamento criativo mais desenvolvido de que os rapazes. Digam lá que só por isto, 2025 não deveria ser o Ano Internacional dos Homens?


Dadas as circunstâncias, não é de espantar que haja muito mais mulheres a frequentar e a concluir o Ensino Superior do que homens. Em Portugal, por exemplo, há mais de 30 anos que o país tem mais mulheres licenciadas do que homens.

Em 2021, ano do último Censos, constatou-se pela primeira vez, que o número de mulheres com um curso no Ensino Superior ultrapassa a barreira de um milhão, sendo os homens pouco mais de 712 mil. A proporção no resto do mundo civilizado não é muito diferente da portuguesa.

Só que a terrível situação em que vivem os homens não termina na juventude ou no início da vida adulta, estende-se no tempo, sendo o panorama muito mais negro do que se imagina.

Ainda ao dia de hoje, um jornal espanhol, o El Pais, alertava para uma tremenda estatística: os homens suicidam-se muito mais que as mulheres. Não é uma coisa de agora, os dados comprovam que é uma situação de há muito. Não há um único país no mundo, um só, em que os homens não se matem mais que as mulheres. Se isto não chega para se dedicar um ano internacional aos homens, não sabemos o que chegará.



Os estudiosos descartam quaisquer hipóteses biológicas para explicar este fenómeno, há um consenso científico que a explicação é de cariz sociocultural. Segundo os estudos, ao contrário das mulheres, os homens tendem a viver de acordo com um estereótipo de invulnerabilidade e só se sentem bem se tiverem um estatuto em que os que os rodeiam, os vejam como seres fortes e valentes.

Para além disso, tendem a não falar de nada que os afete, preferem interiorizar. Dar mostras de que se está perturbado ou preocupado consigo mesmo, é dar um sinal de fraqueza, e isso é coisa que um rapaz aprende a não fazer desde menino e moço. As conversas entre homens versam sempre sobre interesses comuns (futebol, política, música) e jamais em expressar o seu mundo emocional individual, por muito devastado que esse esteja.

Há muitos artigos nas revistas e nos jornais, e imensos terapeutas, psicólogos e coachings, que se disponibilizam para ajudar os homens a expressar as suas emoções individuais. Há famílias que educam os seus petizes para não terem medo de serem frágeis, para terem consciência de que todos falhamos e que por vezes somos fracos. Há cursos para orientar a rapaziada e lhes ensinar a gerir as emoções, e a serem mais sensíveis, todavia, tudo isso é inútil e até nefasto.

Na nossa forma ver, a cultura masculina da invulnerabilidade necessita de ser defendida desses ataques, o lema deve continuar a ser “A man’s got to do what a man’s got to do.”


Na verdade, o que era preciso fazer era organizar um Ano Internacional do Homem que promovesse e defendesse a cultura masculina, que tão agredida tem sido nas últimas décadas.

Como os estudos científicos também claramente demonstram, a cultura masculina baseia-se numa só coisa, no sentir que se pertence a algo, a um grupo, a uma associação ou uma equipa, ou seja e em síntese, a um coletivo.

A cultura masculina não assenta em emoções individuais, mas sim em códigos, práticas e, sobretudo, em projetos, desejos e anseios comunitários. Um homem (ou um rapaz) sente-se forte e valente, não quando estuda em casa sozinho (ou autonomamente como dizem os pedagogos) para ter boas notas na escola, não quando trabalha isolado em frente a um ecrã ou quando desabafa e divaga sobre os seus estados de alma, mas sim quando sente que faz parte de uma comunidade.

Nas sociedades de hoje em dia, comunidades é coisa que vai escasseando. O que mais vai havendo é uma mera soma de indivíduos que por acaso, sem que nada de particular tenham ou queiram ter em comum, trabalham todos na mesma empresa, consomem todos do mesmo supermercado ou vivem todos no mesmo prédio, mas em que isso nada significa.


Dito isto, e se a cultura masculina assenta em conversas e projetos comuns, se nós em 2025 organizássemos o Ano Internacional dos Homens, basearíamos o nosso trabalho partindo precisamente dessa premissa.

Como atrás dissemos, os principais interesses comuns dos homens são o futebol, a política e a música. Para o constarmos basta irmos a um qualquer bar, café ou restaurante. Assim sendo, iniciaríamos o nosso projeto pela divulgação de três vídeos, que serviriam de mote para a nossa ação.

No primeiro, a ação decorre em Liverpool no mítico estádio de Anfield Road, que muito apropriadamente tem à entrada a frase “You’ll never walk alone”.


“You’ll never walk alone” diz-nos que ao cruzarmos os portões de Anfield Road, sabemos que fazemos parte de uma comunidade. O futebol é mais que um jogo. Proporciona identidade e sentido de pertença a um grupo, representa uma simulação inofensiva de guerra e é ao mesmo tempo uma espécie de arte.
As estratégias têm a sofisticação do xadrez, e o ambiente insufla nas equipas a coragem para correrem atrás dos seus mais ambiciosos desejos e anseios. Como um dia disse o lendário treinador do Liverpool FC Bill Shanky, “O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso...”

No link abaixo, podemos ver uma reportagem da BBC em 1964, em Anfield Road, em que fica perfeitamente explícito de que matéria é feita uma comunidade masculina:


Relativamente ao segundo assunto preferido dos homens, a política, o vídeo que escolhemos é um com uma canção de Patti Smith. Em 2019 a artista entrou no átrio do Public Theather de Nova Iorque, e de uma forma mais ou menos improvisada, juntou-se a um coro e a pessoas que por ali andavam, e todos juntos puseram a cantar o tema “People have the power”.

Cantam homens e cantam mulheres. Não sabemos se de tal performance se poderia dizer que encarna a cultura masculina, sabemos sim que é uma excelente ilustração dos sentimentos com os quais se formam e constituem comunidades:


Por fim, um último vídeo, com o terceiro tema favorito dos homens, a música, neste caso a dos Bee Gees. Uma viagem nos transportes públicos é por norma um momento monótono. Cada passageiro vai entretido com os seus próprios pensamentos, a olhar o vazio, isolado e rodeado de outros indivíduos que fazem exatamente o mesmo. No fundo, estão todos juntos, mas não há qualquer espécie de comunidade.

Aqui há uns tempos, um coro de Berlim, entrou no metropolitano dessa cidade, o U-Bahn, e pôs-se a cantar “How Deep is Your Love”. Homens e mulheres cantam e isso parece-nos insólito porque contraria a nossa experiência habitual quando viajamos em transportes públicos, em que é cada um para seu lado.

E é com este tema que terminamos este nosso texto, um manifesto para, já que 2025 foi para as cooperativas, depois de 2024 ter ido para os camelos, ao menos que em 2026 possa finalmente haver o Ano Internacional dos Homens.

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