Soubemos de uma versão da História, que associa a
criação do prato “Pasta alla carbonara” com a sociedade secreta e
revolucionária “La Carboneria”, que foi fundada em Itália no ano de 1810. Tal
sociedade atuou em diversos locais, inclusivamente em Portugal, país no qual o
seu nome era “A Carbonária”.
Fomos ler e pesquisar, tendo assim descoberto, que
relativamente à verdadeira origem do esparguete à carbonara, não há efetivas
certezas. Há também quem diga, que durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado
norte-americano de serviço em Itália, terá pedido esparguete numa qualquer
taberna, achando o prato pouco proteico, acrescentou-lhe o que tinha, uns ovos
em pó, tendo sido assim, que foi criada a primeira versão da “Pasta alla
carbonara”.
Como já terão percebido, a História da “Pasta alla Carbonara” é complexa, havendo até versões, que fazem remontar a origem do prato à Roma Antiga. Aqui fica um resumo feito por um restaurante, que fica lá para São Paulo, no Brasil:
http://vierestaurante.com.br/pasta-alla-carbonara/
Às vezes entretemo-nos a ler gente que pensa e sabe,
e que, por consequência, não escreve nem diz baboseiras. Ou seja, gente que
entende daquilo que fala, ou, não o entendendo, antes de se atrever a falar ou
pôr-se a tecer considerações sobre um qualquer assunto, pesquisa, estuda e lê.
E com isto voltamos à nossa bandeira nacional e ao
polémico logotipo governamental. É um tema sobre o qual já anteriormente vos
tínhamos falado. Mas voltamos a ele porquê? Precisamente por causa da História,
tanto a de Portugal, como a da Arte. No que diz respeito à História da
Culinária e à matéria “Pasta alla carbonara”, é uma temática que já demos por
encerrada.
Antes de prosseguirmos, se alguém quiser ir ler sobre o que a este propósito há uns tempos escrevemos sobre a bandeira norte-americana, faça o favor:
https://ifperfilxxi.blogspot.com/2024/04/e-o-pack-bandeira.html
Toda esta história do logotipo e da bandeira é
simbólica. Mas é um símbolo de quê, perguntará quem nos lê. É um símbolo de
como a ignorância alicerçada nas redes sociais e nos comentários televisivos se
tornou convencida, e pior ainda, agressiva.
Por favor não nos interpretem mal, nós não discutimos
se o logotipo governamental deve ser estilizado ou ao invés ter as quinas, as
chagas de Cristo, a esfera armilar e os castelos. A nós, isso agora não nos
interessa.
Antes como agora, quem é legitimamente eleito para
decidir, decide, e portanto, acerca disso, nada temos para dizer. O que nós
contestamos são sim todas as opiniões mal informadas e comentários ignorantes,
que foram feitos à volta desse assunto. Esse é na verdade o nosso real tema.
Ora bem, gente que sabe do que fala, que pesquisa, estuda e lê, pelo menos conhece um pouco da História nacional, que não seja apenas, quem foi o primeiro rei de Portugal. Assim sendo, pensará o quão irónico é ver, os atuais sectores conservadores da sociedade portuguesa, a defenderem aguerridamente a presente bandeira. Essa mesma, que ainda há um século foi ferozmente defendida pela mais radical e revolucionária associação política dessa época: a Carbonária.
É giro! O quê? A História.
Estranhamente, ou talvez não, ao pesquisarmos, não
encontramos muita literatura sobre a Carbonária portuguesa, ainda assim, há uma
boa obra de ficção. Aqui fica o trailer do livro em questão:
Se alguém se interessar pela real história da
Carbonária e não por ficções, aqui fica um outro livro como sugestão, este sim
de História:
Em 1910, aquando da implantação da república, o
governo provisório de então, presidido por Teófilo Braga, iniciou o processo de
seleção dos símbolos em torno dos quais se pudesse construir uma nova unidade
nacional. A escolha do hino foi consensual, já a da bandeira não.
Quando começou a haver sinais de que o governo se iria
decidir por uma bandeira azul e branca, as seculares cores da monarquia,
prevendo apenas mudar-se as armas da realeza pelos símbolos republicanos,
houve logo uma força poderosa que interveio para impedir tal situação, a
Carbonária, ou seja, a tal sociedade secreta, revolucionária e radical que,
para além disso, também era anticlerical.
Caso a Carbonária não tivesse levado a sua avante,
hoje em dia a bandeira nacional seria mais ou menos assim:
A bandeira da Carbonária era verde-rubra e é à época
todos a associavam imediatamente não à tradição ou à unidade nacional, mas sim
à revolução e ao radicalismo. Em síntese, era uma bandeira ligada aos sectores
mais extremistas da sociedade portuguesa de então, razão pela qual, muitos não
a queriam. Abaixo, uma imagem da bandeira da Carbonária.
A comissão encarregue da escolha da bandeira nacional
recebeu mais de quarenta projetos, todos bem distintos uns dos outros. Esse
elevado número de propostas refletia bem o intenso debate em torno da questão.
Uma discussão que envolveu não só políticos e intelectuais, mas também toda a
restante sociedade.
Os republicanos mais radicais, os da Carbonária,
conseguiram acelerar o processo em seu favor. Após disputadas querelas, e para
gáudio dos defensores do verde-rubro e indignação da maioria da população, que
era partidária do azul-branco, o governo aprovou a bandeira que hoje todos
conhecemos e usamos.
Uma vez tomada a decisão, a polémica tornou-se ainda
mais violenta. Em Lisboa, no Porto e por todas as cidades de província
multiplicaram-se os projetos para uma nova bandeira. Todos tinham propostas.
Quem quer que saísse à rua poderia ver afixados inúmeros esboços para a
bandeira afixados em clubes recreativos, em livrarias, tabacarias, cafés e
demais estabelecimentos.
Em conferências e sessões públicas, os diferentes
autores divulgavam e faziam uma empenhada defesa dos seus projetos.
Acreditava-se que a Assembleia Constituinte podia votar um parecer contrário à
bandeira verde-rubra e os imensos partidários do azul-branco reclamavam com
insistência um plebiscito ao povo. Tudo em vão, como a História regista. A
bandeira que ficou foi a verde-rubra, a que estava associada aos radicais
revolucionários da Carbonária.
Mas tendo nós revisitado toda esta história pela perspectiva da História de Portugal, vejamo-la agora pelo lado da História da
Arte. O polémico logotipo desenhado pelo Studio Eduardo Aires, inspira-se na
verdade em tendências antigas, de há mais de um século.
A tendência para a construção de símbolos recorrendo a
formas geométricas básicas e a cores simples, nasceu com os movimentos
artísticos De Stijl e Bauhaus, que surgiram no início do século XX. Veja-se por
exemplo, o poster abaixo da Bauhaus, concebido há cerca de cem anos:
A bandeira portuguesa foi concebida mais ou menos na mesma altura, em 1910, em que Kandinsky e Malevitch revolucionaram a arte inventando a abstração. O logotipo concebido pelo Studio Eduardo Aires era suposto ser moderno, no entanto, a sua estética baseia-se em concepções de há um século. Se há dúvidas quanto isso, comparem-no com o poster da Bauhaus acima.
Posto isto, o que tivemos nos últimos tempos, foi os
atuais sectores conservadores a defender uma bandeira revolucionária, e os
atuais sectores progressistas a defender um logotipo com uma estética de há um
século. É giro! O quê? A História! A de Portugal, a da Culinária e a da Arte.
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