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Tudo para a rua, isso sim é um luxo!

 


No nosso texto anterior falámos-vos da imensa necessidade de certezas, como sendo um dos sintomas do fascismo. Não de todas as certezas, claro está, apenas de algumas. Ilustrámos então o tema citando um célebre discurso de Salazar, no dia 28 de maio de 1936 em Braga: “Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século procuramos restituir o conforto das grandes certezas.” 

Aqui fica o que antes escrevemos:

https://ifperfilxxi.blogspot.com/2024/04/essa-imensa-necessidade-de-certezas.html


O conforto das grandes certezas é realmente algo que dá um certo descanso. Ao invés de termos de nos pôr a pensar e a discutir se algo é assim ou de um outro modo qualquer, se porventura estivermos ferreamente convictos de tudo e nunca formos consumidos por quaisquer dúvidas, andaremos efetivamente muito mais tranquilos e seguros. Mas será isso bom?

 

É bom termos algumas certezas na vida, como por exemplo, sabermos que no dia de amanhã e nos outros a seguir teremos com que nos alimentarmos ou um teto debaixo do qual poderemos dormir. Certezas desse género são-nos indispensáveis. De igual modo, é também necessário que possamos contar com uma certa tranquilidade e uma quanta segurança.

Contudo, quando essas efetivas necessidades se estendem para lá de certos limites e se tornam imperativas, e queremos estar calmos e serenos a todo custo, nesse caso, estamos já claramente perante sintomas de fascismo.

 

Antes de continuarmos, neste preciso momento, é importante relembrarmos a quem nos lê, o que dissemos na nossa publicação anterior: “…o fascismo tem uma clara definição, todavia, nós vamos ser um tanto ou quanto libertinos no uso dessa expressão. Queremos com isto dizer, que não a vamos usar na sua acepção científica, mas sim de um modo mais ou menos livre, o mesmo é dizer, de forma pouco ou nada rigorosa.”.

 

Dito isto, na livre acepcão em que aqui fazemos uso do termo, vamos fazer a surpreendente afirmação de que os condomínios fechados são um sintoma de fascismo. Como é evidente não estamos a afirmar que quem neles habita será fascista, nada disso. Estamos sim a afirmar, que a concepção urbanística que lhes está subjacente, ela sim, é que é fascista.

 

A propósito disso, haverá lá metáfora mais adequada para o que acabámos de dizer, do que o destino dado ao edifício onde se situava a antiga sede da PIDE em Lisboa? Após o referido edifício ter sido adquirido por um grupo de investimento imobiliário, foi reconvertido e transformado no quê? Adivinhem lá? Num condomínio fechado, pois claro está.



A expressão condomínio fechado remonta à Roma antiga e atravessa a história da humanidade, contudo, aquilo que aqui nos interessa é o seu formato atual, aquele que vemos por Portugal inteiro, desde norte a sul do país.

Esse formato teve uma origem bem mais recente de que a Roma antiga, surgiu na América do Sul, algures na década de 80, tendo sido esse o modo que os construtores civis encontraram para continuar a fazer bons negócios.

 

O que construtores e investidores propunham aos seus clientes e felizes futuros proprietários imobiliários, era afastarem-se das extremas desigualdades sociais e dos imensos problemas de violência e segurança existentes em determinadas cidades da América do Sul. Propunham-lhes o suposto conforto de nunca terem de sair à rua e de viverem numa redoma protetora, completamente à margem do mundo em redor.

 

No entanto, a moda pegou e atravessou o Atlântico, estendendo-se ao nosso país, este que à beira-mar foi plantado. Porém, a verdade é que apesar de todas as imperfeições que Portugal possa ter, uma coisa é certa, não tem níveis de desigualdade social, problemas de violência e de segurança tão grandes como os de alguns países da América do Sul. Assim sendo, e por consequência, os condomínios fechados de cá, nunca poderiam ter à mesma intencionalidade do que os de lá, os do outro lado do Atlântico.

 

Significa isto que por cá, os condomínios fechados respondem antes a uma certa ideia do que é o luxo habitacional. A nosso ver, é uma ideia absolutamente errada, um enorme equívoco, mas dito isto, o que é que se há de fazer? Pois se há gentes que querem viver fechadas, paciência. O mais que podemos dizer, é que bom proveito lhes faça.

 

Não nos interpretem mal, nós nada temos contra o luxo, não nos importávamos nada de viver luxuosamente. O problema não é esse, não cremos é que habitar um condomínio fechado seja um luxo, antes pelo contrário, acreditamos até que é uma coisa de pobres, mais não seja de espírito.

 

Peguemos numa frase do maior arquiteto português: “O 25 de Abril tornou possível a intervenção de movimentos populares de luta pela casa e pelo direito à cidade, movimentos durante muitos anos controlados: reprimidos.”

 

A parte desta frase que neste momento nos interessa, é aquela em que Siza Vieira afirma que o direito à casa na cidade esteve durante muitos anos reprimido. Assim sendo, pensar-se-ia que com o passar do tempo e com a consolidação da liberdade e da democracia, cada vez mais esse direito à cidade fosse reivindicado por todos os cidadãos.

 

Mas não, a partir de um dado momento, passou a haver um número não despiciendo de cidadãos portugueses, que voluntariamente optou por se isolar e ir habitar urbanizações concebidas e construídas, com o explícito objetivo de os pôr a morar afastados ou apartados da cidade.

Em síntese, há cidadãos que não o querem ser e decidem conscientemente recusar viver as imensas alegrias que as cidades têm, a saber, os cafés, os restaurantes, os cinemas, os teatros, as avenidas, os museus, as lojas e uma imensidão de diferentes gentes. Ao invés de tudo isso, preferem antes a mansa e morna pacatez de um condomínio fechado. Haverá lá maior pobreza de espírito?

 

Posto isto, garantimos-vos que conhecemos pessoas muito inteligentes e simpáticas que habitam em condomínios fechados, mas como dizem os nossos amigos alemães, “Stadtluft macht frei”, ou seja, o ar da cidade liberta.



Todos os índices de violência e criminalidade internacionais nos dizem que Portugal é um dos países mais seguros do mundo. Melhor do que nós, só a Islândia, a Dinamarca, a Irlanda, a Nova Zelândia, a Áustria e Singapura. Isto é assim há muito anos.

Temos um nível tranquilidade igual ao dos países mais ricos e prósperos. Não há nada em que estejamos tão bem classificados nos rankings como em segurança. Dito isto, por qual razão há quem por cá abdique voluntariamente do seu direito à cidade, vá morar para um sítio isolado e ainda considere essa abdicação um luxo? A nós tal parece-nos paradoxal.

 

É como se alguém estivesse num quente e paradisíaco destino tropical e para se proteger do frio que aí não existe, se encerrasse no interior de uma luxuosa arca congeladora, não faz sentido.

Analisemos a pertinência da nossa analogia. Portugal é um país seguro e tranquilo como há poucos, nesse aspeto é quase um paraíso, por consequência, é um sítio excelente para de desfrutar do direito à cidade. Vai daí, há quem se exclua voluntariamente desse direito e se resguarde num local isolado ou apartado da vida urbana e ainda considere tal coisa um luxo.

 

Dito assim, faz ou não sentido à analogia? Digamos que não é completamente despropositada.

 

Voltemos a Siza Vieira. Aqui vai mais uma citação do mestre a propósito do que é envolver-se na vida de uma cidade: “Um processo de participação move-se entre conflitos, tensões, choques, entrega, saltos, paragens; compreende erros e também a sua crítica; acumula experiência; tende à globalidade.”

 

O que Siza nos diz, é que a vida urbana é feita de desencontros (conflitos, tensões, choques), de aprendizagens (saltos, experiência, erros e a sua crítica) mas também de felizes encontros (participação e tender para a globalidade). O que Siza nos diz é isso.

 

Mas não seria necessário alguém tão ilustre como Siza para isso nos dizer, até uma simples cançonetista inglesa nos diz o mesmo. Recordemos nesse contexto um sucesso dos Anos 60, Petula Clark e “Downtown”. Resumimos a sua extensa tese acerca da felicidade e da cidade em duas estrofes:

 

When you're alone, and life is making you lonely

You can always go

Downtown

When you've got worries, all the noise and the hurry

Seems to help, I know

Downtown

Just listen to the music of the traffic in the city

Linger on the sidewalk where the neon signs are pretty

How can you lose?

 

The lights are much brighter there

You can forget all your troubles, forget all your cares

So go downtown, things'll be great when you're

Downtown, no finer place for sure

Downtown everything's waiting for you

 

Aqui fica a conferência urbanística de Petula Clark para quem a quiser ouvir a cantar, são três minutos:

 


Aqui chegados, perguntarão os nossos leitores, está tudo muito certo, mas que tem afinal o fascismo a ver com isso? Tudo. A cidade é um lugar de desencontros, aprendizagens e encontros, é um local de surpresas, debates e diferenças.

Nela habitar comporta tudo isso, o mesmo é dizer, pensar, discutir, divergir, colaborar e chegar a acordos ou não, no fundo, é um espaço para todos. O fascismo é o oposto, é um lugar só para uns poucos, controlado e seguro e onde todos os caminhos estão previstos, traçados e vigiados, tal e qual um condomínio fechado. Há quem diga que isso é um luxo, nós preferimos a poesia da cidade e das suas ruas.

 

Finalizamos com um poema, com um de Mário Cesariny:

 

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

conheço tão bem o teu corpo

sonhei tanto a tua figura

que é de olhos fechados que eu ando

a limitar a tua altura

e bebo a água e sorvo o ar

que te atravessou a cintura

tanto, tão perto, tão real

que o meu corpo se transfigura

e toca o seu próprio elemento

num corpo que já não é seu

num rio que desapareceu

onde um braço teu me procura

 

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te perco

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