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A juventude nacional está muito atrasada, não é de vidro nem de cristal! Ou é? (Parte 2)



No nosso último texto escrevemos acerca da chamada geração de cristal em Espanha e de vidro no Brasil. Cristal e vidro são termos que refletem como as crianças e jovens de agora, parecem ser emocionalmente bastantes mais frágeis e menos resistentes do que o foram as gerações de outrora.

Vimos que segundo os especialistas, a dita geração de cristal/vidro é o resultado de estilos parentais que reduziram a autonomia de crianças e jovens e os encheram de medos, dificultando assim a capacidade da juventude de enfrentar a realidade de forma independente.

Como consequência disso, algumas das características que definem os jovens da geração de cristal/vidro são as seguintes: não toleram críticas, ficam rapidamente frustrados, são emocionalmente instáveis, são inseguros, vitimizam-se com muita regularidade, demonstram fragilidade de caráter devido à superproteção que tiveram, e precisam de constante reconhecimento, pois apresentam uma baixa autoestima.

Ainda no nosso anterior texto, constatámos que há personagens de desenhos animados (e não só) que são banidos e não mais exibidos, com a justificação de que podem eventualmente ser ofensivos ou magoar a sensibilidade de crianças e jovens.

Quem porventura quiser rever esse nosso anterior texto, pode fazê-lo em:


Terminámos essa nossa última publicação com a promessa de analisarmos um filme de desenhos animados, que consideramos ser um belo antídoto para algumas das características que os especialistas atribuem à chamada geração de cristal/vidro.

O referido filme intitula-se “Pimpinela Escarlate”, que é uma figura clássica da literatura infantojuvenil. A película é de 1950 e foi realizada pelo mítico desenhador Chuck Jones para a Warner Brothers. O personagem principal, o tal Pimpinela, é aqui protagonizado por Daffy Duck.


Vamos analisar o filme dividindo-o em três partes. 
No início da narrativa, Daffy Duck representa um ator, que se lamenta ao diretor do seu estúdio, por a ele nunca lhe serem atribuídos papéis sérios e heróicos para interpretar, e sim apenas cómicos.

Com efeito, Daffy Duck considera-se capaz de interpretar personagens dramáticos e lamenta-se amargamente de jamais lhe ser dada tal oportunidade. 
Logo a forma como Daffy Duck se apetrecha, envergando um lenço ao pescoço e uma boina na tola, diz-nos que ele quer apresentar-se aos olhos do mundo como um ser culto, intelectual e erudito, desejando que os demais o reconheçam como tal.

Nisso Daffy Duck não anda longe da geração de cristal/vidro, pois uma das características das crianças e jovens dessa recente prole, é precisamente a de necessitarem de um constante reconhecimento por parte dos demais.


A ideia de Daffy Duck é a de que é ele perfeitamente capaz de desempenhar um papel sério, e até já escolheu qual história protagonizar, a saber, “O Pimpinela Escarlate”, um herói de capa e espada. Na imagem acima, vemo-lo a ler ao seu diretor, as páginas nas quais se contam as ousadas aventuras desse nobre e intrépido aristocrata.

Ainda antes de ter começado a sua leitura, mesmo no início do filme, logo após o genérico, ouvimos Daffy Duck dizer assim: “You killing me! I’m being murdered. I can’t stand this torture anymore.” Queixa-se enfaticamente de não lhe darem um papel de herói, sendo que, esse discurso de Daffy Duck, corresponde a uma outra das características da geração cristal/vidro, ou seja, ao facto de as crianças e jovens de agora se vitimizarem com muita regularidade e a propósito de tudo e de nada.

Ainda assim, Daffy Duck consegue que o seu diretor o oiça relatar a história cujo principal personagem pretende encarnar, o dito Pimpinela Escarlate. A partir desse instante, a ação da película centra-se nesse audaz personagem, ao qual Daffy Duck dá figura, sendo ele simultaneamente o narrador das suas aventuras.

Nesses primeiros minutos do filme, surgem os restantes personagens da história, o Lord High Chamberlain e a sua filha Melissa, e também o Grand Duke. O Lord High Chamberlain quer casar a sua filha Melissa com o Grand Duke, mas esta ama o Pimpinela Escarlate, que também gosta dela.

Melissa é uma jovem sem qualquer autonomia, o pai, o Lord High Chamberlain, superprotege-a e decide tudo por ela, não admirando por isso que esta seja frágil e emocionalmente instável. Aqui a vemos abaixo, acompanhada pela sua aia, e bastante perturbada e chorosa.


A relação entre Melissa e o seu pai, o Lord High Chamberlain, talvez não seja muito distinta da que atualmente existe entre as crianças e jovens da geração de cristal/vidro e o seus progenitores, ou seja, também estes últimos tudo decidem e as suas crias limitam-se a cumprir o por eles determinado. Nesse contexto, não espanta grandemente que os mais novos, tal como Melissa, se sintam um tanto ou quanto instáveis e demonstrem alguma fragilidade de carácter.

Em síntese, logo na primeira parte deste desenho animado, nomeadamente através da relação entre o Lord High Chamberlain com a sua filha Melissa, temos um exemplo claro de mais duas características apontadas pelos especialistas como próprias da geração de cristal/vidro, a saber, o demonstrarem fragilidade de caráter devido à superproteção que tiveram e o serem emocionalmente instáveis.

Antes continuarmos, nada melhor do que ver a primeira parte da película:



Na segunda parte da narrativa, verificamos que os servidores de Lord High Chamberlain aguardam que o Pimpinela Escarlate venha salvar a Melissa do seu casamento com o Grand Duke, tendo eles preparado uma emboscada para o capturar.

No entanto, o Pimpinela, como é esperto, aparece mas disfarçado de nobre. É com essa indumentária e nessa condição, que visita o Lord High Chamberlain. Neste entretanto, surge também em cena o Grand Duke, que alerta para a necessidade de apressar o seu casamento com Melissa, pois sabe-se que o Pimpinela Escarlate anda pelas redondezas. Aqui vemos os três à conversa.


Logo de seguida dá-se início à cerimónia, Melissa é levada pelo seu pai até ao altar, mas subitamente entra pela igreja adentro o Pimpinela Escarlate com o objetivo de a salvar. Vejamos então esta segunda parte:



A terceira e última parte da película inicia-se com uma cena em que Daffy Duck lê ao seu diretor a continuação da história do Pimpinela Escarlate. Após este último ter salvo Melissa, o diretor quer saber o que se segue, como continua a narrativa. Nota-se que Daffy Duck está um tanto ou quanto cansado.

Subentende-se que Daffy Duck alimentava a expectativa de que por esta altura dos acontecimentos, o diretor já tivesse aceite que ele interpretasse um papel sério e heróico, todavia, tal não sucedeu.
O que verificamos é que Daffy Duck começa a ficar desalentado, pois não esperava ter de se esforçar tanto, sendo esta uma outra característica atribuída pelos especialistas à geração de cristal/vidro, ou seja, ficam rapidamente frustrados.


O filme prossegue e voltamos novamente à história do Pimpinela Escarlate. Melissa está refugiada numa estalagem, no entanto, quem aí aparece é o Grand Duke. Melissa está aterrorizada com os seus avanços, mas mais uma vez, o Pimpinela Escarlate surge para a salvar. Segue-se um duelo de capa e espada entre o herói e o vilão.

De repente o filme passa novamente para uma cena no escritório do diretor, que pergunta a Daffy Duck o que sucede depois. Este já não sabe o que mais há de inventar e decide apresentar como continuação da história uma série de calamidades: uma furiosa tempestade, o colapso de uma barragem, um vulcão que entrou em erupção e a inflação que disparou provocando um enorme aumento dos preços.
Vejamos então a terceira parte:


Esta última sequência faz-nos lembrar os noticiários atuais, em que diariamente desfilam diante dos nossos olhos toda uma imensa sequência de calamidades sem fim. Perante tais circunstâncias, não é de espantar que a geração de cristal/vidro tenha crescido rodeada de receios, amedrontada com a realidade e, por consequência, sem ter conseguido desenvolver competências para enfrentar o mundo autonomamente.

Em conclusão, o que este filme de 1950 nos mostra é que os problemas e estados de alma das crianças e jovens atuais já então existiam. Provavelmente existiram desde sempre e para sempre continuarão a existir, todavia a diferença entre a década de cinquenta do século XX e o tempo presente, é que dantes sabia-se lidar com isso, ninguém precisava de ser protegido, os desenhos animados não eram banidos e a malta ria-se, o antídoto era esse.


Quanto ao título do nosso texto e à questão que nele lançamos,   "A juventude nacional está muito atrasada, não é de vidro nem de cristal! Ou é?", nada temos a dizer. Se a juventude nacional é ou não é de cristal ou de vidro como a espanhola e a brasileira respetivamente, cada um que responda autonomamente por si, afinal de contas não somos tutores dos nossos leitores.

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