Estão prestes a fechar portas duas exposições patentes no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) em Lisboa que urge ver. Uma é de Vivian Suter e intitula-se “Disco”, a outra é de Anthony McCall e intitula-se “Rooms”. São mostras que nos dão a ver, alguns dos principais elementos que constituem o universo.
Comecemos pela exposição “Disco”, a qual foi considerada pelos críticos da especialidade como uma das melhores do ano de 2024, isto muito embora se tenha prolongado até março de 2025. Disco é o nome de um dos cães de Vivian Suter.
A artista nasceu em 1949 de mãe argentina e pai suíço, no entanto, nos últimos 40 anos trabalha em Panajachel, uma aldeia longínqua na Guatemala. Vivian Suter vive isolada nessa pequena localidade envolta tão-somente pela selva e rodeada de montanhas, vulcões e lagos. Quando cria, é quase sempre ao ar livre, sobe a um sítio alto, e só com o céu como tecto, põe-se a pintar.
Esta paisagem natural tem um papel determinante na sua arte, pois influencia decisivamente tanto o seu processo criativo, como o resultado final das suas pinturas coloridas, que são feitas em grandes telas de tecido de algodão, que compra aos artesãos locais.
É certo que a pintura de Vivian Suter é abstrata, todavia, é possível constatar que nas suas obras há imensas referências a elementos concretos da realidade que lhe é próxima, como por exemplo, às folhas, aos vulcões, à chuva, à terra e até aos seus cães. É desse modo que a artista expressa a estreita relação entre a sua arte e o ecossistema em que habita e trabalha.
Em síntese, sendo a sua pintura abstrata, poderia ser feita em qualquer lado do mundo, contudo, e paradoxalmente, os elementos com que compõe as suas obras são específicos de um local único, ou seja, da aldeia de Panajachel na distante selva da Guatemala.
As obras de Vivian Suter são expostos nos mais modernos museus de arte contemporânea do planeta, mas poderiam também existir em cavernas ancestrais, como se porventura tivessem sido feitas por indígenas que habitassem a selva guatemalteca há milhares de anos. Em resumo, são pinturas ao mesmo tempo atuais e primitivas, são dos dias de hoje e simultaneamente vindas do fundo dos tempos.
Quando são pintadas, as telas permanecem a céu aberto durante dias, semanas ou mesmo meses, expostas ao sol, ao vento, à chuva e à humidade, incorporando sujidade, folhas, detritos, restos de insetos e inclusive as pegadas dos cães da artista, e entre eles, o Disco.
A exposição “Disco”, uma vez terminada a sua estadia em Lisboa, viajará para o Museu de Arte Moderna em Paris, onde permanecerá aberta ao público durante todo o verão de 2025.
Uma das mais aclamadas exposições de Vivian Suter deu-se em Viena aqui há uns anos. A Galeria Secession, local onde há mais de um século estão expostas algumas das mais célebres obras de Gustav Klimt, foi o sitio escolhido para apresentar aos vienenses as obras de Vivian Suter. O vídeo abaixo dá-nos uma ideia do que foi essa mostra na capital austríaca:
Se a exposição de Vivian Suter se centra na terra, em folhas, em detritos e noutras matérias concretas, já a segunda exposição de que inicialmente falámos, “Rooms” de Anthony McCall, centra-se numa coisa etérea, a saber, a luz.
É quase impossível de imaginar que alguém, neste caso Anthony McCall, faça esculturas cujo único suporte é a luz. As suas esculturas não são de bronze, de mármore ou sequer de madeira, são simplesmente feitas de feixes de luz.
Anthony McCall nasceu em 1946 no Reino Unido, mas há muito que vive em Nova Iorque. As suas esculturas podem ser descritas, em inglês, como “solid-light’ installations”.
A sua arte situa-se algures entre o cinema, a escultura e o desenho, ou seja, é uma disciplina artística para a qual ainda não existe um nome. As obras de Anthony McCall não são fixas, alteram-se à medida que os espectadores participam nelas. Os corpos de quem as visita cruzam-se e modificam as formas luminosas concebidas pelo artista, que revelam assim ser transitórias e transformáveis, quase mágicas.
A magia da arte, é o que estas duas exposições no MAAT nos mostram, o mesmo é dizer, a magia da terra, da luz, do água e do céu, ou seja, do universo.
Confirmo, são duas exposições que vale a pena ver. A entrada e gratuita no domingo de manhã.
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