Era uma vez um menino que perguntou ao seu professor, por que precisava ele de estudar História, se lhe bastava ir ao computador para saber quem tinha sido o primeiro rei de Portugal, quantas caravelas portuguesas tinham ido pelos mares adentro em busca de novas terras, em que a data se deu a restauração da independência e também o nome de todos os presidentes e ministros desde a implantação da república até ao dia de hoje.
Na verdade, o menino levou a questão um pouco mais longe e perguntou também ao professor por que necessitava de fazer exercícios de Matemática, se com o seu computador ou até mesmo com uma simples máquina calculadora conseguia resolver num instante todas as contas e problemas.
O menino alargou a sua pergunta a todas as outras disciplinas e matérias escolares, tendo concluindo sempre o mesmo, bastava-lhe ter um computador ou qualquer outro dispositivo com acesso à internet, e rapidamente descobriria que rios atravessam Portugal, qual é a capital do Zimbabué, qual é a fórmula química do sódio, quantos planetas há na Via Láctea, quais as principais estrofes dos Lusíadas, o significado das mais complexas filosofias e tudo o mais que há para saber.
Posto isto, o menino elevou a sua questão a um patamar superior e perguntou: mas afinal para que servem as escolas e os professores? Respondendo à sua própria questão, a criança vaticinou então, que num futuro próximo todos aprenderiam em casa através de computadores, a profissão de professor extinguir-se-ia e os edifícios escolares seriam para sempre abandonados.
Acima vemos uma foto de uma escola primária abandonada na Polónia rural. A Szkoła P, era esse o seu nome, foi fundada num edifício construído no final do século XIX, resistiu à guerra e à ocupação nazi da Polónia e nas décadas do pós-guerra floresceu e chegou a ter centenas de alunos. No início dos anos 2000, a crise económica levou a que muitos polacos tivessem de emigrar e deixar os campos, por consequência a escola fechou.
Os professores que viviam no edifício ainda por lá permaneceram por uns tempos, mas também acabaram por partir. Em qualquer dos casos, as ruínas, restos e memórias do que era uma escola, ainda por lá andam, como uma espécie de assombração vinda de outros tempos.
Voltemos à história do nosso menino e ao seu vaticínio, de que no futuro quer escolas, quer professores, se extinguiriam e mais não seriam do que resquícios de um tempo já passado.
Perante a previsão do menino, o professor decidiu também fazer a sua antevisão do futuro. Segundo o docente, num tempo não muito distante, talvez em Silicon Valley ou na China, haveria um hiper-mega computador com o qual todos os outros computadores do mundo estariam conectados.
Esse hiper-mega computador permitirá que as pessoas usem os seus computadores para tudo e em qualquer lugar do mundo, seja para comprar um quilo de sardinhas no mercado de Sacavém, seja para adquirir produtos do luxo nas melhores avenidas de Paris.
Esse hiper-mega computador possibilitará que se envie instantaneamente recados para a Patagónia a partir de Kathmandu, que se façam reservas de avião onde quer que se esteja no planeta e possibilitará até, que alguém encontre a sua alma gémea, mesmo que ela viva no mais longínquo canto do globo terrestre.
Abaixo uma foto de uma escola abandonada, situada na distante Montanha Shizuoka no Japão.
A escola primária da Montanha Shizuoka foi construída no estilo tradicional japonês, fica escondida por entre montes e vales e existe nesse sítio desde a Era Meiji. A escola foi oficialmente fechada na década de 70 do século XX, mas continuou a ser usada como tal pela população local até 1990.
Continuemos com a história do menino. O professor continuou a falar do hiper-mega computador ao qual todos os outros no mundo estariam ligados. Segundo o docente, daqui a uns tempos ninguém precisará de estudar. Tudo o que alguém quiser saber sobre qualquer coisa estará na memória desse hiper-mega computador disponível para qualquer um.
Num mero segundo, a resposta a qualquer pergunta aparecerá no ecrã. Existirão milhões de ecrãs por todo o lado e bastará a qualquer ser humano carregar num botão para obter de imediato a informação de que necessita.
Tendo o professor antecipado tal futuro, ao menino só lhe restava concluir que em breve escolas e docentes para nada já serviriam. No entanto, foi precisamente nesse instante que ao rapaz lhe ocorreu uma ideia:
- Mas como é que eu sei, que as respostas que o hiper-mega computador me dá, são mesmo as certas?
Ao que o professor retorquiu, que se as respostas têm origem no hiper-mega computador, então é porque estão certas. Contudo, o menino insistiu:
- Mas e se o hiper-mega computador estiver errado? Se houver um engano?
O professor reiterou que isso era impossível, pois que o hiper-mega computador jamais erra. Ao que o menino replicou:
- Mas e se errar?
Perante a perseverança do rapaz na questão, o professor não teve outra hipótese que não a de concluir, que se porventura o hiper-mega computador errasse e fornecesse informações falsas, isso jamais se saberia, uma vez que nesse mundo futuro as únicas respostas disponíveis seriam essas. Em tal caso, não fará diferença alguma se o hiper-mega computador fornece ou não informações corretas, pois só existem essas e, assim sendo, serão essas as certas, mesmo que estejam erradas.
Em abril de 1986 as mais altas autoridades da já extinta URSS, garantiam às populações locais e ao mundo que os problemas existentes com a central nuclear de Chernobyl estavam a ser resolvidos, que todos podiam estar tranquilos.
Nesse tempo, na URSS a única fonte de informação era o estado. Todos os jornais, TV’s e rádios estavam controladas pelos serviços centrais, era a partir desse ponto único que se veiculava o que era verdade, o que não era, e quais eram os factos.
Em 26 de abril de 1986 a central nuclear de Chernobyl explodiu. Todas as populações foram apanhadas desprevenidas, pois as informações de que dispunham era de que estavam seguras. As radiações espalharam-se por todo o lado e muitos faleceram ou ficaram doentes. Abaixo uma foto da Escola n° 3 de Pripyat, uma localidade que ficava perto de Chernobyl.
Os procedimentos relativos à verificação de factos no Facebook vão terminar ao fim de nove anos em funcionamento. Mark Zuckerberg confirmou essa mudança num vídeo em que anuncia que as novas práticas de moderação dos conteúdos no Facebook, serão as que já estão em vigor na rede X, o antigo Twitter, após Elon Musk a ter adquirido.
Feitas as contas, a conclusão que o menino e o seu professor da nossa história hão de retirar da sua conversa, é a de que afinal escolas e professores vão ser mais necessários de que nunca, pois caso contrário, todos ficarão à mercê de uns quaisquer hiper-mega computadores para aprendermos o que quer que nos queiram ensinar, mesmo que apenas falsidades ou simples vacuidades. Se assim acontecesse, o futuro mais não seria que uma selva onde imperaria a lei do mais forte e reinariam as suas “verdades”.
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