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Deuses antigos vivem perto de nós (uma variação)



No nosso texto de ontem falámos de alguns mitos da antiguidade clássica e dos deuses, semideuses e heróis que neles aparecem. Ontem falámos da Fama (ou Rumor), de Cronos, de Eros e Psique, de Leda e o cisne, de Minerva e de Atlas.

Ontem falámos de todos esses seres e de onde podemos encontrar obras de arte que os representam: https://ifperfilxxi.blogspot.com/2025/12/deuses-antigos-vivem-perto-de-nos.html

Hoje repetiremos a dose, só que as representações artísticas desses seres a que recorreremos serão outras, dando-nos uma perspectiva distinta, do que antes vimos.

Comecemos então pela Fama, ou Rumor, como era denominada pelo poeta Ovídio.
A Fama habitava no centro do mundo, nos confins da terra, do céu e do mar. No seu palácio com milhares de orifícios, captava tudo o que se dizia e propalava-o de imediato.

É frequentemente representada com asas e acompanhada por uma trombeta ou corneta, pois os boatos, os mexericos, os escândalos e as falsas notícias, fazem-se sempre anunciar de forma estridente e com grande alarde.

Mais abaixo a imagem da obra “Uma Personificação da Fama", de Bernardo Strozzi, uma pintura barroca do século XVII pertencente à National Gallery de Londres, que retrata uma jovem alada que segura numa mão uma trombeta dourada, que simboliza a boa fama, e que na outra mão segura uma charamela de madeira, um antigo instrumento de sopro de madeira, que simboliza a má fama e a infâmia.

A alegoria é simples de compreender, a Fama é uma divindade caprichosa, pois tanto se pode dedicar a anunciar aos quatro ventos o nosso valor, prestígio, honra e glória com a sua trombeta dourada, como pode igualmente enxovalhar-nos, caluniar-nos e humilhar-nos com a sua charamela de madeira.

A Fama não é uma deusa moralista, mas sim uma que amplifica o que se diz por aí, o que tanto pode ser uma bênção, como uma maldição. Bem pensava o poeta Antero de Quental, quando numa quadra da fama desdenhava:

Não busco n'esta vida glória ou fama:
Das turbas que me importa o vão ruído?
Hoje, deus... e amanhã, já esquecido
Como esquece o clarão de extincta chama!


Falemos em seguida de Cromos, que os gregos antigos viam como o titã do tempo, aquele que continuamente devorava os seus filhos: os segundos, minutos, semanas, meses e anos.

O apetite de Cronos (o Tempo) era insaciável, pois avançava sem quaisquer limites, tudo arrastando e devorando à sua passagem.

Não há representação mais expressiva da figura mitológica de Cronos, do que a pintura abaixo de Francisco Goya, que se encontra no Museu do Prado em Madrid. É uma obra de 1819, que se intitula “Saturno devorando um filho” (recorde-se que os romanos chamavam Saturno a Cronos).



Cronos (Saturno), ou seja, o tempo que passa e nunca regressa, surge-nos de um modo menos brutal do que no quadro de Goya, num poema de Konstandinos Kavakis (1863-1933).

Konstandinos Kavakis é o maior poeta grego moderno, ainda que tivesse nascido e vivido toda a sua vida em Alexandria, no Egipto. Kavafis pertencia à numerosa colónia helénica que ao longo dos séculos floresceu nessa quente cidade mediterrânea. Em vida não publicou nenhum livro, os seus poemas eram distribuídos em folhas soltas ou, então, publicados em revistas.

Aqui fica o poema “O sol da tarde”, que nos fala do tempo que passa:

Este quarto, como o conheço bem.
Agora alugam-se quer este quer o do lado
para escritórios comerciais. A casa toda tornou-se
escritórios de intermediários, e de comerciantes, e Sociedades.
 
Ah neste quarto, nada me é estranho.
 
Perto da porta por aqui estava o sofá,
e diante dele um tapete turco;
ao pé a prateleira com duas jarras amarelas.
À direita; não, em frente, um armário com espelho.
Ao meio a sua mesa de escrever;
e três grandes cadeiras de vime.
Ao lado da janela estava a cama
onde nos amámos tantas vezes.
 
Estarão ainda os coitados nalgum lugar.
 
Ao lado da janela estava a cama;
o sol da tarde chegava-lhe até metade.
 
… De tarde quatro horas, tínhamo-nos separado
por uma semana só… Ai de mim,
aquela semana tornou-se para sempre.
 
É em Estocolmo, no Museu Nacional, que podemos encontrar o quadro “Eros e Psique” de Jean François Lagrenée, uma obra de 1767. Na imagem vemos o momento em que Psique, à luz de uma lamparina, vê pela primeira vez o rosto de Eros.



Psique era bela, todos a vinham contemplar, sendo mais venerada do que a deusa do amor, Afrodite, que, indignada por uma mera mortal receber tantas honras, decidiu vingar-se.

Afrodite pediu ao seu filho, Eros, que atingisse Psique com uma das suas flechas, de modo a que esta se enamorasse por um monstro. Contudo, Eros apaixonou-se por ela e decidiu não cumprir o que a sua mãe lhe tinha pedido.

Pela noite, oculto no escuro, Eros amou Psique, recomendando-lhe insistentemente, que jamais tentasse vê-lo. Numa noite, enquanto Eros dormia, Psique pegou numa lamparina para vislumbrar o rosto do seu amado. Porém, deixou que uma gota de óleo caísse da lamparina, o que fez com que Eros despertasse sobressaltado, partisse, e não mais voltasse.

Vejamos agora algumas estrofes soltas, de um longo poema que Sophia de Mello Breyner intitulado “A Eros”, esse a quem também chamam Amor:

Os Deuses me enviaram o mais precioso dos presentes;
tornei-me anfitriã do mais ilustre visitante,
requinte dos requintes,
altivo e radiante,
poderoso Amor.

….explodes em meu peito,
expandes minha vida para além de qualquer margem.

Se tu partires, não serei nada,
apenas ermo e vão castelo
onde a Psique, desconsolada,
chora a perda do Ser mais belo.

Eu te percebo, às vezes, árduo e cruel,
mas, ainda assim, te quero em minha vida.
Ainda que me negues tuas sombras neste mundo,
ainda que me cegues e exponhas minhas feridas,
ainda que não me dês nada, nada mais
senão o delírio de tua presença,
eu quero estar contigo.

“Júpiter e Io” é um quadro de 1532 do pintor italiano Antonio Corregio. A história é a de Leda e a de Zeus, que se disfarça de cisne para a deduzir. Os romanos deram a Zeus o nome de Júpiter, e a Leda o de Io.

O mito de Leda e o cisne conta-nos a história de uma rainha, Leda, que foi seduzida por um cisne, que na realidade era Zeus, o rei dos deuses do Olimpo, que por ela se terá apaixonado.

Leda e o cisne é um mito que nos fala de desejo e violência, assim como da exploração do corpo, do erotismo, da carne e da vulnerabilidade humana.

Leda resiste indefesa aos avanços do cisne, cujo longo pescoço Freud via como um símbolo fálico. O cisne avança ávido pelas ancas, pelas pernas, como se avançasse sobre uma presa. Leda vacila mas cede. Vem-lhe um tremor e ela é como uma muralha vencida, uma torre que arde, pelas chamas consumida.

Leda foi possuída pelo saber e pelo tremendo poder de Zeus. Por fim, tendo consumado o acto, o cisne abandona-a, saciado e já de bico lasso.

Aqui fica um poema do poeta irlandês W.B. Yeats, vertido para português por Jorge de Sena:

Um golpe: asas ainda adejam sobre a presa
Que é ela vacilante, acariciadas ancas
Por membranas sombrias, bico agarra as tranças:
Segura ele contra si o seio sem defesa.

Com dedos aterrados, afastar-se a glória
Que se adentra emplumada às pernas já se abrindo?
Neste rompante branco, o corpo, pressentindo,
Do estranho coração pode ignorar vitória?

Um tremor dos lombos nesse instante gera
A muralha abatida, o tecto e a torre ardendo,
Agamémnon morto.
Enlaçada como era,
E do sangue brutal dos ares possuída,
Juntou ele o saber ao poder tremendo,
Antes de lasso o bico a abandonar caída?



Minerva é um símbolo de virtudes como a Justiça, a Temperança e a Força. A deusa é associada à sabedoria, à estratégia e às artes, o seu "triunfo" simboliza a superioridade do intelecto e da virtude, e a vitória da razão, da moralidade e da ordem sobre a ignorância e a ruindade.

Minerva, a quem os gregos antigos chamavam Atena, aparece-nos na obra mais abaixo, como que se erguendo para os céus, envolta no seu manto azul. Ao centro, alguém dorme, é Júpiter, Zeus para os gregos. A pintura é de René-Antoine Houasse (1645-1710) e pode ser encontrada no Palácio de Versalhes.


Zeus (Júpiter, para os romanos) dorme, é noite, sendo que, existia um dito popular, em que se dizia, que a coruja de Atena só levanta o seu voo ao anoitecer.

A coruja de Minerva (Atena) só levanta voo ao anoitecer (ao entardecer, ao crepúsculo), significa que a sabedoria e a profunda compreensão dos acontecimentos, só chegam após esses mesmos acontecimentos serem passado.

A reflexão e a análise, assim como a filosofia, exigem tempo e uma visão lenta para que a sabedoria possa ser alcançada. Ninguém é sábio no calor do momento, só quando o dia finda, após a acção, é possível compreender o significado do que sucedeu. A coruja de Minerva (Atena) levanta o seu voo apenas quando as sombras da noite se reúnem, quando a luz decai.

Felizmente que a noite sai
Ainda bem que há névoa por aí
Estou contente se a luz se esvai
E uma sombra invade este lugar
Se um amanhã perdido for
Metamorfose de horror

As trevoas não vão demorar
Estou contente se a luz se esvai
Se o céu se fecha sobre nós
Desprende-se uma rouca voz
Se o amanhã perdido for
Overdose de pavor
Directa sim eu declaro morte ao sol
Directa não e a quem o apoiar
Directa sim eu declaro morte ao sol…

Atlas era um titã, condenado por Zeus a sustentar os céus para toda a eternidade. Atlas é alguém, que carrega o mundo inteiro às costas, como tantos de nós.

A pintura abaixo é do pintor alemão Lucas Cranach, data de 1537, e pode ser vista no Museu Herzog Anton Ulrich, em Brunswick, que de comboio, fica a cerca de duas horas de Berlim.



Na pintura podemos ver Hércules a aliviar Atlas do fardo dos céus suportando por uns instantes a esfera celeste, enquanto o último, exausto, se senta e repousa um breve momento.

Francisca Camelo, nascida no Porto em 1990, é uma poeta e uma diseuse. Tem várias obras publicadas em Portugal e no Brasil. Tem também obras traduzidas em espanhol, grego, francês e alemão.

Em 2020 publicou um livro de poesia intitulado A Importância do Pequeno-almoço, que dedicou à sua mãe, que como Atlas suportava nas costas o peso do mundo. Para finalizarmos este texto sobre mitologia, aqui fica um dos poemas desse livro:

parada nos semáforos
a minha mãe fumava
estacionada ao fundo das memórias
o último cigarro que a vi fumar
ainda me recordo
a outra mãe
estaria perto de morrer
e a minha
fumava
com a angst de quem foi
menos amada do que o merecido
mesmo assim carregava as queixas
fraldas contas o peso transladado
degrau a degrau
o olhar dela inolvidável
naquele espelho de retrovisor
(só uma matriarca saberia
enterrar outra)
minha mãe-atlas
eu via
e não sabia ainda nada
sobre mitologia grega
mas um dia vais entender
ela repetia
e só quando anteontem
me sugaram pelo umbigo
qualquer dose de indizível
(dói sempre quando decides
tirar algo enroscado na carne)
fazia um tornado em berlin
eu tinha saído na mesma à rua
e chorava agora para dentro
naquela maca improvisada
a christina dizia, o corpo tem memória
e é do umbigo que vem
a saudade do ventre
as árvores caíam lá fora
raízes monstras inteiras sugadas
do chão e a minha mãe
a dois mil e oitenta e quatro
cigarros fumados
naquele renault clio bordeaux
no ano de mil novecentos e noventa e oito
quando eu não sabia ainda
de mitologia ou que a mãe
deixaria de fumar pouco mais tarde
eu ainda não sabia
da vénus de milo da carla
desenhada a sangue menstrual ou da
mulher turca abraçando o filho asmático
na piscina pública de kreuzberg
mas podia adivinhar já
alguns semáforos ininterruptos
a memória do umbigo, esta solidão hereditária:
cromossoma X.

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