Nas há uns meses estreadas séries televisivas “Batanetes 2025” e “Zero em Comportamento”, o enredo centra-se numa sala de aulas, local onde alunos de tenra idade, mas algo rebeldes e indisciplinados, fazem coisas tão engraçadas, como por exemplo, arremessarem objectos de índole diversa em direção ao rabo dos seus professores os quais, pelos vistos, são o alvo preferido da pequenada das TV’s.
As audiências de ambas as séries têm sido excelentes, pois os espectadores em casa divertem-se muito a ver a criançada a dar cabo da paciência ao pessoal docente.
Tal é coisa que nós compreendemos perfeitamente, pois parece-nos justo que as agruras da classe docente sejam motivo de riso e de divertimento para todos os espectadores televisivos, de norte a sul de Portugal, não esquecendo também as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.
Como acontece normalmente neste tipo de séries ditas cómicas, o professor/a é um personagem que tudo aguenta estoicamente. No fundo, é isso que se espera de um docente, que seja resistente e aguente.
No entanto, em certos momentos, os docentes fictícios parecem mesmo estar à beira de perder as estribeiras e, quando porventura tal sucede e o professor/a está mesmo prestes a rebentar, é quando se dá o ponto alto do programa. É efectivamente um fartote, ver um professor/a a ficar desvairado e a começar a estrebuchar, sem saber já o que fazer. É de rir e chorar por mais.
Esses momentos fictícios em que um docente esbraceja, esperneia e barafusta, são sempre um excelente motivo para umas alegres gargalhadas conjuntas, com toda a família reunida em redor do televisor.
Todavia, no fim do enredo tudo acaba bem, pois mesmo nos momentos mais críticos em que os alunos testam até ao limite máximo a tolerância do professor, o docente sabe que é seu dever aguentar e manter uma postura digna, didáctica e pedagógica, e lá acaba por controlar os nervos e fazer as pazes com os petizes.
Em síntese, numa comédia o que se quer é um final feliz. Qualquer docente sabe que lá no íntimo, a criançada é inocente e que só faz asneiradas e o provoca até à exaustão, porque está carente de carinho e precisa de atenção.
Abaixo uma foto da Professora Alice, personagem da série “Batanetes 2025”, uma dessas personagens fictícias pronta para tudo.
Olhemos para a foto acima, que não é diferente de muitas outras do mesmo tipo. Haverá por acaso professores por este Portugal afora, com um ar tão apatetado como o da Professora Alice? Mas por que raio de carga de água, é que os docentes representados na ficção televisiva nacional, têm frequentemente um aspecto tão ridículo?
Se pensarmos bem nisso, as séries de TV em que a classe docente mais aparece representada são as cómicas, pois por alguma estranha razão, os espectadores portugueses acham piada a ver professores a fazerem figura de parvo e a serem tomados por tolos pelos seus alunos.
Sara Barradas, de 14 anos de idade, é já uma experimentada actriz. Participa na série “Zero em comportamento”, interpretando uma aluna um tanto ou quanto aluada. Instada numa entrevista a fazer a distinção entre a escola ficcional da série de TV, a escola real que frequenta e os seus respectivos docentes, Sara Barradas, a actriz, afirma o seguinte: “Eu também tenho alturas em que me ‘passo’ com algum professor. Isso acontece a toda a gente…”
Ora bem, o que se deduz das palavras da actriz de 14 anos Sara Barradas, é que os alunos por vezes “passam-se” com os professores. É algo que acontece a toda a gente, segundo o que a rapariga diz. Acrescentamos nós, que provavelmente tais “passamentos” existem, porque há professores com comportamentos menos correctos que não têm a atitude adequada a uma sala de aula.
Pense-se por exemplo num qualquer docente, que após ter sido alvo de uma inocente brincadeira das crianças, como por exemplo ter sido atingido por uns quantos objectos de índole variada no rabo ou que tenha porventura padecido de uma qualquer outra equivalente travessura, reaja com maior vigor à situação, repreendendo assertivamente os seus alunos.
Quando isso acontece, o mais certo é que os alunos se sintam incomodados com o rigor da advertência e com o fervor do professor, por consequência disso, e com inteira razão, é normal que “se passem” com o dito docente.
Professor que é professor, sabe lidar pedagogicamente e tranquilamente com o arremesso de uns quantos objectos que lhe acertem em cheio, como saberá igualmente lidar com serenidade com qualquer outra inocente brincadeira semelhante das crianças.
Reagir com placidez e pacatez, é atitude certa e correcta, pois evita que os alunos “se passem” com professores. É tudo a bem da nação, pois ninguém quer que haja alunos “passados”.
Um outro jovem actor, Mauro Wilson de 15 anos, colega de elenco de Sara Barradas, não nega que, em certos momentos considera saltar a linha que divide a ficção da realidade, diz o rapaz o seguinte: “Se fosse mais novo, se calhar experimentava brincar assim com algum professor...”
Nós não compreendemos a hesitação do menino Mauro Wilson. Mas por qual razão, não há de o rapaz poder fazer aos seus professores da vida real, as mesmas exactas patifarias que faz como personagem na série televisiva?
O nosso conselho ao Mauro é que não se acanhe, que vá com força. A verdade é que se fizesse umas quantas safadezas aos seus docentes, o resto da turma até se ria, todos ficariam contentes e felizes e haveria certamente um clima de bem-estar muito mais propício às aprendizagens. Vai na volta, com tudo isso, a escola que o Mauro frequenta até subia nos rankings.
Na televisão é longa a tradição de alunos fictícios, cujo único objectivo é dar cabo da pachorra aos professores, e se por acaso ao Mauro Wilson lhe faltar inspiração para umas quantas diabruras destinadas a arreliar os seus docentes, pode ir revisitar clássicos de sempre como “O Menino Tonecas”, onde encontrará muito boas ideias, daquelas com resultado certo.
Na verdade, a tradição fictícia de personagens cujo objectivo é torrar o juízo aos seus docentes, não se limita a usar como contexto a escolaridade obrigatória, pois é logo desde do Pré-Escolar, que há meninada na TV cuja única razão que tem para existir é colocar os nervos em franja à sua educadora.
O mais bem conseguido desses personagens é o Menino Nelinho, protagonizado por Herman José, que nos idos anos 80 do século passado, semanalmente fazia rir toda a nação lusitana, tentando com enorme afinco tirar do sério a sua educadora, a Dona Palmira.
Aqui chegados, a conclusão é óbvia, os professores há muito tempo que são um alvo preferencial não só para os alunos que lhes queiram atirar com objectos de índole diversa, mas são igualmente um alvo para o humor televisivo nacional.
Tal constatação faz-nos perceber que os humoristas televisivos não terão lá grande imaginação, pois passam-se os anos, e roda o disco e toca o mesmo, volta não volta, lá surge mais uma série cómica com um docente a fazer uma triste figura.
Docentes fictícios a fazerem uma triste figura é uma tradição antiga, veja-se por exemplo que a primeira versão de “As Lições do Tonecas" surgiu como um programa no Rádio Clube Português no já longínquo ano 1934. Em breve poderemos assinalar um século de humor com professores.
Porém, eis que chegados ao ano da graça do senhor de 2025, houve um humorista, no caso o Bruno Nogueira, que ao invés de como todos os outros pôr a ridículo os docentes e continuar uma nobre tradição, decidiu antes fazer chalaças acerca de um aluno e dos seus encarregados de educação.
Bruno Nogueira não foi de modas, classificou o aluno fictício como sendo estúpido e também burro. Nesse sentido, quase se poderia dizer que inventou um novo conceito, a acumulação. Com efeito, há quem seja estúpido e há quem seja burro, mais raro é haver quem acumule estas duas características, razão pela qual os que acumulam, por serem mais raros, não são tão falados.
Mas dito, Bruno Nogueira trouxe-os para a ribalta.
Aqui fica o sketch:
Já está! Foi em cheio na testa! Toda a gente se riu, e o professor, como bom colega e excelente profissional que é, reagiu com pedagogia à situação: nem tugiu nem mugiu...
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