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Poderão os docentes portugueses ser cool? Nós temos a equação certa!

 


A imprensa internacional está ao rubro, pois um novíssimo estudo científico publicado no conceituado Journal of Experimental Psychology conseguiu definir de uma vez por todas, quais são as características sine qua non para que alguém seja tido como sendo cool.

Na América, o The New York Times titulou em grandes parangonas: “What Makes Someone Cool? A New Study Offers Clues”. Em Londres foi o mesmo e o The Guardian anunciou com estilo, “You know it when you see it, experts size up scientists attempt to define cool”. E aqui mesmo ao lado, em Madrid, também o El Pais difundiu a enorme novidade, “La ciencia de lo cool: las seis actitudes que te hacen irresistible”.

Em Portugal tão importante notícia foi praticamente ignorada pelos jornais, todavia, não passou despercebida em todo o mundo lusófono. O Estadão, que se publica desde 1875 e é um dos maiores e mais prestigiados periódicos do Brasil, fez o que por cá não se fez, uma manchete em bom português: “Estas 6 características fazem uma pessoa ser cool, segundo estudo em vários países; veja se você é”.


O que este recente estudo traz de novo à humanidade, não há dinheiro que o pague. Com efeito, até agora todos pensávamos que ser cool era uma dávida dos deuses, algo que vinha nos genes, porém, descobrimos neste momento graças à ciência, que afinal há uma receita eficaz para que qualquer um possa ser cool, a saber, uma fórmula com uns meros seis procedimentos.

Dito isto, e ainda antes de irmos verificar qual é a meia-dúzia de condutas a ter para se ser cool, falemos a esse mesmo propósito da classe docente. 
Não raras vezes, vemos em populares séries de TV, personagens cuja profissão é a de professor. No entanto, tais personagens têm frequentemente traços apalermados ou muito peculiares. O mesmo é dizer que os personagens fictícios docentes das TV’s são claramente uncool.

É esse por exemplo, o caso da Professora Alice da série da SIC, “Batanetes 2025”. Olhemos atentamente para a imagem abaixo da Professora Alice. Parece uma senhora boazinha, mas será que há alguém neste mundo, que a considere cool? A resposta é óbvia!


Há muitos outros exemplos de personagens fictícios docentes com um ar pateta, facto que nos faz crer, que a população nacional tem uma imagem dos professores portugueses, como não sendo estes gente cool.

Em conclusão, se a ficção televisiva nacional opta por representar a classe docente como sendo meia tonta e uncool, é porque é essa a imagem enraizada que os portugueses têm dos professores no interior da sua psique.

Veja-se a imagem abaixo, proveniente da série que passa com grande sucesso na TVI, “Zero em comportamento”. No presente caso temos a Professora Adelaide ao lado de um seu colega de profissão. Olhando para ambos, parecem gente boa, mas alguém é capaz de afirmar que são gente cool?


Deste modo, como hão de os jovens portugueses querer seguir a carreira docente? Não querem, pois claro. A juventude quer é ser leve, moderna e cool, e não ter uma aparência palerma ou um tanto ou quanto peculiar. Não serão certamente essas as características, que atrairão a juventude e a farão enveredar pela profissão de professor.

Nesse contexto, as recentes descobertas científicas sobre como se pode ser cool, poderão vir a ser uma preciosa contribuição para atrair os jovens lusitanos para a profissão de professor. Assim sendo, vamos lá verificar qual é a fórmula científica para se ser cool e como é que esta pode ser aplicada aos docentes.

A primeira coisa a dizer, é que a ciência associa o ser-se cool a ter-se autoconfiança e também a ser-se competente no que se faz. A isto acresce ainda, o ter-se uma certa rebeldia.

Autoconfiança, competência e rebeldia, logo à partida, exclui muita gente. Exclui os que são competentes, mas aos quais lhes falta confiança. Exclui igualmente, os que têm confiança em si próprios, mas não competência. Excluiu ainda todos os que possuem confiança e competência, mas que de rebeldes nada têm. E por fim, exclui além disso, os que só são rebeldes, mas não têm autoconfiança nem competência. Em síntese, daqui se conclui que ser-se cool não parece ser coisa fácil.

Vejamos um clássico exemplo do cool, Miles Davis. Em 1957, o dito compositor e trompetista lançou um álbum que ficaria para a história, “The Birth of the Cool”. A composição musical é de uma exímia competência, Miles interpreta as melodias alardeando ritmo, autoconfiança e determinação, e para mais, toca com um certo “je ne sais quoi”, que lhe dá um ar rebelde. Em resumo, Miles é o cúmulo do cool.

Ouçamo-lo a interpretar um tema por si escrito, “So What”. Por si só, o atrevido título da composição, é logo uma clara demonstração do quão cool o homem era.



Deixemos agora Miles e voltemos ao estudo científico que referimos no início deste nosso texto. Vejamos o que nos diz um dos cientistas participantes: “Acreditamos que pessoas cool desempenham uma função específica nos grupos e sociedades onde estão integradas, o de desafiarem os limites e assim ajudarem a promover mudanças culturais e sociais.”

Coisa semelhante diz-nos uma outra cientista envolvida na mesma pesquisa: “O cool não é apenas uma moda ou um fenómeno estético, mas sim uma categoria psico-emocional universal que designa pessoas capazes de inspirar, seduzir ou liderar sem se submeterem às regras estabelecidas.”

Estando determinado em termos globais o que é ser-se cool, vamos então verificar quais são as seis características específicas que os cientistas descobriram. Refira-se que a pesquisa envolveu 6.000 pessoas provenientes de 12 países diferentes de diversos continentes: Austrália, Chile, China, Alemanha, Índia , México, Nigéria, Espanha, África do Sul , Turquia, Coreia do Sul e Estados Unidos.
A. surpreendente conclusão a que se chegou, é que as pessoas cool, seja lá em que lugar do mundo for, são sempre vistas como sendo irreverentes, divertidas, firmes, ousadas, abertas e independentes.

Curiosamente, a percepção sobre o que é ser-se cool é semelhante por todo os continentes. Tanto faz qual seja a raça, a cultura, a idade, a religião, o género, o nível de escolaridade ou a classe social, há uma concordância geral a nível mundial sobre quem é ou não cool. Abaixo a imagem de um zulu cool.


Os investigadores quiseram também estabelecer a diferença entre uma pessoa boa e alguém cool. As pessoas boas são vistas como sendo conformistas, tradicionais, estáveis, calorosas, empáticas, conscienciosas e tranquilas, mas não como sendo aventureiras, destemidas, autónomas ou divertidas, por consequência disso, há muita gente boa que de cool nada tem.

Estando nós agora já perfeitamente conscientes das conclusões do estudo realizado pelo Journal of Experimental Psychology, centremos-nos então na classe docente. Em boa verdade, a nossa sociedade acredita que um bom professor é essencialmente uma boa pessoa, sendo por tal razão, que valoriza imenso um docente que seja consciencioso, empático, caloroso e tranquilo. Há também sectores mais conservadores, que consideram que os bons professores, para além dessas referidas características, devem ainda ser estáveis e inclusive tradicionais.

Em grande medida, a sociedade portuguesa vê um bom professor como sendo equivalente a uma pessoa bondosa, algo tonta mas simpática, com muita paciência, e genericamente empática, tranquila e conformada com o seu destino. É esse o motivo pelo qual, personagens como a Professora Alice da série “Batanetes 2025” ou a Professora Adelaide da série “Zero em comportamento” abundam na ficção nacional.

Será também esse um dos motivos, porque a juventude actual se recusa a seguir a carreira docente, pois poucos serão os jovens que quererão ser vistos como sendo bonzinhos, ou seja, como meio tontos e muito uncool.

Dito isto, a solução é simples, há que mudar a imagem que a sociedade tem da classe docente e fazer com que a profissão passe a ser vista como sendo cool. Para tal só há uma coisa a fazer, ou seja, apelar aos professores actualmente em exercício de funções para agirem como gente cool.

Se até à presente data, nenhum docente sabia muito bem como ser cool, após as conclusões do estudo científico do Journal of Experimental Psychology, já temos uma receita simples, que se exemplifica perfeitamente através da seguinte equação: (autoconfiança + competência + rebeldia) X (irreverência + diversão + firmeza + ousadia + abertura + independência) = cool docente

Dito isto, o que resta dizer, é que com a equação acima, só não é cool quem não souber fazer as contas.

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