A foto é de uma livraria no Japão, país que há de aparecer novamente neste texto, mas que para o verem terão de estar muitos atentos.
Num nosso texto anterior neste blog, falámos de alguém que não lê livros e que aconselha os outros a também não o fazerem. Falámos então de uma influencer, que é uma profissão(?) cujo objectivo é influenciar as pessoas dizendo e fazendo coisas, que não raras vezes, são um tanto ou quanto tontas.
O nome daquela de quem falámos é María Pombo, que goza da fama de ser a mais bem sucedida influencer de Espanha. A moça, que já é crescidinha, decidiu dizer aos seus seguidores, que se não gostam de ler livros, pois que façam como ela, pura e simplesmente não os leiam.
Segundo o que ela diz, ninguém é melhor pessoa por ler livros, e está na altura de acabar com essa disparatada ideia, de que ler livros faz com que as pessoas fiquem mais cultas e elevem o seu nível intelectual.
Abaixo uma imagem que não tem nada a ver com o que acabámos de dizer, excepto pelo facto de nela existirem livros.
Em resumo, a influencer María não gosta de ler e não gosta também que lhe digam que se lesse seria mais culta e inteligente do que realmente é. A moça tem um grande sucesso, é muito conhecida, os seus seguidores adoram-na, é elegante, e para além de tudo isso, ganha bem. Sendo este o contexto, ler livros para quê e porquê, pergunta ela.
Aqui fica, o que a esse propósito escrevemos anteriormente: https://ifperfilxxi.blogspot.com/2025/09/a-alegria-de-se-ser-analfabeto-funcional.html
De tão tontas que são, contestar as afirmações de María Pombo, não fará grande sentido, todavia, é isso o que vamos agora fazer, mesmo tendo nós plena consciência de que vamos fazer algo que carece de sentido.
No entanto, e para que este texto tenha um mínimo de sentido e coerência, não vamos mais referir-nos à dita María, a célebre influencer espanhola. Assim sendo, e sem mais delongas, deixemos Espanha e voemos até à Escandinávia, mais concretamente, até à Islândia.
Perguntarão os nossos leitores, que coerência, sentido e a que propósito, vem agora a Islândia. É uma pergunta razoável, mas sem interesse nenhum, por consequência disso, sigamos em frente e não percamos tempo com picuinhices.
Para ilustrar essa nossa viagem à Islândia, escolhemos a foto abaixo, de uma livraria que fica em Fjaerland, uma pequena localidade norueguesa situada por entre glaciares, montanhas e fiordes.
Se porventura alguém se estiver a perguntar, qual o sentido e a razão para ilustrarmos uma viagem à Islândia com uma foto da Noruega, esqueça tal questão. É uma pergunta pertinente, só que igualmente com pouco ou nenhum interesse.
Certamente que teremos também alguns leitores geograficamente mais picuinhas, que hão de estar a pensar de si para consigo, que a Islândia não faz sequer parte da Escandinávia. Facto que, em bom rigor, é verdade.
Todavia, numa acepção mais ampla da palavra Escandinávia, ou seja, numa acepção que não seja tomada só geograficamente, mas que seja tomada em termos históricos, sociais e culturais, a Islândia é sim um país escandinavo.
Em qualquer dos casos, foi por causa de picuinhices geográficas sem interesse nenhum, que os países escandinavos passaram a designar-se oficialmente por Países Nórdicos.
Adoptaram essa designação apenas por causa do rigor geográfico. A nosso ver, a mudança teve sentido, mas não valeu a pena.
Assim sendo, pelo recente termo Países Nórdicos, entende-se o que antigamente se entendia por países escandinavos. Os únicos dois países que geograficamente são efectivamente escandinavos, são a Suécia e a Noruega. Os três países que não sendo geograficamente escandinavos, o são por razões históricas, sociais e culturais, são a Finlândia, a Dinamarca e a Islândia.
Dito isto, Escandinávia é uma palavra antiga e bonita, e portanto estamos-nos nas tintas para o rigor geográfico e para a designação oficial. Para nós, faz-nos sentido continuarmos a chamá-los países escandinavos.
Continuemos. Foi na Escandinávia, e mais rigorosamente na Islândia, que nasceu a jovem compositora e cantora Laufey. Abaixo vemos uma imagem de Laufey, publicada na revista Vogue Scandinavia. A cantante vai carregada de livros e, aparentemente, vai contente.
(Já agora um aparte, a revista chama-se Vogue Scandinavia, e não Vogue Nordic Countries. É uma questão de bom gosto)
Nos últimos tempos, Laufey tem ido de sucesso em sucesso, com salas de concerto cheias por todo o mundo. Mas não é a propósito disso que dela falamos, mas sim por ela ter criado em 2022 um Book Club.
A rapariga já ganhou um Grammy, é imensamente popular (não em Portugal), mas ainda assim, dedica o seu tempo a ler livros e a fazer com que outros os leiam. No site abaixo, podemos ver o que Laufey lê, e assim perceber, que são livros bem interessantes:
Apesar de ser uma rapariga destes tempos, nasceu em 1999, Laufey cultiva o ancestral hábito de ler livros, e mais, cultiva também o hábito de tentar influenciar outros a que também o façam.
Noutros tempos, não era invulgar que as mais célebres e populares figuras musicais, lessem e falassem de livros. Sabe-se que o livro favorito de Mick Jagger é “Margarida e o Mestre", um romance de Mikhail Bulgákov que narra a visita do diabo a Moscovo na década de vinte do século XX, e acerca do qual o Rolling Stone muito falou.
Sabemos também quais os “9 Books Paul McCartney Thinks Everyone Should Read”, sendo que da lista do Beatle constam clássicos da literatura como Shakespeare e Dickens: (https://www.barnesandnoble.com/blog/9-books-paul-mccartney-thinks-everyone-should-read/)
O livro favorito da Madona é “Travessuras da Menina Má” de Mario Vargas Llosa. David Bowie fez saber ao mundo quais julgava serem os 100 livros mais importantes, entre os quais se encontram as entrevistas do pintor Francis Bacon, “Madame Bovary”, “A Ilíada” e a poesia de T.S. Elliot: (https://www.bowiebookclub.com/david-bowies-100-most-influential-books)
Em síntese, todos estes muito populares músicos, tal e qual como Laufey, usaram a sua fama e influência para que outros leiam os livros que a eles os influenciaram e inspiraram. Fizeram precisamente o oposto do que faz a maior influencer de Espanha, a já referida (e à qual não íamos voltar a referirmos-nos) María Pombo.
Há pouco insistimos tanto no termo Escandinávia, também porque é nessa região da Europa, o sítio onde mais se lê livros. Se virmos o mapa abaixo, reparamos que por esses lugares, 70% das pessoas leem pelo menos um livro por ano, enquanto em Portugal essa percentagem se reduz a uns escassos 42%, o que não sendo o valor mais baixo da Europa, ainda assim anda lá por perto.
Entre outras coisas, o que o mapa acima nos diz, é que o facto da islandesa Laufey ler livros não é um acaso, pois ler é algo muito enraizado na cultura da Islândia e dos restantes países nórdicos (o mesmo seria dizer, dos países escandinavos).
Os nossos leitores geograficamente mais picuinhas, já hão de ter reparado que o mapa acima não incluiu a Islândia, mas para esses, nós informamos que os números desse país são praticamente iguais aos dos restantes países da Escandinávia.
Por curiosidade científica, fomos ver que livros terão lido os nossos mais célebres e populares músicos, aqueles que em termos nacionais, equivalem ao que Mick Jagger, Paul McCartney ou a Madonna são em termos internacionais. Assim de repente, escolhemos três das maiores lendas da música ligeira nacional das últimas décadas, a saber, Tony Carreira, José Cid e Marco Paulo. São eles os alvos da nossa pesquisa.
O resultado da pesquisa foi inequívoco, não descobrimos nenhum site, artigo ou entrevista, em que qualquer um dos três cantantes falasse de livros, a não ser dos próprios, ou seja, daqueles que escreveram (ou alguém escreveu por eles) em que nos relatam as aventuras e desventuras das suas vidas. Em resumo, os únicos livros de que eles falaram, foram os das suas biografias.
Perante esta pesquisa de elevado rigor científico, podemos concluir que ler livros é algo que em Portugal, ao contrário do que sucede na Escandinávia, não está muito enraizado nos hábitos de grande parte da população.
Posto isto, façamos uma pausa nesta dissertação e ouçamos Laufey a cantar:
Dissemos há pouco, que a nossa pesquisa foi de elevado rigor científico, e com certeza, os nossos leitores cientificamente mais picuinhas, hão de ter imediatamente assinalado a nossa total falta de rigor científico. Para esses, e não só, vamos agora trazer a ciência a sério para esta nossa conversa.
Um estudo publicado há umas semanas pela revista “iScience” (https://www.ucl.ac.uk/news/2025/aug/proportion-americans-reading-pleasure-fell-40-over-20-years), demonstrou que os hábitos de leitura nos Estados Unidos da América caíram 40% nos últimos 20 anos. Os pesquisadores descreveram a magnitude do declínio destas duas últimas décadas, como sendo algo de absolutamente surpreendente.
Jill Sonke, uma das autoras do estudo e professora da Universidade de Stanford, sugere algumas explicações possíveis para esta queda nos hábitos de leitura dos norte-americanos: ”Pode ser devido ao aumento do uso das redes sociais e de outras tecnologias, ou ao aumento do tempo gasto no trabalho devido à pressão económica". No entanto, Jill Sonke, diz-nos ainda uma outra coisa: “a leitura pode melhorar a saúde e o bem-estar".
Normalmente, não pensamos na leitura como um hábito saudável, mas é-o, salienta Sonke: “Tal como fazer exercícios ou cuidar da alimentação, a leitura pode-nos ajudar a melhorar a nossa saúde.”
Abaixo uma foto da vila alpina de St-Pierre-de-Clages, onde no mercado local há bancas que são livrarias ao ar livre. Fica na Suíça e não na América, nem na Escandinávia.
Ora bem, andar ao ar livre e ir ao mercado comprar frutas e vegetais para mais tarde os comer, são certamente actividades que melhoram a saúde e o bem-estar, mas ler também o faz? É coisa que nunca tínhamos ouvimos dizer!
Um estudo publicado na revista científica “PLOS One” (https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371%2Fjournal.pone.0308475), chegou à conclusão inequívoca de que ler ficção reduz consideravelmente a ansiedade, melhora a qualidade do sono e a satisfação vital. Foi tudo isso que sucedeu com o grupo de participantes nesta pesquisa, que era constituído por 2.800 estudantes.
Mas há uma outra novidade, a saber, ler emagrece, isto segundo uma pesquisa científica encomendada pela cadeia de livrarias britânica Borders, onde se comparou as calorias necessárias para se ler diferentes tipos de livros.
Sem fazer nada, o corpo humano gasta uma caloria por minuto, contudo, os cientistas descobriram que a leitura de livros de aventuras, com sexo e acção, podem fazer-nos gastar até o dobro dessas calorias. A razão para tal, é que as narrativas rocambolescas levam o corpo a produzir mais adrenalina, o que reduz o apetite e queima calorias. "A ciência é clara", disse uma porta-voz da Borders, de facto ler emagrece.
Abaixo uma foto de uma livraria na pequena cidade galesa de Hay-on-Wye.
Por tudo o que aqui fica dito, é um facto que a María é uma má influencer, e ler emagrece. Por assim ser, estão dadas as repostas às questões que formulámos no título deste texto.
Poderíamos terminar por aqui, mas deixámos para o fim, um “final twist”. Se voltarem ao mapa que acima apresentámos, e se o olharem com toda a atenção, repararão que não é nos países escandinavos, o sítio da Europa onde mais se lê, mas sim na Suíça.
Lá bem no centro do velho continente, há um pequeno país em que 81% da população lê pelo menos um livro por ano, é, como já dissemos, a Suíça. Estamos em crer, que até mesmo ao mais geograficamente picuinhas dos nossos leitores, este surpreendente facto lhes tinha escapado.
Já agora, o Japão, de que falámos logo no início deste texto, apareceu novamente na videoclipe da Laufey, que foi gravado em Tóquio.
Comentários
Enviar um comentário