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Estarão as reuniões entre professores e encarregados de educação destinadas a correr mal? E será que existe sexo no feminino? E a que propósito disto tudo, vêm “las meninas”?


Num sketch humorístico do programa televisivo “Ruído”, Bruno Nogueira interpretou um professor numa reunião com um casal de encarregados de educação. A dado passo, o professor diz o seguinte aos pais:
- Eu estive a reunir com outros professores, também estive a reunir-me com a directora da escola para ouvir um bocadinho mais, e somos todos da opinião que o vosso filho é estúpido.

Como seria expectável, os pais ficam estupefactos. Diante de tal reacção, o professor explicita melhor o que quis dizer:
- É assim, nós andámos aqui à volta de outras expressões, para seguir a tendência actual, até apontei algumas, como “dificuldades de aprendizagem”, podia ter-vos dito isso, ou “é um menino que precisa do seu tempo”, ou “é uma criança muito especial”, mas aí parecia que ele tinha um problema, ou ainda “hiperactivo”, que também não é o caso. O que se passa, é que ele é mesmo estúpido.

Num momento mais à frente do mesmo sketch, e após uma acesa troca de argumentos, a mãe do aluno replica do seguinte modo:
- Mas o que é que está a sugerir? Que somos nós que temos que educar o nosso filho! É isso?
A isto o professor responde:
- Ó mãe, se ele fosse só estúpido eu até sugeria, agora nós fizemos uma segunda avaliação, com outro corpo docente, e chegámos à conclusão que para além de estúpido, também é burro. O que é chato, porque ele é daqueles que acumula.

Aqui fica o sketch para quem eventualmente ainda não o tenha visto:


Tendo o programa de Bruno Nogueira extensas audiências, estamos perante um enorme berbicacho. Com efeito, terão sido milhões os encarregados de educação que assistiram ao sketch e agora, quando eventualmente forem a uma reunião com um docente e este lhe disser que o seu educando tem “dificuldades de aprendizagem”, que “é um menino que precisa do seu tempo” ou “uma criança muito especial”, os pais vão imediatamente ficar desconfiados, que aquilo que o professor efectivamente quer dizer, é que o aluno é estúpido ou burro ou, pior ainda, que acumula ambas as características.

O que Bruno Nogueira fez, não se faz. Há décadas que os docentes usam em reuniões com encarregados de educação expressões simpáticas e empáticas como as já referidas “dificuldades de aprendizagem”, “precisa do seu tempo” ou “é uma criança muito especial”, e agora, assim do nada, por causa de um mero sketch humorístico, toda essa já longa tradição foi colocada em risco.

É muito provável que neste momento, se um docente disser a um encarregado de educação numa reunião, que o seu educando tem dificuldades de aprendizagem, que o pai se vire para o professor e lhe responda o seguinte:
- Dificuldades de aprendizagem?! Mas julga que eu sou parvo, que não vi o programa do Bruno Nogueira? Sei muito bem o que é que isso quer dizer. Está a chamar burro ao meu filho, não é verdade? Confesse, não seja falso!

Há limites para o humor, não tarda nada, por culpa do Bruno Nogueira, vai haver professores com ataques de acne, com crises de ansiedade e com derrames oculares, vai ser tal e qual o processo judicial que opõe os Anjos a Joana Marques.


Por consequência do sketch do Bruno Nogueira, o que agora temos, é um daqueles momentos, em que as palavras (ou expressões) mudam de significado, e passam a representar algo de diferente do que anteriormente significavam ou representavam.

Vejamos um outro exemplo de palavras (ou expressões) educativas, cujo significado se alterou. Dantes, um professor corrigia ou emendava os trabalhos dos alunos e isso estava bem, era assim que se fazia. Todavia, hoje em dia, se um docente corrigir ou emendar, isso só significa que usa métodos pedagógicos antiquados. Actualmente isso já não se faz, é um procedimento totalmente obsoleto.

O docente moderno, ao invés de emendar ou corrigir, dá um “feedback” aos seus discípulos. Claro que emendar, corrigir ou dar um “feedback” é praticamente o mesmo, porém, num caso usam-se palavras cujo significado é agora associado ao ensino tradicional e, no outro caso, diz-se uma palavra em inglês, que é a língua própria de gente inovadora, daquela que usa metodologias “up to date”.
Abaixo a imagem de uma professora moderna a dar “feedbacks” aos alunos.


Aqui chegados, estaremos já todos perfeitamente conscientes, que a relação entre as palavras (ou expressões) e as coisas que estas representam ou significam, não é uma questão nada simples.

Dada a questão ser complexa, impõe-se que façamos uma breve reflexão intelectual ou quiçá, até filosófica.

Talvez esta reflexão vos pareça vir a despropósito, mas se a lerem com atenção, vão ver que ela é muito pertinente para se pensar na relação entre professores e encarregados de educação, aquando de uma reunião.

Vamos lá então a isso. “As palavras e as coisas” é um livro de Michel Foucaut publicado em 1966. Nessa obra, o autor fala-nos de muitas coisas e também de muitas palavras, daí o título do livro, “As Palavras e as coisas”. Porém, antes de tudo isso, logo no início, Foucault fala-nos de um quadro, mais concretamente de “Las Meninas” de Velásquez.

“Las Meninas” é uma pintura de 1656, onde vemos representada num primeiro plano a jovem infanta espanhola Margarida Teresa, rodeada pelas suas damas de companhia, por duas anãs e por um cão. Um pouco mais atrás encontra-se o educador dos infantes de Espanha, que tem ao seu lado a guarda-mor da princesa, que veio vestida de freira.

Ao fundo da imagem vemos um homem, que não se sabe bem se está entrar ou a sair da sala, trata-se do camareiro da rainha. À esquerda, também ao fundo, encontra-se um espelho que reflete a imagem do rei Filipe IV e da rainha Mariana. Ambos parecem estar colocados fora do espaço da pintura, numa posição equivalente à do observador do quadro, que no presente caso, somos nós.

Vemos ainda o próprio autor do quadro, Velázquez, que se representa a si mesmo de pincel na mão, trabalhando numa grande tela, presumivelmente em “Las Meninas”.

O artista olha para longe, para fora do espaço pictórico, para o lugar onde se encontra o observador da pintura, ou seja, para o sítio onde nós, espectadores, nos encontramos.


Citemos Michel Foucault a propósito de “Las Meninas”: “Estamos a olhar para um quadro em que o pintor está, por sua vez, a olhar para nós. Um mero confronto, olhares que se cruzam, olhares diretos que se sobrepõem ao se cruzarem.”

Qual é afinal o tema de “Las Meninas”? A resposta óbvia é que o pintor representa as principais figuras da corte do rei Filipe IV. Trata-se de um quadro encomendado, destinado a ser colocado num dos grandes salões do palácio real.

Contudo, o que vemos numa segunda leitura, é que Velásquez quis ir muito para além dos habituais retratos das famílias reais, tendo representado uma imagem em que baralha as ideias até aí estabelecidas, acerca do que é uma representação.

O espectador olha para o quadro, mas o pintor do quadro também olha para o espectador. O quadro está diante do nosso olhar, mas vêmo-lo ainda a ser pintado. O rei Filipe IV e a rainha aparecem no quadro, mas apenas como um reflexo num espelho.
Em síntese, o que Velásquez fez foi brincar com a noção de representação pictórica, trocando as voltas entre quem é representado e quem observa o que é representado. Com isto, Velásquez mudou para sempre o significado de um retrato e do que este representa.

O que Velásquez fez em termos artísticos, é portanto equivalente ao que Bruno Nogueira fez em termos humorísticos, ambos modificaram o significado de algo que há muito estava estabelecido.
O primeiro pôs em evidência que um retrato de uma família real é tão-somente uma convenção estilística e pictórica própria de uma determinada época, o segundo deu a ver que certas expressões pedagógicas resultam de convenções linguísticas que os professores há muito utilizam.
Abaixo uma imagem do fotógrafo japonês Yasumasa Morimura.


Quem observa o quadro “Las Meninas” tem perfeita consciência que está a observar uma imagem, ou seja, uma representação. Velásquez quis que quem visse a sua pintura, estivesse sempre ciente de que esta era uma pintura, o mesmo é dizer, que resultava de uma convenção artística.

Bruno Nogueira quis que quem assistisse ao seu sketch, tomasse como boa a tese, que expressões como “dificuldades de aprendizagem”, “precisa do seu tempo” ou “é uma criança muito especial” são convenções linguísticas, para se dizer que um aluno é estúpido, que é burro, ou ambas as coisas.

Assim como após Velásquez ter pintado “Las Meninas”, os retratos das famílias reais nunca mais foram vistos da mesmo forma, de igual modo, depois do sketch de Bruno Nogueira, jamais as pais e encarregados de educação ouvirão certas expressões pedagógicas sem imediatamente torcerem o nariz.

Só para que se perceba até que ponto o significado de representações e convenções, sejam elas pictóricas ou pedagógicas, pode ser alterado, veja-se abaixo o retrato da falecida rainha Isabel II, encomendado pela coroa britânica ao pintor Lucien Freud.


Perante a alteração de certos significados causada pelo Bruno Nogueira, que expressões hão de agora os professores usar nas reuniões com encarregados de educação, de modo a não ferirem susceptibilidades?

A questão é difícil, mas nós temos a resposta. A solução é usar expressões ainda mais rebuscadas e intricadas.

Vejamos um exemplo do que dizer a um encarregado de educação, cujo filho não é particularmente brilhante: “Como docente experiente, o meu diagnóstico é que a coordenação neuronal do seu educando não se pauta pelos índices médios previsíveis. Digamos que com um esforço optimizado, aumentarão as probabilidades de concatenarmos essa aparente desestruturação, no entanto, e dito isto. não devemos deixar de fazer uso de uma extrema objetividade e de ter sempre em consideração que a situação não parece ser momentânea, mas sim resultante de um sistema mental divergente, cuja causa é a aparente inexistência de um fluxo cognitivo minimamente capaz de apreender quer conteúdos de carácter mais abstractizante, quer outros muito concretos.”

Usando esta linguagem, como é evidente, a única resposta que se obterá do encarregado de educação, será um espontâneo, interrogativo e sincero, “Hã?”.

Dito isto, a reunião termina, cada um vai à sua vida, e tudo acaba em bem. Em boa verdade, se o docente, quiser levar a coisa mesmo à séria, para findar a reunião, pode ainda acrescentar o seguinte: “Antes de irmos, quero ainda dirigir-lhe uma saudação de caráter levemente sentimental, um tanto ou quanto banal, e talvez bastante previsível, ou seja, dir-lhe-ei que gostei muito desta nossa conversa e da subsequente troca de ideias que ambos nos proporcionou, adeus e até à próxima.”


Para terminarmos este texto sobre o significado das palavras (ou expressões) e o que estas representam, um pequeno diálogo entre um aluno e o seu docente, para o qual nos inspirámos no grande cronista brasileiro Luis Fernando Veríssimo.

A cena passa-se numa sala de aula, quando um aluno pede esclarecimentos ao seu professor, relativamente a uma dúvida gramatical que possui:

– Como é o feminino de sexo?
– O quê?
– O feminino de sexo.
– Não tem.
– Sexo não tem feminino?
– Não.
– Só tem sexo masculino?
– É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
– E como é o feminino de sexo?
– Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
– Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
– O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
– Não devia ser “a sexa”?
– Não.
– Por que não?
– Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino.
– O sexo da mulher é masculino?
– É. Não! O sexo da mulher é feminino.
– E como é o feminino?
– Sexo mesmo. Igual ao do homem.
– O sexo da mulher é igual ao do homem?
– É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
– Certo.
– São duas coisas diferentes.
– Então como é o feminino de sexo?
– É igual ao masculino.
– Mas não são diferentes?
– Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
– Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
– A palavra é masculina.
– Não. “A palavra’ é feminino. Se fosse masculina seria “o pal…”
– Chega! Vai brincar, vai.

Mais tarde, numa reunião com os encarregados de educação, o professor diz o seguinte:
Pais, têm que ficar de olho nesse rapaz…
– Porquê?
– Ele só pensa em gramática.

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