Neste blog gostamos de abordar temas da mais alta relevância histórica e cultural, nesse contexto, reparámos que raras vezes nos dedicámos a um tema que devia ter merecido muito mais atenção da nossa parte, a saber, os pés.
Está tudo muito bem falarmos de educação, de arte, de filosofia e de política internacional, o que já está mal, é falarmos pouco de pés. A primeira coisa que nos veio à ideia ao pensarmos em pés, foi uma travessa de pezinhos de coentrada, no entanto, não é desses de que vamos falar, mas sim dos membros inferiores humanos.
O que recentemente descobrimos, é que fazer “barefooting” é uma nova tendência, que terá começado em Hollywood, mas que se vem rapidamente espalhando pelo mundo. Ao que se diz, o “barefooting” é uma novidade na área da saúde e do bem-estar. Segundo os especialistas, andar descalço reduz o nível das radiações eletromagnéticas, que são péssimas para o nosso organismo.
Abaixo uma foto de Júlia Roberts descalça no tapete vermelho do Festival de Cannes. Se olharmos com atenção, vemos que toda ela parece estar liberta de radiações eletromagnéticas. Relatam as notícias desse dia, que mesmo tendo Júlia vindo um tanto ou quanto à fresquinha e sujeita a apanhar alguma correnteza, ainda assim não teve frio, nem se constipou. Nem um pingo sequer lhe caiu do nariz, há de ter sido de não ter radiações eletromagnéticas.
Há um tipo de “barefooting” a que se chama “grounding”, que consiste em andar descalça na terra ou na lama. Ao que percebemos, andar descalço na areia da praia não conta como “grounding”. O verdadeiro “grounding” é na terra escura e castanha, daquela que nos deixa os pés todos encardidos e ficamos com as unhas todas negras.
A experiência de ficar com os pés imundos de terra eleva-nos os picos de dopamina no nosso organismo, e diz-se por aí que isso é bom para a nossa saúde e bem-estar. Se porventura a terra que pisarmos for pasto de gado bovino ou caprino e ficarmos com os pés todos embostelados, melhor ainda, pois que isso provoca a ativação dos dois hemisférios cerebrais, o esquerdo e o direito, permitindo-nos equilibrar o nosso lado emocional e racional.
Aqui temos uma imagem da atriz Gwyneth Paltrow a fazer “grounding” e só quem não quer é que não vê que o seu organismo está com um pico de dopamina. É pena não ter os pés embostelados para verificarmos se tinha os dois hemisférios ativados, mas não faz mal, fica para a próxima.
Nós neste blog não gostamos muito de usar estrangeirismos, por vezes utilizamos, mas é uma coisa que nos provoca sempre mixed-feelings. Por essa razão, em vez de usarmos o termo inglês “barefooting” vamos antes passar a usar um português, assim sendo, a partir de agora a prática de andar descalço passa a ser designada por o “descalçadismo”. Fica com aspas e tudo que é mais giro.
Digam lá que dizer o “descalçadismo”, assim dito em português, não é mais cool do que usar o termo inglês “barefooting”? Claro que é! Uma outra vantagem do “descalçadismo” é que reforça o nosso sistema imunitário, aumentando-nos o número de células natural killer, as chamadas NK.
Em boa verdade, a atenção aos pés é algo que atravessou os séculos e as civilizações, não é bem uma moda ou uma trend inventada agora. Abaixo vemos, Tara a Deusa Hindu da Compaixão, que também é conhecida por ter mais que dois olhos, sendo que também os tem nos pés.
A Deusa Tara tem portanto uns pés especiais, ou seja, com olhos. Como ela não se mexe muito, está sempre sentada tipo a fazer Yoga, pode praticar o “descalçadismo”, caso contrário, se tivesse de andar de um lado para o outro, haveria de ser difícil que caminhasse sem usar uns sapatinhos, ou pelo menos umas sandálias.
Relativamente à Deusa Tara, estamos em crer que caminhar descalça não iria elevar os seus níveis de saúde e bem-estar, poderia muito bem aumentar o número células Natural Killers e a dopamina, ativar os dois hemisférios e reduzir o nível das radiações eletromagnéticas, mas o mais certo era apanhar também uma alergia nos olhos dos pés ou até uma conjuntivite, que isto nunca se sabe para o que estamos guardados.
Em Roma, na Igreja de Santo Agostinho, existe um altar dedicado à Nossa Senhora do Loreto. Quando estamos diante desse altar, o nosso olhar situa-se ao nível dos pés de um peregrino, só olhando para cima veremos a Madona e o menino.
Caravaggio ao pintar o quadro do modo como pintou, quis claramente que antes de tudo, víssemos os pés sujos do peregrino. Mais acima vemos os pés da Madona e do menino, mas são os do peregrino que primeiro captam o nosso olhar. Na verdade, a espiritualidade da obra de arte está mais nos pés do peregrino, do que em qualquer outro lugar do quadro.
Na área da educação também já há estudos que demonstram os benefícios do “descalçadismo”. Com efeito, um professor do Departamento de Ciência do Desporto da Faculdade de Educação da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, pôs-se a comparar as crianças da Alemanha, que andam quase sempre calçadas, com as da África do Sul que andam frequentemente descalças.
Os resultados do estudo mostram que crianças descalças nas escolas primárias da África do Sul tiveram um melhor desempenho em testes de equilíbrio do que suas colegas alemãs que nunca andam descalças.
As crianças que andam descalças também foram capazes de saltar mais longe de uma posição em pé de que as crianças alemãs. Para além disso, as crianças que estão regularmente descalças têm arcos de pé mais altos do que as crianças que nunca andam sem sapatos, além dos seus pés serem mais flexíveis e menos planos.
E pronto, por aqui ficamos, nesta nossa peregrinação pelos pés e pelo “descalçadismo”. Terminamos com uma pintura de Tarsila do Amaral, “Abaporu”, de 1928. É uma das mais conhecidas pinturas do Brasil e deu origem a uma célebre tese académica intitulada “O Abaporu, de Tarsila do Amaral: saberes do pé”.
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