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A juventude nacional está muito atrasada, não é de vidro nem de cristal! Ou é? (Parte 1)

 

Aqui há uns dias lemos um artigo no jornal espanhol El Pais, no qual se fala da malta que tem atualmente entre os 11 e os 21 anos de idade, como sendo “La Generacíon de Cristal”. Tal qualificação pressupõe que os jovens atuais tendem a ser frágeis, e que ao mínimo obstáculo, contrariedade ou arrelia se desfazem em cacos.

Segundo a especialista entrevistada no El Pais, os jovens de hoje, a chamada “Generacíon de Cristal”, são o resultado de estilos parentais que reduziram a sua autonomia e os encheram de medos, dificultando assim a capacidade da juventude de enfrentar a realidade de forma independente. Aqui fica o artigo:


Em Espanha a expressão “La Generacíon de Cristal” já entrou na linguagem comum e não há pai, avô, professor, psicólogo, pedagogo ou jornalista que não a utilize com enorme frequência.

Ao que vimos, no Brasil também há uma expressão para designar esta jovem geração, a saber, “A Geração de Vidro”. É igualmente uma expressão já com alguma popularidade, sendo que, especialistas em como se deve educar os filhos, como por exemplo a influencer Mama Aline, já se dedicaram ao assunto.

Aqui ficam as reflexões da Mama Aline sobre “A Geração de Vidro”:



Constatando nós que em Espanha e no Brasil esta nova geração já tem um qualificativo, cristal e vidro respectivamente, estranhamos que em Portugal ainda não haja nenhum termo equivalente. Será que na nossa amada pátria os jovens são mais fortes e independentes do que os do país vizinho e os do país irmão?

Para já, vejamos quais são as características da geração de cristal/vidro para chegarmos a uma conclusão. Segundo os estudiosos são as seguintes nove:

a) Não toleram críticas
b) Ficam rapidamente frustrados
c) São emocionalmente instáveis
d) São inseguros
e) São adictos das tecnologias
f) Desconhecem a importância dos livros e não têm interesses culturais
g) Vitimizam-se com muita regularidade
h) Demonstram fragilidade de caráter devido à superproteção que tiveram
I) Precisam de reconhecimento, pois apresentam uma baixa autoestima


Enumeradas as nove principais características da chamada geração de cristal/vidro, compete agora a quem nos lê decidir se a juventude lusitana nelas se enquadra ou não. Nós temos cá a nossa ideia, mas vamos refrear-nos de dizer qual é, pois sentimo-nos um tanto ou quanto inseguros e não estamos preparados para que eventualmente alguém nos venha criticar. Isto até porque andamos mais ou menos instáveis e, assim como assim, nunca ninguém está de acordo connosco, somos uns pobres coitados e não há quem reconheça o nosso valor.

Um senhor que ao contrário de nós não tem receio de dizer o que pensa, é Alberto Barradas. Este senhor escreve livros de aconselhamento psico-emocional que vende aos milhões por toda a América Latina e também nos Estados Unidos.

Alberto Barradas é uma estrela, aparece nas TV’s, dá entrevistas a jornais do México, da Venezuela e de Miami e tem um blog. Como seria expectável, também ele opinou sobre estas novas gerações e o que disse foi isto: “A veces me da la impresión de que ésta generación nació con una tara en la cabeza. La generación de cristal o la generación de los ofendidos. Yo los llamo la generación de los débiles mentales.”

Ora bem, ao que parece, Alberto Barradas, acrescentou mais dois qualificativos à chamada geração de cristal/vidro, ou seja, qualificou-a como uma geração de ofendidos e de débeis mentais. Olhem lá que o homem não foi simpático para com os mais novos.
O que motivou tais impropérios por parte de Alberto Barradas, foi que a empresa de televisão e cinema Warner Brothers deixou de exibir desenhos animados com o personagem Pepé le Pew.

A razão pela qual a Warner Brothers decidiu cancelar Pepé le Pew, personagem criado em 1945, foi devido a queixas de gente que se sentia incomodada por o dito desenho animado poder ser ofensivo e/ou magoar a sensibilidade de crianças e jovens.

Recorde-se que Pepé le Pew era um personagem cómico, uma doninha fedorenta que se armava em sedutor, e que apesar de recorrer a toda a espécie de estratagemas, era repetidamente repudiado por uma gata pela qual estava apaixonado.


Ao que parece, a crianças e jovens atuais devem ser protegidas de personagens como o Pepé le Pew. Neste nosso tempo, os desenhos animados devem apenas apresentar personagens positivos, cheios de bons sentimentos, que sejam portadores de uma mensagem didáctica e que de modo algum possam colocar o bem-estar psíquico e emocional do público infantil e juvenil.

Façamos uma viagem no tempo. Em 1905 foi publicado no Reino Unido o livro de aventuras que haveria de ter um largo sucesso, “O Pimpinela Escarlate”. A história foi múltiplas vezes adaptada ao cinema, deu origem a séries de TV, a desenhos animados e a muitas coisas mais.

“O Pimpinela Escarlate” era um herói romântico que andava sempre metido em constantes e rocambolescas aventuras e em lutas de capa e espada. Ao longo do século XX tornou-se um clássico mundial da literatura infantil e juvenil.


Na nossa opinião, as aventuras do Pimpinela Escarlate são muito didácticas, demasiado. O personagem está sempre do lado correcto, é valente, luta contra todas as injustiças e, para além disso, é esperto, inteligente e galante, ou seja, é um autêntico cavalheiro, um ser nobre e digno de admiração.

As crianças e jovens que ao longo do século XX leram os livros, viram as séries ou filmes do Pimpinela Escarlate, só poderiam admirar a sua coragem, galhardia e correção, no fundo era um modelo que a todos inspirava, mas não a nós.

Nós em pequenos também tivemos oportunidade de conviver com as aventuras do Pimpinela Escarlate, e a verdade é que achámos a coisa chocha, não nos inspirou minimamente a sermos dignos e nobres.
A nós nunca nos interessaram os personagens cheias de bons sentimentos e imbuídas de altos valores. A nós, os personagens que nos interessavam eram os que partiam a loiça toda, desde os vidros até aos cristais.

Vejamos um desses personagens de antigamente, de um tempo em que não havia limites para o que com humor e a rir se podia desfazer em cacos. Um dos nossos personagens favoritos era o Daffy Duck. Curiosamente também ele foi uma vez chamado a interpretar o Pimpinela Escarlate.


Daffy Duck interpretou o Pimpinela Escarlate num filme de 1950 realizado pelo mítico desenhador Chuck Jones para a Warner Brothers. A película dura uns quantos minutos, mas nesse curto período de tempo não há nada que não fique em cacos.

São completamente desfeitas noções de heroísmo, atitudes galantes, comportamentos românticos e posturas valentes. Nada de nobre, digno e valoroso escapa à vertigem humorística do realizador Chuck Jones. Não é um filme didáctico, cheio de bons sentimentos e com uma mensagem positiva, porém, é do mais educativo que há.

Hoje vamos terminar deixando-vos os links com o dito filme, todavia, no nosso próximo texto neste blog vamos analisá-lo detalhadamente, para percebermos de que modo é ele um antídoto perfeito para as nove características da geração de cristal/vidro, que antes enumerámos e agora recordamos:

a) Não toleram críticas
b) Ficam rapidamente frustrados
c) São emocionalmente instáveis
d) São inseguros
e) São adictos das tecnologias
f) Desconhecem a importância dos livros e não têm interesses culturais
g) Vitimizam-se com muita regularidade
h) Demonstram fragilidade de caráter devido à superproteção que tiveram
I) Precisam de reconhecimento, pois apresentam uma baixa autoestima

Para finalizar, aqui fica então o filme dividido em três partes, a primeira…




…a segunda…




…e a terceira:

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