No nosso texto anterior, escrevemos acerca de um homem, de seu nome Hirayama, cuja profissão é limpar as casas de banho públicas da cidade de Tóquio, a capital do Japão. Vimos como era feliz a fazer esse serviço, e como essa sua alegria provinha de uma atitude perante a vida, que os nipónicos designam pelo termo KOMOREBI { 木漏れ日 }. Quem quiser ler, tem abaixo o link para o fazer:
Posto isto, vamos agora nesta nossa segunda parte, continuar a falar-vos de casas de banho públicas, neste caso já não da limpeza das mesmas, mas sim de como algumas delas que existem por este mundo fora, são verdadeiras experiências imersivas e culturais. Escolhemos quatro.
Quem já passeou pela Islândia sabe que essa é uma terra vulcânica, de glaciares, de extensas paisagens sem fim à vista e de solitários. Percorrendo a ilha, é possível andar-se horas sem se ver viva alma, e ter-se só por diante durante longo tempo negras montanhas, verdes campos e horizontes de céu e mar.
A quem não goste de viajar, de andar metido em correrias e em aeroportos e aviões, mas ainda assim queira conhecer a essência da Islândia, aconselhamos um dos grandes romances de sempre, “Gente Independente” do consagrado escritor islandês Halldór Laxness (1902-1988).
Já a quem efetivamente queira deslocar-se até à longínqua ilha da Islândia, e porventura pretenda ter uma experiência singular e ficar imerso na grandiosa paisagem circundante, aconselhamos a casa de banho pública situada num pico vulcânico na região de Krafla.
Como podem verificar pela imagem abaixo, o WC dispõe de todas as comodidades, inclusivamente de duche. Ao que se diz, é um sítio muito apreciado pelos ciclistas de domingo.
Deixemos a fria ilha nórdica e sigamos em direcção a paragens mais quentes, o nosso destino é o Belize, que fica no mar do Caribe, ali entre o México e a Guatemala.
Em frente a Plasencia, uma cidade balnear desse pequeno país que é o Belize, há uma ilha minúscula, na verdade um ilhéu. Nesse local é possível ter uma experiência literária e sentirmo-nos como se fôssemos um autêntico Robison Crusoe.
Com efeito, no ilhéu não vive absolutamente ninguém, em nosso redor há apenas a natureza no seu estado mais puro e selvagem, excepto por um pormenor, existe um WC.
Aqui fica a fotografia do ilhéu em frente a Plasencia no Belize. Nela se vê o mar do Caribe, palmeiras tropicais e uma pequena casinha branca para nos recolhermos em momentos de necessidade, em síntese, uma imagem do paraíso.
O célebre escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961) era um inveterado viajante. Muitos dos seus livros relatam-nos histórias passadas nos lugares dessas suas viagem, como sucede em “Paris é uma festa” que decorre na capital gaulesa, como também acontece em “O Velho e o Mar” que tem Cuba como cenário ou com o romance “Fiesta”, que se passa em Espanha.
Ernest Hemingway viajou frequentes vezes para Madrid, cidade onde se tornou uma espécie de figura mítica. Não houve sítio dos bairros mais castiços de Madrid onde ele não tenha estado e apanhado uma das suas colossais e lendárias bebedeiras.
Foi de tal modo, que a cada esquina da velha Madrid, há uma tasca ou um bar com a inscrição “Hemingway was here”, coisa que de facto atrai muitos turistas, ainda ao dia de hoje. No entanto, houve restaurante na Plaza Mayor que decidiu optar pela estratégia contrária, ao que se diz, também resulta.
Hemingway professava uma filosofia de vida, que hoje caiu em desuso. O seu credo era simples, um homem é um homem e a sua virilidade mede-se pelo número de bebidas que consegue ingerir sem cair, pela quantidade de mulheres que possui, por ser aficionado de touradas e largadas, pelos charutos que fuma e também por andar na pesca e ir à caça.
Era este o seu paradigma de masculinidade, o qual nos tempos que correm está completamente fora de moda. Na realidade, o credo de Hemingway podia resumir-se numa frase: fazia o que lhe apetecia e pronto.
Como todos atualmente sabemos, o escritor estava profundamente errado no seu credo, pois esse antigo paradigma em que um homem fazia o que lhe apetecia e pronto, não é o correto.
Se Hemingway fosse hoje vivo, certamente que reconheceria o seu profundo equívoco e saberia adaptar-se às exigências da atualidade, nesse sentido, tornar-se-ia um homem sensível, inteligente, com senso de humor, ecológico, atento, bom ouvinte, bom amante, que ajuda no lar, que sabe mudar um pneu, que vai às compras, que é romântico, que não bebe, não fuma, não joga, que… que… Em resumo, são outros os tempos, pois então.
Cada um dos seus romances explana uma ou várias dessas atividades paradigmáticas, a que Hemingway se dedicava. Em “O Velho e o Mar” o escritor fala-nos da pesca, em “Paris é uma festa” de múltiplas mulheres, em “Fiesta” de touradas, e em todos eles de bebida. O romance em que nos fala de caça intitula-se “As Neves de Kilimanjaro” e relata-nos um safari pela Tanzânia, no continente africano.
Independentemente de agora o estilo viril de Hemingway ser um tanto ou quanto mal-visto, há algo em que tanto os homens de outros tempos, como os homens atuais são iguais, num ou noutro momento, dá-lhes jeito terem por perto uma casa de banho pública. Em boa verdade, tal critério aplica-se também a mulheres e crianças.
Nós não sabemos se do sítio da imagem abaixo se pode dizer “Hemingway was here”, mas em qualquer dos casos, o certo é que é um espectacular WC. Fica na Tanzânia, perto do Monte Kilimanjaro.
Para terminarmos este nosso tour, a Suíça. Num filme intitulado “O Terceiro homem”, Orson Welles, que nele interpreta o papel de Harry diz-nos assim: “In Italy for thirty years under the Borgias, they had warfare, terror, murder, and bloodshed, but they produced Michelangelo, Leonardo da Vinci, and the Renaissance. In Switzerland, they had brotherly love, they had five hundred years of democracy and peace, and what did that produce? The cuckoo clock.”
É possível que Orson Welles estivesse a ser um pouco injusto, pois mesmo não tendo a Suíça produzido nada de genial para além dos relógios de cuco, também tem bons queijos e chocolates e, “last but not least”, uma bela casa de banho em plenos Alpes.
Na imagem abaixo da alpina casa de banho, podemos apreciar todo o romantismo que dela de desprende. Apreciem detidamente, imaginem-se a contemplar os Alpes, enquanto...
Talvez quem nos lê, estranhe que a uma casa de banho, por alpina que seja, se aplique o adjetivo romântico. Mas não há por que estranhar, pois quem está familiarizado com a história helvética, sabe perfeitamente que um dos seus maiores artistas românticos foi o pintor excêntrico e naturalista Segantini.
Aqui fica uma obra de Segantini para que a possam apreciar.
Para terminar, ficam a saber que a casa de banho alpina que já vimos foi concebida pelo artista Segantini. Era para lá que ele se retirava para se inspirar e criar as suas românticas obras de arte.
Se alguma vez forem aos Alpes suíços, e mesmo que não tenham vontade, não se esqueçam de visitar a bela casa de banho de Segantini que fica no vale alpino Engadine.
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