Detroit chegou a ser durante umas quantas décadas, uma das mais prósperas e vibrantes cidades norte-americanas. Por todo o lado havia grandes fábricas de automóveis, e de toda a América afluía à cidade gente para nela trabalhar. Mas para além disso, a juventude era muita e havia música por todo o lado. Foi precisamente nessa urbe, em que diariamente se fabricavam milhares de carros, que nasceu o lendário som da Motown (Motor+Town).
Na publicação anterior desta nossa série de verão “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto” falámos de Charleroi, (https://ifperfilxxi.blogspot.com/2024/08/capitulo-iv-como-andar-tristonho-e-mal.html), essa cidade da Bélgica que é considerada a mais feia do mundo, mas hoje vamos falar-vos de uma cidade, cujo destino é ainda mais depressivo, ou seja, de Detroit.
Até à década de 80 do século XX, Detroit andava lado a lado com Nova Iorque, Los Angeles e Chicago como uma das mais importantes cidades norte-americanas, mas depois, somente nuns poucos anos, desmoronou-se completamente.
A abrupta queda de Detroit é uma das mais tristes e deprimentes histórias urbanas de que há memória, enquadrando-se por isso perfeitamente, no contexto destas nossas publicações estivais, cujo objetivo explícito é serem depressivas.
The United Artists Theater em Detroit era uma das mais esplendorosas e impressivas salas de espetáculos de toda a América, contudo, como muitos outros edifícios da cidade de Detroit, foi completamente abandonada, sendo que hoje em dia, o seu aspeto é o que abaixo se vê, uma ruína, um espelho quebrado de um glorioso passado.
Um outro espaço que anteriormente se dedicava a espetáculos e que agora encontrou um destino bem diferente, é o Detroit Michigan Theater. Hoje em dia é um parque de estacionamento, que é coisa que antes nunca ninguém poderia ter imaginado, que alguma vez pudesse vir a ser.
Cremos que estes dois exemplos, são por si só já bastante taciturnos e tristes, fazendo-nos pensar na fragilidade e fugacidade das coisas humanas. Com efeito, se até uma grande e poderosa cidade norte-americana, pode nuns poucos anos entrar em tal decadência, como poderemos nós ter esperança de que os humildes sítios onde nascemos, crescemos e vivemos, com a passagem do tempo, não desapareçam de vez.
É um belo pensamento para este verão, imaginar os lugares das nossas queridas e íntimas memórias abandonados, arruinados e, finalmente, reduzidos a cinzas e pó. Vale a pena pensar nisso enquanto se vai a banhos.
Já agora, para quem efetivamente estiver a pensar em ir a banhos, aqui vos deixamos a banda sonora perfeita para acompanhar esse pensamento, “I Wish it Would Rain”, um clássico de sempre da Motown, The Temptations na sua melhor forma:
A prosperidade de Detroit foi em tempos idos tão grande, que a cidade e os seus habitantes puderam para ela adquirir os mais belos objetos, foi nesse contexto que foi erguido o magnífico Detroit Institute of Arts Museum.
O museu tem mais de 100 salas nas quais é possível ver peças da Grécia e da Roma antiga, outras com origem nas milenares civilizações orientais, e também os grandes mestres da Renascença e do Barroco. Para além disso, não falta nenhum dos grandes nomes da modernidade e da arte contemporânea. Pensem em qualquer um dos grandes artistas da História da Arte, é certo que em Detroit o vão encontrar, pois o museu tem nas suas coleções mais de 65 000 obras.
Como já se percebeu, o museu dispõe de uma extensa e excelente coleção de obras de arte, ao nível das melhores do mundo, contudo, houve quem tivesse sugerido vender algumas delas, daquelas que estão avaliadas em largos milhões de dólares, que são muitas, e isto para financiar a autarquia local de modo a que esta pudesse pavimentar estradas, recuperar ruas, restabelecer canalizações e circuitos eléctricos, e também renovar escolas, hospitais e outras instituições públicas, uma vez que não conseguia arranjar financiamento em lado nenhum.
Mas para além disso, como o Detroit Institute of Arts é uma instituição pública, os credores insistiram na venda de obras de arte de modo a que a cidade conseguisse pagar a sua imensa dívida. Por uma vez, a população local ergueu-se, indignou-se, mobilizou-se e conseguiu salvar o seu património.
Entre as peças propostas para serem vendidas contava-se “Mulher Melancólica” de 1902 de Pablo Picasso, que é uma obra que fica muito bem nesta nossa série de verão “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto”.
A história do Detroit Institute of Arts teve um final feliz e mesmo com todas as dificuldades lá continua ao serviço dos cidadãos, todavia, como todos os que nos leem sabem, esta nossa série não tem como objetivo deixar ninguém alegre e bem-disposto, por isso aqui vos deixamos um artigo da revista Forbes que explica perfeitamente por que Detroit continua em constante declínio. É ler:
Por fim, e para terminarmos este quinto capítulo, mais um clássico musical da Motown, um bem triste, em que a letra nos diz coisas como “People say I'm the life of the party 'Cause I tell a joke or two, although I might be laughing loud and hearty, deep inside I'm blue. So take a good look at my face, you’ll see my smile looks out of place, If you look closer, it's easy to trace, The tracks of my tears”:
E pronto, em breve neste blog, num outro dia, seguir-se-á o sexto capítulo desta série de verão, “Como andar tristonho e mal-disposto em agosto…”
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